quarta-feira, 23 de março de 2011

Você já sabe o refrão?


Dá pra acreditar?: faz mais ou menos um ano que não escrevo no blog.

E motivos para escrever e para não escrever existem.
Tenho, claro, repensado um monte de coisas, e não gosto de tentar escrever quando minha cabeça está "embarulhada" (para usar um termo genial do James). Mas, paradoxalmente, alguns dos meus melhores textos vêm quando escrevo assim.
Muita gente diria que os melhores, porque eles têm uma pequenas reviravoltas e saliências que deixam tão, tão orgânicos. Confusos, mas envolventes.
Isso seria motivo tanto para escrever quanto para não.
Anyway, tem os motivos para escrever, e vou citar dois principais.
Nesse meio tempo, conheci muita gente. Muita gente que ainda falo ou que não falo mais tanto. Mas, constantemente: gente que me pedia para voltar a escrever.
Não sei se as pessoas me pediam isso porque esse blog tem muito do que alegadamente define meu maior talento, ou se a admiração era real.

It doesn't matter.

Outro motivo é que todo ano eu me prometo que vou "ler mais". Eu ainda me apego ao sonho quixotesco de cumprir a meta que o Carrascoza me passou uma vez, "1 livro por semana". É muito, hoje eu sei. Não na época, eu na faculdade, acreditando que me apaixonaria tanto pelas letras e palavras que passaria o dia envolto por elas. Hoje eu sei que são as pessoas. As palavras são só o que a gente coloca no espaço entre pessoas - tanto que fluem melhor na escrita quando estamos sozinhos. Bom, esse ano eu comecei lendo bem. Estou pegando o que deveria ser o meu "food for thought".

Mas não vou fazer deste post mais um explicando por que eu não tinha escrito mais. Tem uns 3 ou quatro com esse tema, todos nos "recentes".

Vou falar sobre padrões.

Claro, o ponto de partida são os meus padrões. Mas, antes de tudo, uma explicação nada menos que fundamental. Padrão é uma coisa que se repete de tal maneira que algumas pessoas (eu e os gregos da antiguidade, por ex.) acham que o Tempo é cíclico, na verdade. Que as situações na sua vida se repetem de tempos em tempos, como o refrão de uma música. E, mesmo a parte que não é o refrão, ela tem um rítmo que vai se repetindo, muda a letra. A coisa mais normal do mundo, inclusive, é você pegar um pedaço da primeira parte e misturar com um da sergunda, não é mesmo? Sim, tanto quando falo de músicas como quando falo dessa metáfora de R$ 10. A gente revive coisas o tempo todo, e confunde também o que sentiu em uma situação com o que sente na outra.

Pra analisar com precisão, precisamos abrir o foco. É como quem trabalha com tratamento de imagens, a pessoa precisa voltar ao tamanho original para ver como está ficando e depois voltar para o zoom do detalhe que está tratando. Tem como fazer isso na vida, nem sempre é fácil.
É pra isso que existe terapeuta (que eu nunca fiz, improviso by myself conversando com as pessoas nos mais diversos meios): o terapeuta te "iça" lá pra cima, você olha a situação, pensa um "Pouuuuts, saquei. Tava vendo tudo errado. Pode me descer de novo."

E agora, eu escrevendo tudo isso como todas as pessoas escrevem num blog - o conhecido ar de "veja só, iluminei, agora aprenda comigo" - e você pensa "que bom que ele iluminou, gostei disso, vou pensar sobre".
Minha resposta é NÃO.
Eu não iluminei porra nenhuma.

Eu entendi isso, quase como você que lê agora. Mas eu normalmente faço ao CONTRÁRIO.
Quem me conhece sabe como eu sou. Eu sou o cara que não virou piloto de motovelocidade, virou dublé que salta de moto sobre 8 caminhões, porque sabe cair muito melhor do que fazer uma curva certo.

Eu sempre sei que o lance é você dar o zoom out, olhar lá de cima e o mais importante: não repetir erros.
Mas eu repito às vezes. Claro, eu aprendo também e não repito tantos outros.

