terça-feira, 18 de novembro de 2008

Infiltrado na Orquestra

Studio Sp recebeu visita da Orquestra Imperial. Fui nos dois dias, sem ingresso mesmo, esperei para começar o show e entrei. Sexta e sábado.

Valeu demais.

http://br.youtube.com/watch?v=U1yXDoRWXdQ

Repara na Nina Becker e na Talma de Freitas quebrando tudo.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Novos amigos imaginários


Ok, depois de um belo tempo, vambora.

Pretendo fazer um curto hoje. Baseado na frase que o Júnior, bluesman e sábio amigo meu, me contou hoje. Ele viu num filme, que era uma merda, e a frase passa despercebida no meio da película.

"Deus é o amigo imaginário dos adultos."

Minha opinião: muito foda essa.
Porque a conceituação de Deus passa justamente por isso. Uma construção individual de cada pessoa, um confidente, um espectador. Um motivo para nunca estar sozinho.

Eu acredito que o ser humano, mais do que pavor de ficar sozinho, tem uma dependência fortíssima de ter uma platéia. Esse, aliás, é o tema deste blog. É uma convicção inabalável que tenho: as pessoas dependem de saber que sua vida é uma história que está sendo contada, e que valerá a pena ser ouvida. Seja uma comédia, um drama, aventura, pornozão ou thriller, sempre é uma história (ou estória, como era antes, com mais fantasia e menos compromisso com a veracidade). O pior não é viver uma vida ruim, é viver uma vida não contada. Daí cê me diz, "nem todo mundo quer contar pra alguém." O ponto é esse: na grande maioria das vezes a pessoa conta para si mesma. As pessoas sempre tentam imaginar as melhores cenas que viveram em terceira pessoa. Pode reparar, sempre que você imagina um momento de glória seu, imagina em terceira pessoa. Ao contrário dos de vergonha. Estes você imagina em primeira pessoa, com todas as pessoas te olhando, aquele superego com o olhar de reprovação fixo em você.

Só que a gente é moderno; se você está lendo um blog, ou seja, é uma pessoa mais nova e curte o lance de ser "racional", "adão o caralho, foi um big bang", provavelmente tem toda essa vibe de alguém te ver mas não acredita em Deus. Quando eu era adolescente o lance era falar um "eu acredito em Deus, mas não Deus como todo mundo acredita, é um Deus meu, uma energia, blablabla" (imagine-me falando isso com voz imitando uma menina fútil). Tanto faz, dá na mesma. A função na sua mente é a mesma, ser uma pessoa que está lá para te ver como um personagem principal. Que se relaciona primeiramente com você (alguém se imagina como o coadjuvante de uma história? se sim, me avisa, ou a seu terapeuta). O resto do mundo é um assunto. Um amigo imaginário.

Com a chegada da Internet as coisas só ficam mais claras se você concorda com meu ponto de vista. A graça de ter um blog é ter mais e mais leitores. Porque aí o seu público fica anônimo, perde uma cara e passa a ser mais como Deus: indefinível. Quando tem poucos leitores - como eu - não está escrevendo para o mundo, está contando uma história de uma só vez para todos os que te conhecem.

Taí. Deus é o amigo imaginário dos adultos, e o blog é quase o mesmo. Só que a "oniciência" deste depende da sua popularidade.


p.s.: Achei a frase tão boa que o porra do roteirista podia ter feito só a frase e mandado para algum jornal, em vez de fazer um filme merda.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

O sonho de mil gatos - parte 1: uma despedida


Tive de novo um sonho com gatos.
Eu já tive mais de 100 gatos na vida. De uma vez só, 32.

Sim, sei o nome de quase todos. Se visse qualquer um deles na minha frente agora, te diria o nome sem pensar duas vezes.

Eu fui criado com os gatos e isso, definitivamente, determinou o jeito como lido com as pessoas. Até o modo como faço carinho nas pessoas é como faço carinho em gatos.

O meu humor, as minhas patadas, a vontade de me isolar às vezes, o grude em outras.

E teve um que era muito do bem. Eu amava de verdade, percebo mais claramente hoje. O Ferdinando.
A mãe dele teve os filhotes (sempre 5 por vez, é algum tipo de metáfora dos gatos: sempre nascem 5) no quintal do vizinho e resolveu trazer pra casa. Pegava com a boca no cangotinho de cada um e vinha trazendo.

1, 2, 3, 4. Nisso o tempo fechou daquele jeito que acontece nas chuvas mais fortes.

Começou uma tempestade. Bíblica. Ela acaba que deixa um no meio do caminho. A gente percebeu, correu lá no quintal.

Tá lá o gato, com o nariz da cor do pêlo (branco).
Gelado. De verdade, gelado, mais que qualquer morto.

Pega o gato. Põe pano com água quente em volta. Tudo com aquele Pai Nosso silencioso que sempre embala a mente nessas situações. Esquenta, esquenta e, de repente, o que eu esperava: volta à vida.
"Esse aqui, que voltou da morte, vai chamar Ferdinando".

O Ferdi não miava. É engraçado, Deus gosta dessas figuras de linguagem. O Ferdi não miava, não ficaa bravo, nem muito contente. O gato voltou à vida, mas o coração sempre permaneceu com aquele gelado.

Ele cresceu, sossegado como só ele. Ao contrário dos outros machos, não ficava dias fora e voltava alquebrado como se vindo de um samba sem fim. O Ferdi gostava de estar lá em casa, não fazia questão dessas emoções.


Todo gato um dia se vai. Para a vida ou para algo depois disso.
E um dia o Ferdi foi. Não vi mais, mas eu sabia que não ía mais voltar.

E hoje sonhei com ele. O encontrei e a cara dele era aquela que nunca saiu da minha memória.
Só que... eu não sabia o nome dele. Olhei, conversei como quem encontra algum rosto conhecido e não liga o nome.

Acordei hoje, fiz mil coisas. De repente tô aqui no serviço, ligo o iTunes. Algo no fundo da cabeça me fala "Cartola".
Vou ouvindo e começa essa música.
E minha boca fala na hora a palavra que me faltava durante todo o dia: Ferdinando.

Deixe-me ir preciso andar,
Vou por aí a procurar,
Sorrir pra não chorar
Deixe-me ir preciso andar,
Vou por aí a procurar,
Sorrir pra não chorar

Quero assistir ao sol nascer,
Ver as águas dos rios correr,
Ouvir os pássaros cantar,
Eu quero nascer, quero viver

Deixe-me ir preciso andar,
Vou por aí a procurar,
Sorrir pra não chorar
Se alguém por mim perguntar,
Diga que eu só vou voltar
Depois que me encontrar

http://www.youtube.com/watch?v=WQZF0vjjNhc

Esta é a música que me vinha na cabeça quando imaginava o dia em que ele foi embora. E não só dele, essa é a música que para mim representa a despedida de todo gato.

