quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O carnaval e o acaso dentro de mim.


Estava conversando hoje sobre "filhos planejados" com a Bia. Comçamos a falar sobre o conceito, e sobre o que as pessoas dizem dele.

Já reparou que as pessoas falam esse tipo de coisa, "meu irmão não foi planejado", "eu fui planejado pelos meus pais", etc.?

Se fosse só o falar, sem nenhum julgamento, não teria problema. O foda é que percebi que o "planejado" tem conotação positiva, e o "acidental" é negativo. São os filhos de "camisinha furada", de "pílula de farinha", do carnaval e até da Copa.

Daí, só hoje me dei conta de uma coisa: eu sou um não-planejado e adoro isso. Não só porque eu sou um, fui descobrir mais tarde isso. Mas eu sempre achei que filho de verdade é o que vem não por plano, mas porque sim. É ter seu momento único, independente de como ía a vida dos pais.

Imagina isso: você é um plano dos seus pais. Primeiro eles planejaram a casa, depois escolheram um carro, depois encomendaram você. How dumby. Meu, como você vai ter qualquer perspectiva se nem começou fazendo sua sorte, é só um plano? Você achou que tinha uma vida quando nasceu, mas está só seguindo um papel. Sim, eles poderiam escolher que você não valia a pena, podiam escolher mudar de carro, mas mediram prós e contras e te fizeram. Nossa, isso sim seria um trauma para mim.

Bom, como bom escorpiano, sou filho do carnaval. Não tem escorpiano que não tenha essa vibe de ser algo fora dos planos. Elemento imprevisível, não regrinha cagada. Escorpiano nasce do momento do ano que mais lembra o sexo, a festa, o coração acelerado. Eu fico fazendo esse cálculo às vezes, vendo se o signo tem a ver com o momento do ano que aconece 9 meses antes.

Meu irmão, por exemplo. Meu glorioso irmão. Ele é filho da Copa de 70. Que do caralho isso! O Brasil vive o momento mais glorioso de sua história até então, se consagra não ao vivo mas a cores a maior nação do futebol e, desse momento, dessa catarse, dessa festa, o resumo é uma pessoa. Não tinha como não ser do bem, não tinha como não ser um cara excepcional, que se destaca na multidão.

Tem mais. Vale lembrar que eu acredito em alma. A gente pode encomendar um monte de coisas, mas nunca achei que encomendar uma alma pra chegar num corpo fosse algo minimamente condizente com todo o lance espiritual. Um corpo é o resultado da soma de genes de duas pessoas, mas a alma é única, não uma mistura de dois. É algo maior, que vem de Deus (ou qualquer nome que você queira dar, se é que acredita nisso; eu não sou nem um pouco grilado com ateus e afins, me grilo mais com quem acha que sua visão é a única válida), e que eu saiba o cara até atende pedidos, mas não com hora marcada.

Um filho planejado não tem essa mistura de caos em sua essência, essa entropia. Não tem a imprevisibilidade que é a matéria-prima de pessoas como Einsten, Pelé ou Ali. É uma receita de bolo que está crescendo bem, obrigado, tudo dentro dos planos. Estará pronto às cinco, se você quiser um pedaço.

O resumo é: você não precisa ser um filho do acaso para ser especial. Mas nunca se sinta superior por ser planejado. E nunca, e agora eu digo nunca mesmo, considere alguém inferior por ser acidental.


O acaso é o que muda o mundo. A norma é o que o torna o mesmo de sempre.