O lance é que, de um jeito ou de outro, eu fico sempre pensando sobre os desdobramentos de tudo. Do que fiz e do que não fiz.
Isso é meio que uma sina de pensar sobre os padrões, você começa a comparar suas respostas "atuais" com as que deu na última volta da espiral e fica imaginando como seria o efeito dessa resposta "daquela" vez.

Droga, estou odiando o número de aspas que estou usando no texto, elas parecem muito mais necessárias depois dos livros que li esse ano. Os livros são como o gosto residual de café ou pimenta, alteram o gosto de tudo que vem depois. E eu sou viciado nos dois (três?).

Esse tem sido até agora um post típico meu: escrito como eu falo, alguma piração com linguística em dado momento, uma metáfora-chave, duas ou trãs divagações e, claro: agora eu tenho a responsabilidade de fazer o final que amarra tudo. (E esse parágrafo foi o meta-texto que também aparece por vezes).

Eu estou, finalmente, aprendendo a ver quais são os refrões. Eu estou vendo os meus impulsos de cantar algo errado quando a letra na verdade é outra - e me corrijo nessas horas. Eu estou até mesmo acertando o ritmo do todo, prevendo, mas sei que achar que estou vendo tudo é o maior erro. Mas o meu lance é: eu sempre improviso. Quando sei e quando não sei a música.
Eu não vou tentar acertar seguindo a regra. Isso não sou eu. Eu vou continuar improvisar de maneiras diferentes.

Porque improvisar da mesma maneira no fim das contas é mesma coisa que repetir um refrão.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Entre vinhos e amigos

Eu começo o dia encontrando um grupo de congressistas. Quem lidera o grupo, o cara que organizou toda a coisa, é o Michael (vou chamar de Mike daqui pra frente, acho mais coloquial). Esse Mike se provou um cara muito atencioso, até pelo fato dele ter aquele hábito de levar cada palavra que você fala em consideração. Eu, que costumo falar muito e às vezes só para preencher o espaço entre uma ação e outra, descobri que ele prestava atenção a cada uma delas. Isso a princípio me intimidou um pouco, claro, mas o cara é tão do bem que eu passei a perceber isso mais como atenção e respeito mesmo, não como uma investigação como normalmente acontece quando uma pessoa presta atenção demais em mim. Então fomos. Um passeio para conhecer um banco de comidas (sim, eu também me perguntei que catzo era isso). Um banco de comida é um esquema assim: os caras recebem doações de alimentos, caixas e caixas, e vão repassando para todo tipo de instituições que precisam. Dali fomos pruma fazenda que também estava envolvida no esquema, onde voluntários mantinham uma horta. Bom, resumindo, foram meia dúzia de visitinhas dessas, sempre com um big lado humanitário voltado a ajudar o pessoal americano que tá passando fome – uma coisa muito mais frequente que a gente pode imaginar. A economia dos caras tá o contrário da nossa: a gente crescendo e os caras com números péssimos. E quanto mais desastre, mais os bancos de comida (food banks) crescem seus números de sucesso: pounds de comida distribuída.

Esses passeios sempre têm um lado de descoberta interessantíssimo. O primeiro de ontem foi o almoço. Fomos prum pequeno prédio, ainda nos detalhes finais de sua construção, e comemos um almoço completo em que só dois ingredientes não eram orgânicos das fazendas envolvidas nessa cadeia toda. É uma coisa muito engraçada comer uma pá de coisinhas diferentes, muitas delas que você nunca viu na vida – talvez só em filmes.

Claro que para mim a parte mais legal não era descobrir como era esse esquema de banco de comidas ou descobrir alimentos mas sim conhecer pessoas.

Foi isso que fiz.

Vou começar falando de uma dupla de canadenses, ambas ainda na faculdade: Chloe e Louise. Elas eram gente boa demais, conversei bastante com ambas, acabei pegando uns 20 minutos para dar uma pequena aula de história do Brasil e da América Latina quando elas me perguntaram sobre opções legais de viagens no Brasil e se espantaram com o quanto nosso território tem ótimas atrações turísticas.