Porque todo gato um dia se vai.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Dedos, o horóscopo


Eu outro dia entrei numa viagem de dois segundos: um horóscopo (ou classificação psicológica, dá no mesmo) em que as pessoas fossem classificadas segundo os dedos da mão. É um pouco mais complicado porque você restringe a pessoas a 5 tipos, em vez dos tradicionais 12. Mas tem o seu charme. Quer ver? Vamos lá:

Polegar: você é definitivamente uma pessoa positiva, e geralmente oposta a todos os demais. Os outros fazem o volume, mas você é aquela minoria fundamental pra qualquer projeto ter uma boa "pegada". Problema, você também é levemente menos articulado que os outros.

Indicador: se acha o mais útil porque sempre assume a liderança. Claro, você é a primeira escolha quando um serviço precisa ser feito. Seu problema é o perfil acusatório. Ao mesmo tempo em que é bom para apontar caminhos, também é dado a acusar.

Pai-de-todos: em algum tempo pode ter tido outro papel, mas hoje seu lance mesmo é falar aquilo que os outros não podem, aquele sonoro "Aqui pra você, ó!". Você é a válvula que libera os sentimentos negativos. Curiosamente, é também o que tem o maior alcance de todos. Ah, detalhe importante: vida sexual intensa e 'profunda'.

Anular: você é o outsider. Misterioso, as pessoas não sabem qual é a sua geralmente. Mas o fato é que se tem alguém que tem a ver com um compromisso é você. O mais ligado a relacionamentos, parece até que foram feitos para você.

Mindinho: o menorzinho, subestimado e querido. Carismático que só, é fundamental quando o assunto é ajudar pessoas a fazerem as pazes. O que o chateia é que a maioria das pessoas não o levam a sério.

É engraçado esse lance de estereótipos. Há uma chance de você se identificar com um deles, nem que seja só em determinados momentos de seu dia.
Depois vou fazer horóscopos de outras coisas mais inteligentes, prometo.
Agora me diz: qual dedo é você?

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O carnaval e o acaso dentro de mim.


Estava conversando hoje sobre "filhos planejados" com a Bia. Comçamos a falar sobre o conceito, e sobre o que as pessoas dizem dele.

Já reparou que as pessoas falam esse tipo de coisa, "meu irmão não foi planejado", "eu fui planejado pelos meus pais", etc.?

Se fosse só o falar, sem nenhum julgamento, não teria problema. O foda é que percebi que o "planejado" tem conotação positiva, e o "acidental" é negativo. São os filhos de "camisinha furada", de "pílula de farinha", do carnaval e até da Copa.

Daí, só hoje me dei conta de uma coisa: eu sou um não-planejado e adoro isso. Não só porque eu sou um, fui descobrir mais tarde isso. Mas eu sempre achei que filho de verdade é o que vem não por plano, mas porque sim. É ter seu momento único, independente de como ía a vida dos pais.

Imagina isso: você é um plano dos seus pais. Primeiro eles planejaram a casa, depois escolheram um carro, depois encomendaram você. How dumby. Meu, como você vai ter qualquer perspectiva se nem começou fazendo sua sorte, é só um plano? Você achou que tinha uma vida quando nasceu, mas está só seguindo um papel. Sim, eles poderiam escolher que você não valia a pena, podiam escolher mudar de carro, mas mediram prós e contras e te fizeram. Nossa, isso sim seria um trauma para mim.

Bom, como bom escorpiano, sou filho do carnaval. Não tem escorpiano que não tenha essa vibe de ser algo fora dos planos. Elemento imprevisível, não regrinha cagada. Escorpiano nasce do momento do ano que mais lembra o sexo, a festa, o coração acelerado. Eu fico fazendo esse cálculo às vezes, vendo se o signo tem a ver com o momento do ano que aconece 9 meses antes.

Meu irmão, por exemplo. Meu glorioso irmão. Ele é filho da Copa de 70. Que do caralho isso! O Brasil vive o momento mais glorioso de sua história até então, se consagra não ao vivo mas a cores a maior nação do futebol e, desse momento, dessa catarse, dessa festa, o resumo é uma pessoa. Não tinha como não ser do bem, não tinha como não ser um cara excepcional, que se destaca na multidão.

Tem mais. Vale lembrar que eu acredito em alma. A gente pode encomendar um monte de coisas, mas nunca achei que encomendar uma alma pra chegar num corpo fosse algo minimamente condizente com todo o lance espiritual. Um corpo é o resultado da soma de genes de duas pessoas, mas a alma é única, não uma mistura de dois. É algo maior, que vem de Deus (ou qualquer nome que você queira dar, se é que acredita nisso; eu não sou nem um pouco grilado com ateus e afins, me grilo mais com quem acha que sua visão é a única válida), e que eu saiba o cara até atende pedidos, mas não com hora marcada.

Um filho planejado não tem essa mistura de caos em sua essência, essa entropia. Não tem a imprevisibilidade que é a matéria-prima de pessoas como Einsten, Pelé ou Ali. É uma receita de bolo que está crescendo bem, obrigado, tudo dentro dos planos. Estará pronto às cinco, se você quiser um pedaço.

O resumo é: você não precisa ser um filho do acaso para ser especial. Mas nunca se sinta superior por ser planejado. E nunca, e agora eu digo nunca mesmo, considere alguém inferior por ser acidental.


O acaso é o que muda o mundo. A norma é o que o torna o mesmo de sempre.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Jazz e genialidade


Arrisco a dizer que não há, para a mente do criativo, música melhor que o jazz.

É sobre o ritmo, sobre sempre ter uma nota a mais. Que se encaixa melhor que todas que foram colocadas até agora. É sobre continuar, seguir sem saber onde a novidade vai parar.

Eu sou suspeito para falar (ou, segundo alguns, suspeito em todas as ocasiões) mas acho que isso é mais verdade quando a gente fala do jazz bebop. Não tem trilha sonora melhor pras grandes idéias que uma batida acelerada do Bird e do Dizzy.

O swing também tem suas maravilhas - e muitas. Acabei de ouvir Sing, sing,sing, com a orquestra do Benny Goodman. Música fenomenal. Escrevendo isso com o pé a 127 bpm, acompanhando a pegada. Só o clarinete nos compreende, gritando e avisando "estamos loucos".

É engraçado como o cérebro parece um carro que, depois de muito tempo, recebe gasolina não-adulterada e começa a correr que é uma maravilha. Se jazz fosse mais disseminado, acabava o uso de cocaína nesse mundo.

