quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O cangaceiro Cosme (exercícios de Guimarães Rosa)


O nome dele era Cosme.

Um do sertão, um encrenqueiro.
Um sujeito mais rápido com o rifle que com o perdão.
Com mais vontade do que honestidade. Por assim dizer.
E com o riso de moleque e de demônio, metade igual de cada.

Que sempre teve um muito de sua vida indo muito errada porque, de certo, não se enquadrava naquilo tudo.

E então a guerra. E, antes e por isso mesmo, com a guerra: os confederados.
Confederação. E quem não faz parte dela é contra a tal, e então já um herói.

Assim feito, Cosme era um dos bons, um matreiro, um caçador dos que não são bem como a gente.
Cosme era um herói, um bom homem que esbanjava dos atos de valor "Magina só, comprava cada tantico de sua glória com a alma d'um soldado confederado. E o cinculitr'di-sangue,"

E tiro a tiro, e facada atrás de outra, Cosme se redimiu.
Mas nunca mudou. Ninguém que puxa aquele gatilho com o fura-bolo canhoto é bom. Soube disso desde o primeiro passarinho, lá aos dez, isso mesmo.

Ele nascera para o embuste, pra ficar plantado dia e noite, pelo simples prazer de matar sem nem se ver. E, quando se aperceber, vai ver já foi.

Morte triste, morte emboscada nesse sertão.

Quem não sabe do duro do mundo tem medo dos confederados.
Quem viramundo, tem medo é de Cosme