Nesse ponto, uma pequena divagação: 80% das pessoas, ao ouvir que sou do Brasil, me respondem “Best place in the whole world”. Mesmo.

Então eu conversei com essa dupla mais que simpática e contei tudo que elas podem fazer de legal, com ênfase nas cachoeiras. Uma delas, que namora um colombiano, me perguntou o quão longe a Colômbia é das cachoeiras que citei de Minas Gerais. A resposta deixou ela decepcionada, mas acho que ela não vai abrir mão dessas cachoeiras tão fácil. Vou ver se tiro uma foto das duas hoje para colocar nesse post.

Quando esse passeio todo acabou, o Mike, cara que tá organizando o congresso todo, perguntou se eu tinha me matriculado pro próximo programa: visitação a uma cervejaria e a uma vinícola. Sentiu o drama? Eu nem sabia que teria esse outro passeio, mas ele era 100% mais a ver comigo que o anterior. Perguntei na hora se não tinha como me encaixar nesse esquema e ele foi checar. Voltou com a resposta: sim, você está dentro.

Uma diferença básica que se podia notar: se no primeiro passeio havia 5 mulheres para cada homem, nesse era 1 pra 1.

E tudo foi se encaminhando de tal maneira que eu comecei a ter certeza que faria uma das melhores baladas de toda a viagem. Pra começar pelo grupo que compôs a nossa van. Por pura sorte, eu fui só com os figuras que não tinham nada a ver com o ar geral que se pode esperar: a motorista era uma estudante mestiça de 22 anos, vinda do lar dos whiskies Bourbon. Não tinha como ser melhor. O Bourbon favorito dela é o Jim Bean, o mesmo que eu. High-five instantâneo. Ela é tipo uma orientanda do Mike, estava lá para dar uma força dirigindo uma das vans e se revelou uma ótima companhia.

Tinha também a Erica. Italiana de Piemonte, eu tomei um choque porque achei que ela tinha 35, mas na verdade já está com 43, dois filhos. Italiana desbocadíssima, comemorou quando o cara da cervejaria disse que só poderia nos falar a temperatura em Celsius porque não tinha aprendido em Farenheit. A gente riu demais, a tarde toda. Ela tem opiniões fortíssimas sobre bebidas: não acredita em nenhum vinho que seja doce ou suave. E falou que acha interessante o fato de entender um pouco quando eu falo português, já que em Portugal ela não entende nada que os caras falam. Expliquei minha pseudo-teoria de que nós paulistas falamos um pouco como os italianos, dessa maneira mais cantada. Mas o figura-mór que tava com a gente nessa van era o Jeff. Um professor de filosofia quase sessentão que resolveu estudar food and drinks e acabou se apaixonando pelo assunto. E entenda que no, quesito “paixão”, a especialidade do cara eram as bebidas. Ele manjava tudo sobre o processo de fazer a cerveja, inclusive de coisas como a quantidade de lúpulo e a temperatura do malte e tals. Verdadeiro especialista. Sim, eu estava com as duas pessoas que secaram as amostras de cerveja que trouxeram após a aula teórica.

Momento mágico: cada um do grupo falando sua cerveja favorita e eu digo a minha, a API Dragonfly. Ele se aproxima de mim, falando quase um segredo.

“So, Roberto, do you know what they say about peolple who loves API...”

“No, I don’t, Jeff.”

“They say they are ‘hop-heads’.”

“And what does it means to be a ‘hop-head’, Jeff?”

“API attracts hop-heads because they have a specific flavor, of another substance. That’s they are also called ‘pot-heads.”

Nessa hora eu desabei de rir. O tal professor de filosofia de Utah tinha uma percepção muito jovem e única das coisas. Deus ama os bêbados.

Então essa trupe única voltou à van para irmos ao vinhedo que faz vinhos entre os mais conhecidos entre todos os dos EUA. Seguimos o caminho inteiro rindo, certos que o negócio só tinha a melhorar dali pra frente. Chegamos à conclusão que éramos as melhores companhias que poderíamos ter naquele passeio – pessoas verdadeiramente (e não só academicamente) apaixonadas por bebida ali.