E eu sento aqui, pra ter 127 idéias por dia, e quase nunca isso acontece. Daí chego hoje. Coloco no musicovery, jazz década 50 e anteriores. Pronto. Conceito do institucional da empresa, materiais de cross de um relançamento, fazendo cotação de preços de fotos pra minha cunhada, lendo a entrevista do Mutarelli na M&M, lendo e postando twitter, tudo ao mesmo tempo e ainda me sobra espaço pra sorrir e contar piadas. Escrevendo este post ao mesmo tempo, é claro.

O engraçado é que acho que comecei a gostar de jazz mais ou menos na mesma época em que decidi que a publicidade ía ser a minha obrigação diária pelo resto da vida. Pra quem não sabe a história: eu era um moleque inteligente na escola, e não esforçado. Eu não precissava estudar para ficar entre os melhores da sala. Se eu, por falta do que fazer, estudava, era o melhor.

Mas minha pegada era outra, diferente dos cdf's: eu era o clássico "crânio do fundão". Aquele cara que toca o puteiro com todos os marginais das últimas cadeiras de cada fileira, e na hora da prova garante que todos os caras que tavam lá pela zoeira iam tiram uma nota no mínimo aceitável. Chegava a fazer 4, 5 provas ao mesmo tempo pra garantir a galera. Era minha verdadeira realização acadêmica fazer o pixador repetente tirar uma nota melhor que a menininha caxias que olhava pra gente com nojinho. Isso pra mim foi o prenúncio da pegada jazzística: um talento que recusa a academia e prefere a boemia.

O lance é que eu não queria escolher profissão nenhuma na vida. Tudo parecia um saco. Engenharia, camisa sempre dentro da calça e calculadora na mão, puta coisa que eu me mataria de tédio na primeira semana. Direito então, nem com muito filme de tribunal pra achar que aqueles semi-coveiros tinham emoção na vida. Medicina... desculpa, mas o Doutor Sara-Tudo perdeu a graça em 15 minutos. Não tinha nada, absolutamente nada que eu quisesse fazer. Eu não queria ter a obrigação de ser sério. Daí veio minha primeira grande idéia, e justo ela me abriu as portas desse mundo: eu poderia arranjar um emprego em que eu passasse o dia inteiro fazendo piadas, pensamentos completamente estúpidos/geniais que tirassem as pessoas do mesmo de todos os dias. Só isso poderia me fazer trabalhar. Todo o resto me parecia tão emocionante quanto trabalhar em um cartório (meu Deus, quantas vezes usei isso como comparação do que é o trabalho menos emocionante de todos?).

Escolhi a publicidade, como quem encontra a única mulher que serve. A diferente de todas.

Daí o jazz. Comecei a gostar quando vi um desenho Tom&Jerry. O Jerry lá, naquele salão com um monte de ratinhos, tocando tudo e mais um pouco naquela bateria. Bebop puro, na veia. Eu senti que aquilo era quase familiar. Aquela festa, o caos, a genialidade - pensando hoje, era um reflexo do que eu via na minha vida. Mas, naquela hora, era simplesmente bom demais, e melhor que qualquer outra coisa. Não havia prisão das letras, que tornavam os rocks e pops algo marcado e sem mística. Havia só o jazz e a sensação de que não havia limites.


Acho que o jazz e a criação se combinaram na minha vida e eu, meio sem saber, encontrei o meu caminho na vida. Bem, trago os dois comigo até hoje. Assim como esse post, que começou só porque eu ouvia uma música muito boa e que eu nem sabia onde e como iria terminar, acabou me resgatando na cabeça quem eu fui e sou. E também onde posso e devo chegar.

Estou no ritmo do jazz. Não podem me segurar.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

A outra língua


Começo desse ano fiz uma viagem.
Minhas primeiras férias desde que comecei a trampar.
Quer dizer, meu primeiro emprego mesmo foi em uma videolocadora, tinha um fliperama no andar de cima. Eu tava no segundo ou terceiro colegial, ía pro trampo depois da aula e ficava até fechar. Era divertido, jantando pizza, ganhando do traficante maninho no Street Fighter, rindo das situações mais insólitas. Lembro duma mulher ligando, meia-hora depois do marido ter passado na locadora, perguntando se el tinha alugado um filme pornô. Voz de preocupada, disse que era uma pergunta muito importante, que da minha resposta dependia o casamento dos dois. Ainda bem que não era aqueles pornozões de traveco, daí o cara tava ferrado de verdade. Eu fiz o que era certo, menti que eu tinha entrado fazia 15 minutos (eu que tinha feito a locação).
Anyway, depois que entrei na facul só trampei com publicidade e adjacências. Comecei a estagiar no primeiro ano, dentro da própria facul. ECA Jr., um tesão de agência (a gente criou esse slogan numas férias). O lance foi que depois que comecei a estagiar lá eu meio que fui emendando uma coisa na outra, um estágio atrás do outro, depois fui pra Tostex, estúdio de design pequeno e responsa, faz o SambaPhoto. Dali pra SitCom e assim foi. Sempre saindo de um trampo para emendar em outro.
Daí esse começo de ano eu bati meu recorde de permanência em um lugar, a Moti, e fui obrigado (provável que legalmente) a tirar férias.
Por coincidência, eu tava com a herança do meu pai, tinha acabado de chegar na minha conta.
Foi minha chance de conhecer a europa. Ou melhor, algo fora do Brasil. Até então, o mais longe que eu tinha ido do Brasil foi uma vez que nadei uns 100 metros pra frente no mar. A viagem começou por Portugal, lugar maravilhoso. Depois peguei um avião da Iberia para Barcelona.

Acredite se quiser, esse é o ponto em que começa o assunto do post.