No vinhedo rimos muito mais. O cara que supervisionava toda a produção era um ex-militar de 50 anos. Um coroa inteirão que nunca perdeu a cara de militar americano. Ele foi explicando vinho por vinho enquanto estávamos na frente daquela casa construída no século 18 no meio de um cenário maravilhoso. Enquanto ele mostrava cada vinho, eu olhava para a cara da Erica e ela ria com a indisfarçável expressão fácil de “isso não é vinho nem a pau, só se for pra esse cara”. O bom é que só eu vi, e essa diversão durou muito tempo. Encontramos também nesse passei o Scott, um novaiorquino negro com longos dreadlocks e um óculos intelectual. O cara fez uma manha ótima: a mina que estava a seu lado deixou a taça dando sopa em cima da mesa e ele sempre a oferecia para ser reabastecida – mas era ele que malandramente tomava as duas. Eu reparei nisso e antes mesmo que eu pudesse soltar uma palavra que fosse a respeito disso, o Jeff disse “Hey, how long that Guy have been with two glasses? I need a second one too!” Ri demais, quase caí.

Eu com certeza não estava no estado mais sóbrio de todos quando o marine explicou que a fita amarela em volta das parreiras era eletrificada para espantar os cervos e eu perguntei se aquela mancha preta em determinado pedaço era o Rudolph, a rena do nariz vermelho. A Erica e o Jeff riram tudo que conseguiram e ela ainda me falou o que seria o melhor sinal de aprovação “oh boy, you’re mean.” Ali, no meio daquele cenário inesquecível nos campos de Indiana, junto com esse povo, eu tive certeza: havia encontrado na viagem pessoas como eu. Incorrigíveis, e prontos para rir de tudo.

De lá fomos para um jantar, do qual eu não fazia a mínima ideia do que esperar. No caminho, fiquei contente quando a garota mestiça disse que meu inglês era muito bom. Eu não pratico nunca, estava receoso quando soltei as primeiras palavras por aqui e me senti o Tarzan em Nova York.

E então chegamos ao tal lugar onde seria o jantar: um imenso rancho, com pelo menos umas 40 pessoas. O dono do lugar, também chamado Jeff, é o cara que nos recebe. Uma camisa branca cheia de folhas de maconha e um chapéu branco de rafting me fizeram ter certeza que tudo era muito mais descontraído do que eu poderia imaginar antes.

Ele nos cumprimenta e não lembro exatamente o que falamos, mas ficou claro para ele e para nós que estávamos na exata mesma vibe. Ele nos leva à fila para pegarmos o jantar e, surpresa: feijoada. Sim, completa, com coisas que nem nós colocamos, como testículos, miolo e coração do porco – além, claro, do mais que impressionante crânio como decoração. Tudo lá planejado para tirar os americanos do chão gastronômico a que eles estão acostumados. Para beber, dois tipos diferentes de cerveja. Não tive dúvidas, me servi de mais um belo copo de API. Como nós fomos os últimos a chegar, pegamos a mesa que sobrou, uma um pouco mais afastada. Isso, eu fui perceber, foi o acontecimento mais propício de todos. Porque, por sermos os últimos a pegar o prato e sentarmos em uma mesa vazia – mais o fato de termos feito a brincadeira com a camisa de fumeta do cara assim que chegamos, julgo – foi o fato que ‘convidou’ o cozinheiro, um ruivo que estava da mesma cor que seu cabelo raspado a se sentar em nossa mesa, junto com seu suchef e com o Jeff dono do rancho.

E então tivemos um jantar simplesmente fora de série. Conversamos sobre aquela comida que eu conhecia tanto e a conversa fluiu como as grandes conversas o fazem. Falamos sobre cozinhas, comidas de um dia específico da semana (como a feijoada nos sábados e quartas), peculiaridades comuns entre Itália e Brasil, viagens... enfim, mundo de coisas. Do nada a Erica me saca um pacote de fumo de cachimbo e começa a bolar um cigarro de tabaco americano. Aposto que muita gente ali olhou para nossa mesa e, vendo tudo de longe, pensou “lá vão aqueles estrangeiros loucos fumar maconha agora”. Mas como na minha mesa estava não só ela como o dono do rancho e a equipe da cozinha, me senti à vontade para fumar um cigarro que não parecia mas era só tabaco.

Saímos todos para uma caminhada no interior do rancho. Nesse momento eu tive oportunidade de conversar melhor com o Scott, o cara de Nova York. Não lembro bem como e puxamos o assunto para comida e religião e falei da Festa de São Cosme e Damião. E não é que o cara manjava tudo de candomblé e Brasil? Mesmo. O cara tinha vindo para o Brasil um tempo e feito um intensivo daqueles, manjava tudo da cultura negra da Bahia e do Brasil. Aprendi muito mais com o cara do que ele comigo.

Então veio uma parte interessante em que alimentamos búfalos com baggels e ainda vimos uma ninhada de porquinho, acho que uns 15, e sua mãe nervosa.

Na volta desse evento todo, nós estávamos na van com o Mike dirigindo. E eu tive um daqueles momentos bem portugueses de perceber o todo do momento e ficar se dizendo o quanto tudo era maravilhoso. E daí eu soltei um “oh, man, this is just...”, e o Mike disse “Explain.” E eu, claro, não soube explicar direito, devo ter parecido só um cara meio ébrio, mas disse algo do estilo “esse é uma daquelas situações únicas da vida que você sabe que nunca se repetirão – em nenhum outro lugar, em nenhuma outra época – e por isso são únicas. E essa noite aqui em Bloomington foi exatamente isso.”

terça-feira, 1 de junho de 2010

On the Road parte 1

Aeroporto de Nova York.

Um lugar comédia, com menos da metade das pessoas sendo americanos. Situação comédia: uma mulher chinesa pede ajuda ao casal de olhos azuis na minha frente. Ela também achou que eram americanos – como eu. Não entenderam um puto do que ela disse – como eu, de novo. Desço o olho rápido pro jornal dobrado na bolsa da senhora do casal e tá lá: russos. Atrás do nosso banco, a imensa família de indianos ri e se diverte com Shiva sabe o quê. É o BRIC presente da maneira mais metafórica e realista de todas ao mesmo tempo.

Enquanto isso, poucos americanos, quase nenhum. Eles olham em volta e sabem. Eles são os estrangeiros no mundo da nova economia.

Voo São Paulo – Nova York.

Ouço a aeromoça americana me perguntando qual bebida eu quero. A sede era tanta, ainda mais eu com essa tosse que tá pegando a garganta, que eu nem pensei: “Coke, please”. A Coca-Cola, em uma latinha a resposta pra tudo que tava me incomodando no bendito voo. Isso tudo pra explicar essa falha que não combina comigo: não perceber que aquela caixinha vulgar com aquele suco de uva que o coxinha pediu era na verdade vinho. Pedi “some wine, please” e ela, uma loira alta e parecendo pouco mais velha do que eu, me fala “are you in age of drinking?” Eu, rindo, “Yes, but I thank you for the mistake.” Me pergunta a maioridade alcoólica no Brasil e eu digo. Logo mais passa o outro comissário de bordo, acho que o único brasileiro. Esperto, vê meu copo vazio e pergunta se quero mais. “Sim, mais um vinho, por favor.” E daí vem o insólito: “Quantos anos você tem?” “Trinta, hahaha. Jura que eu pareço ter menos de 18?” E o cara fecha com a pérola, perguntando rápido para me pegar no pulo (como o Doutor Chang fez com o Hurley): “E em que ano você nasceu?”

Tá certo que tava escuro, era depois da janta, antes do pessoal dormir. E também que eu fiz a barba antes do voo. Mas... menos de 18? Ainda não entendi se foi elogio ou tentativa de humilhação.