Barcelona é um lugar legal. Demais, pra falar a verdade. A Cidade tem uma pegada jovem que você já conhece a sensação, mas não sabe de onde. Sair de noite pelas ruas é como andar numa cidade em que estão rolando jogos universitários. é gente jovem pra caramba na rua de madrugada, todo mundo no naipe da balada, todo mundo pronto pro que der e vier. Nessa hora, poucos carros e muitas bicicletas e pedestres. O mais importa, uma cidade com duas línguas: o espanhol e o català. E o català é fantástico. é quase um ramo esquecido da evolução das espécies. Tem gente que fala simplificando (como eu, por exemplo) que é uma mistura de espanhol com francês e um pouco de português. Parece que essas línguas todas têm origem comum e que todas as outras cresceram demais, e o català ficou restrito à região da Catalunya. O mais legal desse mundo internético é que se você quiser, abre agora uma janela do Wikipedia e descobre que eu devo tá falando um monte de bobagens. Mas, entre ser um caxias que pesquisa pra não dar foras e um cara que conta histórias que ouviu das pessoas, eu sou o segundo, graças.
No vôo pra Barna (essa foi outra que aprendi - Barça é o time, Barna é a cidade), peguei uma resvista da companhia e comecei a ler. Redator teoricamente tem dessas, lê tudo quanto é coisa que aparece pra aumentar o conteúdo da cabeça. Tava lá o mesmo texto em 3 línguas: inglês, espanhol e català. Não tive dúvidas. Peguei o texto catalão e comecei a mandar ver. Foi assim que eu aprendi inglês, no ginásio. Pegava livros e livros e ía traduzindo as palavras uma a uma. E lá estava eu no avião, fazendo o mesmo com uma língua que eu nem sabia a sonoridade. Quando chegava alguma palavra que eu não fazia a mínima idéia, comparava com os outros pra sacar. Acredita que depois de um tantinho o texto começou a fluir legal?
Tinha nas histórias dos X-Men um moleque cujo poder era entender, verbalmente ou escrita, qualquer língua. Putsa poder fraco comparado com os outros X-Man, mas a idéia era maravilhosa: o cérebro dele refazia os caminhos de formação das línguas automaticamente.
A brincadeira é essa: isso não é um poder, é uma capacidade nossa. Claro que não nesse nível super-herói. Não dá pra assinar um contrato em russo, com aquelas letras do zangief, e achar que se deu bem. Mas com um pouco de esforço e mente focada você começa a intuir significados.
Isso tanto é verdade que sempre tem aquela palavra em inglês que você não encontra nenhuma tradução exata em português.

Gostei tanto dessa vibe diferente de ler o català que comecei a ler, na cidade, tudo que me aparecia pela frente. Até trouxe umas folhetarias pra cá na volta. A cidade tem uma loja de chocolates imbecil de boa. Um dos folhetinhos que trouxe foi um portfólio de chocolates misturados com diversas coisa. Como ele está nas 3 línguas, vou brincando de aprender. Me dou até ao trabalho, de quando em quando, em procurar um assunto qualquer na Wikipedia e ler em català.

Daí saiu na Vida Simples, se não me engano, uma notinha aconselhando as pessoas a fazerem isso que eu sempre fiz. Pegar textos em uma língua que você não domina e ler o original pra sacar a sonoridade do autor, intuir o significado. Enfim, fazer esse jogo de mímica com a língua estrangeira que tá lá, esperando pra te conhecer. Que nem um estudante de intercâmbio que ama o Brasil mas não conhece uma palavra de português que seja. Fazendo isso, você começa a descobrir os mecanismos de linguagem, entende a relação entre as palavras sem precisar do significado. Você começa a entender o primórdio das línguas, aquele jeito de pensar que já existia no cérebro humano mesmo antes de um homem inventar a primeira palavra.

Já sei o inglês e comecei o francês. Pretendo ainda aprender, no mínimo, o espanhol, o mandarim (sim, eles vão virar potência e pólo cultural, people) e sei lá mais qual.

Mas, independente de qualquer objetivo, nunca vou fugir de nenhum desafio criptografado. Esse é um dos meus hobbies: entender o mundo.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Sonhos e devaneios


Eu sempre tive um negócio de sonhar e saber que era um sonho. Me aconteceu diversas vezes.

Só pra avisar antes, este post vai ter a métrica de um sonho, como muitas indas, vindas, informações desconexas e eu como o centro de tudo (sim, porque são os meus sonhos).

Não lembro quando foi a primeira vez, mas acho que começou a ocorrer depois de uma fase traumática que tive com sonhos. Eu acho que tinha coisa de 6, 7 anos. E tinha pesadelos toda santa noite. Sem brincadeira, todas as noites, em sequência. É, a porra do teclado não tem trema. Mas trema é uma coisa meio onírica mesmo, não tem nada a ver com a nossa realidade. E com esses pesadelos todas as noites, adivinha? Eu desenvolvi "medo da noite". Sim, porque quando se aproximava a noite eu sabia que logo chegaria a hora de eu dormir. E de entrar de novo nos pesadelos. Era começar a novela das sete preu começar a gelar.

Daí, uma bela noite (bela pra carai, acordei suando desesperado) eu tentei dar um jeito do jeito que eu sabia.

Quem me conhece sabe que sou católico. Dos clássicos: aqueles que se entregam a todos os prazeres da carne, vêem o corpo como um templo (a ser altamente profanado), adora o sexo antes do casamento e ao mesmo tempo crê na salvação pelas obras, na existência dos santos. Santos é o meu sobrenome que escondo atrás do Wolvie. Aliás, esse é o perfil de grande parte dos Santos. Eles não era carolas tementes a Deus e moralistas. Eles eram bem pessoas da Vila Madalena. Você sabia da história do Santo que, cristão condenado ao coliseu, ofereceu a outra face ao gladiador e, tendo tomado outra porrada, disse "Jesus pediu preu oferecer duas e ponto", daí caceteou o gladiador até nocautear o cara? Os santos eram assim. Os católicos clássicos são assim. Eu sou um católico clássico.

Como católico clássico (com 6, 7 anos, antes de sexodrogas&rockandroll), minha solução foi: comecei a rezar. Católico "reza". Quem "ora" é protestante. Eu comecei a rezar até onde dava. Rezei, rezei e rezei. Rezei até cair no sono. E, depois de muito tempo, tive sonhos. Eu consegui expurgar os pesadelos. Essa é uma das bases do Cristianismo, a fé vence qualquer mal. Eu venci, e naquela noite sonhei, leve como uma criança que saiu dum campo de concentração.

Acho que foi depois disso que eu percebi que podia saber que estava sonhando. Aconteceu várias vezes, e sempre funcionava quando pintava qualquer pesadelo. Mas aconteceu em outros tipos de sonho também. Eu sabia que estava dormindo.

Recebi um e-mail do Davi sobre isso hoje. Lucid Dreaming. Matéria que saiu na Trip. Tinha mais na matéria, falava também sobre LSD. Esse é um assunto de tal importância que acho que não entrará neste post. Acho, nunca sei como eles vão terminar.

Os meus sonhos têm tido uma importância maior nas últimas semanas. Tenho sonhado coisas legais, que fazem diferença na minha vida no dia seguinte. Jogo joguinhos de carta, tipo magic, e ultimamente tenho a iluminação dos baralhos no sonho e depois monto na vida real. E eles funcionam melhor, acredita?

Daí hoje sonhei com minha primeira agência de verdade. Talvez a melhor de todas, pelo fato de que todos, sem excessão, eram amigos e bebiam juntos. Eu sonhei que estava na SitCom com meu mestre da propaganda, o Lesoba. Esse cara é genial daquele jeito que... sabe quando voc~e conhece alguém que é realmente foda mas sempre que tenta explicar pros outros não consegue transmitir o quanto? É ele.

Sonhei que eu tava na SitCom, que era a agência dele e também uma agência dos sonhos, e ele me falava "Wolvie, preciso de uma assistente de atendimento pra começar aqui, conhece alguma?". Acordei de bom humor, mesmo tendo dormido às 3h e acordado às 8h30 por causa de uma concorrência. Mandei uma mensagem pro Lesoba. Achei profético, fazia um tempão que a gente não se falava. Nos encontramos outro dia numa balada, mas balada é um milhão de pessoas, e eu já tava na minha terceira cachaça. Foi ótimo, ele me falou que sentia fala de redatores como eu, eu disse que o mercado sentia falta de "gênios loucos" como ele. Contei meu sonho na mensagem SMS. Ele respondeu que também sonhava, cada vez mais, com a SitCom. Deu pra sacar que não era o sonhar de dormir, mas o de almejar aquilo de volta.


Hoje eu fui lendo no Twitter os posts do BlueBus. Teve uma pegada legal, eles estão fazendo uma bela cobertura de Cannes este ano. Eu tô cagando pra Cannes. Todo ano é aquela mesma lenga-lenga de publicitários. Eu acho uma cretinisse porque sempre acreditei no que falavam, mas na hora H os fodões das agências mandam você fazer tudo do mesmo jeito que tudo sempre foi feito. Então sei que são otários.

Mas tem gente muito foda no meio. Gente jovem, com idéias fodas e a mente muito cheia de oxigênio. Gente que sabe desse glaglaglá e que vai enterrar um dia esses caras consolidados e encalacrados em sua modernidade de butique. Eu tô falando do Tomás Gonzaga. Ele tá aqui do lado nos meus links, sob a alcunha de Pai Tomás. Visita a cabana dele que é muito melhor que esse meu blogzinho.

Eu li uma matéria legal sobre Cannes. A única que passei do título - ainda bem: http://tinyurl.com/3h6ty4 . Matéria boa. Li e na hora lembrei do Tomás. Óbvio, puta motivo pra puxar um papo com o cara.

E não é que esse lance de sonho sempre volta no meio do nosso dia? Quer ver? No meio da conversa, do nada, comparando minha agência atual e a em que ele está (que é minha anterior) eu solto essa para ele:

"
Mas vou te contar uma: o modelo ideal não é nem o daí nem o daqui: é o da SitCom, minha primeira agência de verdade. Tinha 15 pessoas no total, sendo 4 chefes. Mas lá o conceito comia solto. Não tinha prisão de formato, autoridade de cargo, porra nenhuma. O Lesoba - que era o cérebro da agência e foi meu mentor mór - apostava só em idéias. Quanto mais geniais, melhores. Formato, duração, verba, ele pensava nisso (bem) depois. Era por isso que, mesmo pequeninha, a gente ganhava várias concorrências contra médias e, às vezes, contra uma ou outra grande. Você, delegado, ainda vai trampar com ele um dia. Do mesmo jeito que tua visão aberta te colocou aí, um dia junta você com esse cara em algum projeto. E hoje, um Berlim?"

O texto foi longo, espero que confuso. Mas é isso.

Não vou explicar a piada desta vez.
Como nos sonhos, você conclui.

(uma dica: tem a ver com o sonho e o real, o que na primeira vez aprendi graças a meu catolicismo.)

domingo, 22 de junho de 2008

Esse vídeo mudou minha vida

http://youtube.com/watch?v=UypeE3zTwBs

Parliament. George Clinton. Bootsy Collins.

Foi quando entendi para que meus pés foram feitos. E o que era estilo.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Nós somos o herói


Agora que estou ganhando um pouco mais, me dei o luxo de comprar uns quadrinhos. Não fazia isso desde 95, mais ou menos.

O problema de comprar quadrinhos é que você começa a querer comprar mais e mais quadrinhos diferentes, porque todas as revistas de uma editora estão interligadas e você fica com curiosidade de entender a história por todos os pontos de vista. E com todas as fontes de informação. Isto nem vai ser importante neste post, estou me controlando e comprando só um título por mês, Novos Vingadores, e mais um especial qualquer que saia.

Daí hoje peguei na mão a minha fresquinha Novos Vingadores nº 53. Na capa, Might Thor (ele mesmo: Thor, o deus do trovão), em sua versão reformulada. Mudaram quase nada na aparência, tentaram deixar parecido com o clássico. Nisso, também resgataram um negócio clássico, seu alter-ego Doutor Donald Blake.

Só pra explicar pra quem não conhece lhufas - e isso é importante pra entender o post inteiro - o Donald Blake é um médico, manco, que acha o martelo do Thor numa viagem aos países nórdicos. A partir disso ele se torna o vínculo do Thor com nosso mundo. Quando ele batia sua bengala no chão, caía um raio do céu e ele virava o Thor, foderosasso mór que na real era o mais foda dos Vingadores.

Agora, o ponto todo é o seguinte: sacou a brincadeira do "médico manco"?

O Thor é um personagem da editora Marvel, assim como o Hulk, o Homem Aranha, o Capitão América, o Wolverine, o Demolidor e o Homem de Ferro. Eles são muito diferentes dos personagens da editora rival, a DC Comics. Na DC estão o Super-Homem, o Batman, o Lanterna Verde, o Flash, a Mulher Maravilha e outros mais.

Qual a diferença fundamental entre os heróis dessas duas editoras? Os alter-egos. O que eles são quando não estão salvando o mundo como heróis.

Os da DC são sempre bem-sucedidos, altos, fortes, bem barbeados e, na minha opinião, republicanos. Como heróis, são os caras de capa comprida e sorriso no rosto, cores alegres. Óculos, só como disfarce. Cabelos compridos, uma exclusividade e obrigação das mulheres. Sim, o Batman é a excessão de quase tudo isso, não à toa é o mais profundo de todos. Mas ninguém aqui reclamaria se tivesse a grana, as mulheres e o físico do Bruce Wayne.

Já os caras da Marvel são todos uns outsiders na vida pessoal. O Capitão América era um magrelo fracote que se propôs a uma experiência sem muitas perspectivas. O Aranha era o nerd (e, claro, virgem) da sala de aula, zoado por todos. O Bruce Banner era pior ainda, cientista que não comia ninguém, apaixonado pela filha do general, e quando conseguiu seus poderes foi virar logo o Hulk, que perde no teste de QI pra qualquer chimpanzé, tá quase pelado sempre e é caçado pelo sogrão. O Demolidor era um moleque que tentou fazer uma caridade salvando um velhinho dum atropelamento e acabou cego. O melhorzinho é o Tony Stark, que teve um problema com o coração e só sobrevivia usando a armadura do Homem de Ferro. E pra completar é alcólatra. Resumindo, só cara que se fode.