Aeroporto de Nova York

Atração à parte: os passarinhos que ficam voando e ciscando dentro da área de embarque. Quando vi o primeiro, sozinho, fiquei com dó e pensei “de algum jeito ele vai sair, tomara”. Depois vi mais outro. Agora estou vendo pequenas revoadas. Mas o mais engraçado que se eu pergunto para qualquer um, os americanos são os caras que respiram até oxigênio artificial e nós somos os caras que vivem em harmonia com a mãe natureza, comemos frutas, somos quase o Tarzan. Só que quando tem qualquer pássaro – geralmente pombas – em qualquer lugar no Brasil, as pessoas espantam. Não adianta me dizer que é racional. Lembra mais um tique, dada a velocidade e falta de controle com que as pessoas agem. Aqui no aeroporto americano, ninguém se importa com os pássaros. Eles estão em harmonia com a rotina dos voos.

Epílogo

Não dormi direito. Claro. Eu nunca encontro posição quando o assunto é dormir em uma cadeira. Mentira, dessa vez até encontrei. Mas era cada posição de louco que eu acordava de vergonha e tentava algo um pouco mais normal. Conclusão, deu um sono daqueles assim que sentei na área de embarque com a ideia genial de esperar rapidinho as 8 horas sentado. Quase cochilei hora dessas. Cochilei sim, vai. Mas até o cochilo acabou. Só o que não para são os pensamentos. Então resolvi escrever. No Word mesmo. Que Internet também não há – só paga. Bem-vindo à America.

Anúncios da IBM

Power grids reduce electricity bills for you. Smarter energy for a smarter planet.

Roads eliminate their own congestion. Smarter traffic for a smarter planet.

Medical histories alert doctors before patients get sick. Smarter healthcare for a smarter planet.

Store shelves know exactly what customers want. Smarter retail systems for a smarter planet.

Let´s build a smarter planet.

Confere comigo. O planeta mais esperto é o seguinte: não gastar menos energia, mas menos grana com isso; não parar de andar de carro, simplesmente querer que o trânsito seja resolvido; fazer um minority report da saúde e receber remédios do médico clarevidente; e encontrar nas prateleiras o que é indicado para o meu perfil sempre, nunca algo novo (para que mudar?). Será que a IBM quer um mundo mais esperto ou mais americanizado?

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Encontros no caminho


Vem acontecendo de novo aquele lance de encontros improváveis.
Voltei a acreditar nisso.
De encontrar pessoas que a gente jura que nunca mais encontraria e, de repente, sorte pura, você cruza numa rua diagonal de paralelepípedos voltando para casa.
Li agora mesmo sobre uma conhecida que encontrou a Cat Power na porta do Ó do Borogodó. A gringa lhe pede um cigarro, ela oferece e tals, comenta "Você me lembra a Cat Power, sabia?" e daí a resposta "Prazer, Cat."
Talvez isso tenha a ver também com eu estar começando o caminho de On The Road. Isso vai pedir uma daquelas minhas divagações.

Tinha aqui no meu trampo um redator muito gente boa (aliás, todos os redatores daqui são gente boa, embora cada um bem a seu modo). Mas esse cara era uma daquelas figuras únicas. Bem um personagem beat, in a certain way. Era um negrão com um sorriso de pitbull que começava em uma orelha e terminava na outra. Acho que um dos caras mais humildes que conheci na minha vida inteira. E eu absolutamente amo a humildade. Gosto tanto que ela me escapa, muitas vezes, como é típico dos amores. Pois esse cara entrou na agência inegavelmente menos experiente que os outros três redatores. Mas ele não só sabia disso como fez disso sua meta: estudava com cada um de nós um tanto, aprendia truques - e a gente sabe que a humildade é a melhor ferramenta para aprender. E vai e faz e o cara se tornou o melhor de nós. Não que ele admitisse isso, mas ficou claro pra mim. Ele se esforçava atrás da grande ideia, enquanto eu a chamo como se chama um gato. Esse redator era muito louco. Mesmo. Ele dava cambalhotas no meio do departamento, fingia que era soldado e saia rastejando com um cartucho de impressora empresarial que parecia uma escopeta, tudo isso sempre declamando uma narração. Para mim, a narração era a malhor parte da história toda. Tinha gente que curtia as caretas, as danças, mas eu ficava atento nas narrações, na oralidade. Porque esse cara tinha um bendito caderno. Caderno de capa mole, espiral, deve custar uns quatro reais na papelaria, inteiro preenchido por uma letra frenética de quem escreve sem muito tempo para pensar em como organizar ou deixar espaços em branco para depois se encontrar no meio daquilo tudo. Ele escrevia feito um louco, mas o conteúdo era genial. Agora vou chutar minha modéstia pra casa do caráter e falar: quase todo mundo lia ou ouvia ele falando aquilo e falava rindo "esse negão é louco, hahahaha". Mas eu ouvia e lia aquilo e sacava: aquilo tinha a pegada de poesia beat. Era isso, poesia marginal, textos de loucura de cara que tá na rua, vem pra agência não pra viver mas pra juntar sua grana. Aquele cara era um fucking beat na essência e eu percebi isso. Não expliquei pra mais ninguém porque acho egocentricamente que só eu entenderia (e talvez mais o diretor de arte que me surpreende por saber de tudo). Mas esse é personagem pra outra história. E esse redator, quando alguém pegava seu caderno e começava a rir das loucuras escritas, tomava uma atitude genial. Em vez do esperado "tomar o caderno e tentar esconder", ele simplesmente pedia o caderno e começava a declamar, só batendo o olho vez ou outra porque, no íntimo, já sabia de cór o texto que o curiosos lera. Ele soltava as palavras de uma maneira teatral e escrachada, mas isto tenho de certo que era pra agradar o povo, dar o pão e circo na linguagem que mais se encaixa. Aposto que ele não as escrevia para ler de maneira jocosa, mas com um ar de visão sã no meio de uma baita loucura. Daí um dia eu estou voltando do almoço e passo numa banca. Vejo, naquele porta livrinho de dez pilas - isso é uma genialidade, mas ninguém repara porque é como se estivesem vendendo originais do Machado de Assis no meio das Contigos e Boa Formas. Eu parei porque vi um amarelinho que me encarou e falou "Não finge que não me viu, porque eu te vi e tô olhando pra tua cara agora." Na capa um Cadillac vermelho e o nome "On The Road". Insight de pedestre absorto, comprei na hora. Escrevi uma dedicatória na capa que não sei se foi pretenciosa ou pedante - eu incorro nos dois erros com a mesma frequência com que tomo café atualmente - e presenteei o cara na volta do almoço. Aquele cara tinha de ler aquilo. Distoa completamente de tudo que a gente vive nessa criação, a busca pela piada sexual mais rasa e a imitação mais folclórica, mas naquele momento eu sabia que aquilo era um resumo do que eu via nele e do que ele via em mim. Ele costumava me falar "Porra, Robert, tu é um cara inteligente, você é muito cerebral, é diferente da pegada geral, curto isso em você." Então pronto, entreguei pra ele um livro que tinha a essência dessa admiração intelectual mútua entre dois caras meio perdidos. Ele recentemente mudou de trampo, acho que ainda vou encontrá-lo muitas vezes, se Deus quiser e a preguiça não impedir.

Daí tou eu pssando na frente de uma banca e vejo o mesmo livro. E o livro novamente me olha de frente e me diz "Ok, você já me comprou como presente mas ainda não me teve, não transou comigo." Aceitei o desafio, na exata mesma banca peguei aquele novo On The Road, capinha amarela, e levei comigo. Comecei faz pouco e já vi que é sobre tudo que eu muito pretensamente sempre falei nos quatro cantos que era minha essência. "Eu sou meio beat", "curto os loucos", "Deus ouve jazz" e tudo isso que todo mundo já ouviu quando tento parecer mais profundo ou poético. É sobre isso. E eu sei que vou ter de mergulhar nele e sair outro, é o curso natural. Muita gente que leu On The Road mudou pra sempre. Bob Dylan só virou o Bob Dylan porque leu e depois fugiu de casa. O movimento hippie não teria acontecido se o livro não tivesse sido lançado anos antes. Sinceramente, uma puta importância. Um livro sobre pessoas que têm histórias a contar e ouvir.