Daí vem a minha opinião. Os heróis da Marvel não são os super-heróis, mas os alter-egos. Eles são mais humanos que tudo, eles são os caras que salvam o mundo dos alienígenas à tarde e tomam um fora da loira tesuda à noite. Eles são como nós.

Nós que somos mancos, míopes, magrelos e gordinhos, feios, mal-barbeados. Nós somos os alter-egos. E, numa tarde de trampo, num fim de semana, nos descobrimos heróis. Sejamos realistas: os fortões, bonitões, os Beckhans, eles nunca estão lá salvando o dia. É chato torcer pra esses caras. Eles são babacas que só fazem parecer menor quem não é como eles.

O Donald Blake foi reeditado recentemente. Você não sabe, mas deve ser apaixonado por ele.
Bem humano, falhas e defeitos que não chegam nem perto de seu heroísmo. Médico manco genial. Afinal, você é ou não é fã de House?

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Uma sexta-feira 13 como todas as outras


Bom, essa semana foi fogo. Pensei em postar antes, mas nunca sobrava tempo.
E veja bem o seguinte: "tempo" não significa "tempo livre", mas sim "tempo sem nenhum pentelho te chamando a cada dois minutos e todo mundo olhando no seu monitor". Vida de escritório, uma das possíveis causas de extinção da humanidade, segundo a NASA e o Nostradamus.

Sexta é definitivamente o melhor dia da semana. Se você acha que é o sábado, desculpa. Te lembro que o dia seguinte do sábado é o domingo. É um filme drama, começa ok e vai muito bem, mas o final é trágico. Tipo "Um Dia de Fúria". A sexta é tesão porque você trampa "teoricamente" mais leve que nos outros dias porque no fim do dia pára no bar pro happy hour, onde você e todo mundo que você não entende no trampo se entendem em torno de uma garrafa de breja. Eu ainda peço uma Germaninha pra dar sabor pra vida. E o melhor é que o meu dia seguinte é o seu melhor dia da semana, o sábado.

Isto posto, sexta é um tesão. Então, como pegar o melhor dia da (minha) semana e transformar num dia cagado? Pensa comigo. A primeira coisa a se falar de uma sexta-feira 13 é que ela tem vários outros dias do terror (sem nomes tão poéticos pra dar medo): segunda 9, terça 10, quarta 11 e quinta 12. O Terror começa muito antes, amigão.

Não vou nem a pau fazer aquela pesquisa histórica falando as origens do dia, etc., "Jesus foi morto numa", etc. de novo. Quer saber disso, liga na Globo que vai ter reportagem do assunto em todos os programas merda.

A sexta-feira 13 nada mais é o final de uma semana estressante. Só que a galerinha, em vez de ver na sexta a salvação, vê o fim do mundo. As pessoas esperam isso de uma sexta 13. Como as pessoas esperam um dia em 1ª marcha na quarta de cinzas. Dane-se que o fim de semana tá chegando, é um show de gente entrando no trampo em tom apocalíptico, dizendo que o job "deu uma merda fenomenal, temos de achar os culpados". A humanidade tem esse lance com a bruxaria, descobrir quem é a bruxa e virar caçador de bruxa. Aqui tá bem assim, apontam o dedo na cara de um, já começam a preparar a fogueira no segundo seguinte.

Eu não tenho medo de sextas. Antes, tenho medo das segundas. É nas segundas que as pessoas descontam as frustrações do fim de semana. Todo mundo espera se dar bem no fim de semana. Daí o sujeio se fode (ou não fode) e resolve foder a sua semana.

Eu espero que meu fim de semana seja muito bom. Mesmo perdendo muito do meu tempo no sábado resolvendo uma pendência sacana (que virará um post um dia), vou aproveitar como se fosse o último fim de semana da minha vida. Como sempre faço.

Uma boa conclusão seria essa. Se você estiver num filme de terror e morrer na sexta 13, relaxe: você vai chegar no paraíso a tempo de aproveitar o fim de semana inteiro.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

12 de junho

O dia dos namorados, na minha humilde opinião, presta serviço aos contrários.
Se é um dia que “pode” fazer alguma diferença para quem namora, tem muito mais efeito para quem não o faz.
Veja.

Quem namora tem a obrigação institucional de comemorar o dia dos namorados. Dane-se se um dos dois (sejamos sinceros: o homem) não estiver com vontade de comemorar coisa que seja no dia. Aliás, uma negativa ou um mero desinteresse de comemora-lo é motivo para uma briga. Poético, um dia do namorado terminando com dois solteiros.

Já quem não namora, esse é o provável felizardo. Também tem uma obrigação: a de se divertir muito em alguma balada (veja bem, qualquer balada, de livre e unicamente sua escolha). Como você eleva isso à potencia de todos os solteiros, e não de um par que pode não compartilhar seu gosto no fatídico dia, é quase certeza que no dia dos namorados você, nobre solteiro(a), entre numa festa só com gente livre, desimpedida (com a ajuda do álcool, também desinibida) e doida pra não lembrar o que é ficar sozinho.

Por isso eu nego a falta de lógica. O dia não é binário (tendendo ao negativo), é múltiplo.
Não fosse o medo da quebra da tradição moral (dos tempos que pra beijar era estar namorando) ou da tradição econômica (porque não se vende presentes para solteiros, raios), o mundo podia se separar da hipocrisia.

Que se institua: 12 de junho, o dia dos solteiros.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Haikai relâmpago

O palhaço, só
Mais um cara sem graça
No meio dos cegos

domingo, 1 de junho de 2008

Darwinismo em São Paulo


São Paulo não é uma cidade futurista. É atemporal.

No sentido que em São Paulo você não encontra uma predominância da modernidade. Ela está presente tanto quanto elementos "medievais".


Do lado daquele metrô lá, que você pega com a carteirinha de integração, tem a feira.

O metrô: transporte "do futuro", tem muito na Europa, ignora a contrução das ruas e o estilo do terreno pra te levar em uma linha reta. É pago com seu dinheiro virtual, já que você não precisa mais das notas. Basta o crédito. Acho que das 5 à meia-noite.

A feira: tá na raiz da nossa cultura desde lá na Europa. Sem entrada USB e códigos de barras. Dinheiro, só o vivo. Foi por causa das feiras que ele foi criado, me atrevo a dizer. Das 3 às 3 da tarde.


Ali naquela avenida passam os últimos modelos de carro, e as últimas carroças. E naquele poste que vai ser tirado logo que aterrarem os fios tem aquele embaraçado, dos fios de uma pipa. Pipa, de antes de ter fio de eletricidade.


É o Darwinismo, sobrevive o que está adaptado na cultura. Nosso mundo de tendências e hábitos trocados entre milhões de pessoas seleciona o que conta uma história, contradizendo literaturas futuristas. Tem coisa moderna que aparece e desaparece em uma estação. Tem coisa que a gente toma um susto quando percebe que ainda não desapareceu, e que a gente ainda acha legal.


E tem coisa que aparece, parece que não vai vingar e só depois ganha o espaço merecido.

Sim, os graffites. Coisa do começo dos 80 em São Paulo, se não me engano, de 7 anos pra cá se tornou a maior expressão artística da cidade. Aliás, já somos a cidade mais graffitada do mundo. Não tem pra que não. Já que tiraram a árvore e ergueram uma parece, pelo menos vamos botar uma cor. Não é capricho não. Quem aqui não pinta as paredes de casa (de uma cor que não o branco)? Quero que pintem a cidade sim, ela também é minha. Que nem fazíamos com os cadernos: encapar com imagens bem locas aquela capa careta que veio da fábrica.


Pintar as paredes é pré-histórico ou futurista? É pintura rupestre com mais tecnologia ou é o mais puro urbanismo avant-gard?

É atual, e enquanto vivemos esse presente, é atemporal. Como o metrô e a feira.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Nossas amadas

Eu tenho um brother, o Tiagão (que aparece nesse mundo blogger/internético como "ortomante") que me faz companhia no desfrute do maravilhoso mundo das bebidas. O cara guenta muito mais que eu, claro. Mas a gente se diverte em várias baladas.

Ele aprecia mais vodka que whisky, eu prefiro o contrário. Ambos adoramos cachaça. Não sei se ele aprecia demais o sake, mas com certeza muito mais que eu. Sake pra mim tem um gosto realmente estranho. Mas não vou mentir que já tomei um porre uma vez, no Sacolão da Vila, com o Saulo. O Saulo sim é grande fã de sake, e da cultura japonesa em geral. Outro que curte sake é o Jarbão, que também aprecia conhaque, que sempre me pareceu demais uma bebida de coroa. Fora isso, acho que da turma sou o que mais gosta de vinho, coisa que o pessoal acha meio de mulherzinha. Mas dane-se, vinho tem suas sutilezas, de tal maneira que eu até colocaria na categoria da alta gastronomia pela complexidade de paladares. E não vou esquecer da jurubeba, folclórica demais, que me foi apresentada pela Cássia. A mais comum de todas é a famosa "breja", que muitos amam e acho que poucos desconhecem.

O fato é que essas bebidas não são simplesmente variedades de álcool. Se não, não teriam seus adeptos e desafetos. Assim que decidem perder o medo deste "mundo", as pessoas experimentam quase todas, apreciam algumas, detestam poucas e geralmente se apaixonam por uma.

E uma vez dessas teve uma história interessante. Eu tava no Toldo Azul, um boteco da Cardeal que vou há 10 anos, com o Tiagão. Na época (e acho que até hoje) ele tinha como prática pedir uma "vodkinha", como ele carinhosamente chamava sua "companheira" de baladas. Ele sentou comigo à mesa e, para minha surpresa, não pediu a citada. Eu: "e aí, não pede vodka hoje?"

E ele respondeu o que será o tema deste post: "A vodka é uma mulher cruel. Ela te usa, te acaba e você fica com meio que medo dela. Daí ela aparece uma noite de repente, te empurra na parede e vocês tem uma relação explosiva de novo."

Aquilo foi genial. Ele comparou uma bebida com uma mulher, e realmente percebi naquele momento que as bebidas não tem só teor alcoólico, elas têm uma personalidade. Cada bebida é uma mulher com jeito próprio de te agradar, de te tratar, de fazer você feliz e de te ferrar grandão também. Eu comecei um pequeno exercício na época mas, como todas as idéias de que gosto, desapareceu da minha memória. Vou aceitar o desafio de recriar o perfil de cada uma dessas "mulheres" agora.

Vodka: européia malvada, de poucas palavras, te beija agressivamente. Quando você vê, te acaba e te faz dormir na pia. Desaparece sem deixar notícias depois que te usou.

Cachaça: brasilerinha safada e vileira, te agarra e te faz perder a cabeça no primeiro chupão. Sempre sambando, de sandalha baixa, te faz sentir menino.

Vinho: sedutora e inteligente, nada vulgar e muito intelectual. Te faz sentir especial e engraçado, te mostra coisas boas da vida. De repente você dorme e ela foi embora.

Sake: asiática que não fala sua língua, cara de inocente e fala em tons baixos. De repente te derruba na cama e vira um capeta. Faz um baita estrago peo tamanhosinho.

Whisky: sofisticada, uma executiva baladeira com uma pickup. Difícil de engolir a princípio, a única que te entende depois. Refinada, te fode de noite e você está 100% no dia seguinte.

Gin: faz até os experientes se sentirem despreprarados. Mais fácil quando medicamentada com sua tônica. Do caso contrário, fica completamente histérica e te faz achas as outras muito normais.

Cerveja: amiga de amizade colorida, ela não tem segredos para você. Tá contigo no futebol e em todos os happy hours. Perdoa até sua barriguinha. Só te faz mal quando vocês realmente se empenham. Forma uma bela dupla com a Cachaça e com a Tequila.

Tequila: jogadora, adora apostas tipo "1, 2, 3 e vira". Te encontra sempre nas baladas, sempre com alguma brincadeira com limão e sal que te apaga antes de você aproveitar. A vantagem: te agita um monte de minas que adoram ela.

Essas são só as mais clássicas. Não vou lembrar de todas. Convido você que já teve um caso de amor com uma (ou mais) delas a postar o depoimento de seu relacionamento.

Um brinde às mulheres, e às bebidas que as metaforizam.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Minha vida é Shuffle


Tenho um iShuffle, aquele pequeninho. Bonitinho, legal, com um clip preu prender na passadeira da calça. Eu preferia que fosse aquele verdinho legal, mas o prata não faz feio não.

Eu precisava mesmo de algum birinaitezinho preu botar minhas músicas. Sou dependente de trilhas sonoras na maioria das situações em que estou sozinho. Se não minha cabeça entra num loop e eu fico escrutinizando um assunto. Com a trilha sonora eu, pelo menos, mudo um pouco o meu "clima" em relação ao assunto.

Então ganhei o iShuffle do irmão. E ele tem uma coisa que eu gosto muito: a sensação de imprevisibilidade. Eu sempre ouço as músicas no iTunes no shuffle. Sinto que quando a gente ouve um álbum inteiro, nem percebe a mudança das músicas. Eu já conheço a sequência de todos os meus ábuns de cór. É meio monótono (além de meio bobo).

Já quando você ouve no Shuffle não. O Shuffle tem aquele misterinho, aquela emoção que o rádio tem. "Putz, essa é muito boa!", "Nossa, puta tempo que eu não ouço essa" ou até um "Que catso de música é essa?". Tudo coisa muito normal pro mundo de hoje, em que a gente baixa albuns (ou ainda, discografias) completas e nunca ouve tudo. As pessoas gostam de "Rehab", baixam a discografia completa da Amy e ouvem 827 vezes rehab e 2 vezes "You Know That I'm No Good". A solução pra isso é o Shuffle. Você manda ele repor as músicas aleatoriamente e descobre coisas mágicas. Eu descobri cada som alienígena. Teve um dia, sozinho em casa, que ouvi, no meio de um free jazz macabro, uma voz me falando "There are other worlds, that you don't know, and they wish to speak with you". Foi foda. Tipo de emoção que meu iShufflezinho sem display me traz.

Outro jeito bem legal de usar o iShuffle é ir apurando ele, música por música, até ter aquele 1 Giga perfeito para qualquer situação.

Daí fiquei pensando nisso outro dia, nessa imprevisibilidade do iShuffle e por que eu prefiria muito isso até a um iPod normal. Juro que não sei se tem shuffle num iPod normal. E comecei a desenhar o que seria uma linha de campanha pro iShuffle.

Minha vida é Shuffle.

Eu gosto de não saber o que vai acontecer na próxima esquerda numa esquina ou no sábado que está chegando. Ser surpreendido é infinitas vezes melhor que receber algo bom que você já sabia antes. Acho que é isso que dá o sabor na loteria, algo bom de um minuto para o outro.

Viver no Shuffle é encontrar aquele brother seu das antigas no meio da rua. E decidir passar a tarde com ele bebendo cerveja. E lá no final da tarde descobrir que ele tá numa puta agência animal e que ele tá doido atrás de um redator. Adapte isso à sua profissão e cargo, ou ligue para mim caso ele esteja realmente precisando de um redator numa agência animal.

Viver no Shuffle é aquele lance de aceitar fazer uma viagem de bate-e-volta (daquelas que não tem volta), é aparecer em uma festa em que você só conhece uma pessoa e sair conhecendo todas, é chegar em um restaurante russo e pedir o prato com o nome com mais consoantes.

E até tomar um porre na hora do almoço e deixar o resto do dia vir chegando sem preocupação.

Pensei em desenvolver isso em mil peças, em fazer peças que eu nunca tinha visto para essa idéia. Em fazer algo que não seja um peça, que seja algo diferente do que eu já conheço. Mas, pra conseguir fazer isso, tinha de conseguir primeiro explicar em um texto.

Eu me viciei em Shuffle desde pequeno.
Só nunca tinha tido um radinho que pensasse como eu.


Quanto da sua vida você deixa no Shuffle, e quanto você deixa na reprodução automática?

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Back to the Machine


Fiquei um belo tempo sem escrever porque sei lá. Fiquei.
Manja quando você quase deixa uma planta morrer? Gente tem disso às vezes, 'bandona e não quer mais pensar no assunto. Acho que muitos barbudos começam assim. Hora que foi ver, não dava mais pra tirar com lâmina, precisava de tesoura, não tinha tesoura, escreveu "O Capital".

Tenho ouvido bastante um lance novo, me comoveu: Maquinado.
É o tal do Lúcio Maia, guitarrista do Nação Zumbi. Esses caras não são só a sombra do Science, nem a pau. eu não sabia disso antes. O cara é figura. Tão chamando ele de "o guitar hero brasileiro". Na boa? É e não é. É no sentido original, uma guitarra na mão e atitude em tudo quanto é canto do corpo. Um cara desses com uma Gibson na mão não precisa de muitas palavras pra emocionar bem a galera, bem como o Page. E não é no sentido 80's dos guitar heros cabelão e roupa de semi-traveco e jogadinhas de cabeça pra trás e viadagens do estilo. Não, não é nada disso, se você tem medo dessas coisas (vou te confessar que não tenho tanto medo de Malmsteen) vai fundo que a peada é bem outra. É um resgate do samba e do eletrônico espacial, é Nelson do Cavaquinho e Kraftwerk. De boa, é melhor de ouvir que eu sou de escrever, então eu não vou te fazer chegar lá tanto quanto se você ouvir.
obs.: o nome Maquinado não é à toa não, seu doutor. Interpretação minha, de letrero que sou, esse "maquinado" tem a ver com o lance que o Lúcio Maia, admitindo que vai usar efeitos, resolveu explorá-los a fundo, tanto na guitarra quanto na voz.

Saca só e diz se não é foda:

http://youtube.com/watch?v=-GRJb_pZenQ
http://youtube.com/watch?v=Crdf-s5yvGw

E essa é só pra ver como o cara é um puta mundrungo, no fim das contas. A Fernanda se mijou de rir, e me fala: esse cara é bem tipo os seus amigos.

http://youtube.com/watch?v=L4fCmc2kypA

Vou tentar arranjar um CD. Se eu conseguisse colocar esse cara pra tocar no meu aniversário (cara, como é bom sonhar) ía ser melhor ainda.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Haikais a tiragosto

Estes são alguns que fiz num dia em que resolvi fingir que era poeta.
Eu nunca estive pra poeta, nunca entendi direito toda a teoria dos haikais. Mas acho bem legal a idéia da concisão, da mensagem simples e, por isso mesmo, com um mega significado.
Tentei em duas métricas, com 13 ou 17. A verdade é que eu nunca soube contar muito bem as sílabas poéticas, então ficou meio "ensaio científico escrito pelo Bukowsky". Preparou a goela? Então tente saborear.

Trabalho que não vence
sempre vence o ânimo.

O espelho não sabe
o que há do outro lado.

Bons momentos
apagam borrões no futuro.

Esquecimento é como
aprender a não lembrar.

Comida chinesa
seria melhor se limpa?

Música,
foge de quem toca
para quem ouve.

As curvas sempre tiram
os homens da linha.

Haikais são slogans
com um senso de nobreza.

Nenhum problema
espera por sua solução.

Os amigos ensinam
nossa vida a dançar.

Se a vida fosse
curta como a esperança,
teria um fim feliz.

A noite chega
trazendo com prazer os
vícios de sempre.

Alguns eu ainda acho legais, outros só quando alguém me mostra algo que eu não percebi quando escrevi.

*Bônus track: Hoje eu fiquei meio pensativo, e saí com dois koans:
1) Dentro da barriga, os bebês sonham?
2) Para os peixes, o que é a chuva?