E mal comecei a ler o livro e percebi nele os encontros espontâneos no meio da rua com pessoas geniais. Dessas que você encontra de repente e sabe que pode começar uma vereda nova na vida. Como o redator que citei e ainda não entendi por que não falei o nome dele até agora: Marcio Graciano. Gênio puro, esse cara é um jazz bebop, coisa que eu adoro ser, mas nem sempre consigo.

O personagem principal é um cara que escreve, primeiro passo ideal para eu decidir colocar isso no papel imaginário desse fundo branco de janela de postagem do Subo Nesse Palco. O fato é que eu vou ler esse livro porque uma vez o Brunão falou que eu era o Dean, o personagem fascinante com quem o protagonista compartilha o livro. Here we go, comecei o post só com essa primeira frase que me veio na cabeça. Eu estava no busão vindo para o trabalho. Ele demora um pouco mais, mas isso é uma sorte quando você tem um livro, sobra mais tempo e o caminho tem menos caminhadas do que o caminho do trem. E eu lá, com o livro na mão, o fato de ter encontrado ontem na rua uma pessoa que nem conheço direito mas que achei que nunca mais veria na vida - errei, vi ontem e a pessoa me viu também - e do nada me veio só esse começo de post. Vou ser franco, não sei se reproduzi o começo com as palavras que me pareceram tão geniais quando eu esava sentado naquele último banco, o que balança mais. O Brunão sempre me diz que o legal do fundo do busão é que a viagem fica groovie. Fato tão verdadeiro que depois da citação eu sempre prefiro ir em pé no fundo quando estou sozinho.

Logo mais parto para uma viagem. Não sei se vou conhecer muitas pessoas por lá, mas o cenário é o ideal. E, como todas as viagens desse estilo que faço, espero uma transmutação. Na última dessas que fiz, fui querendo um tempo do mundo que estava me deixando kinda nuts e voltei diferente. Não absolutamente outro, como um pode esperar, mas pelo menos com uma visão bem outra - até do jeito como as pessoas andam nas ruas por aqui. Agora vou pra outro lugar em que nunca estive antes, de novo para tomar um tempo para repensar meu mundo. Aquele negócio de tomar um copo de água para apagar o gosto do vinho anterior antes de experimentar o próximo. Vou nessa segunda, volto depois de duas semanas. E quero voltar não completamente diferente, mas com um traço que acho que não tenho exercido há algum tempo: a sensibilidade para encontrar, no meio da multidão, pessoas ímpares. Era isso que eu tinha quando eu era mais modesto. Na época em que eu conheci tantas pessoas geniais - o que culminou em eu aprender tanto e ficar mais certo de mim como sou agora. Vai ver que é um processo daqueles: você é plano mas procura saber, fica mais culto e fica cego, sofre pela limitação e se percebe plano, daí procura saber mais.

Talvez eu escreva de lá, durante a viagem. Talvez eu só escreva de novo quando eu terminar On The Road. Foi-se a época em que eu tinha certeza de cumprir promessas (quando eu, inocente e inabalável, falava "minha palavra é maior do que eu mesmo").

Só prometo isso: vou continuar me surpreendendo com as pessoas que encontro (e reencontro), e vou caminhar sempre nessa direção.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Uma explicação

Depois que comecei com o wolvie.tumblr e com o Buzz, parei completamente de postar por aqui.
Por diversos motivos, não só essas duas novidades.

Um deles é que não tenho tido as grandes conversas que motivam os textos que eu colocava aqui. Tenho encontrado pouco (na verdade, quase nunca) o Brunão e outros sujeitos que são sinônimos de reflexões e pensamentos que ascendem e vão embora. Tem uma coisa que tenho certo orgulho que é ter montado um círculo de amizades de pessoas que têm muita 'food for thought'. Alguns desses já são considerados meio 'desparafusados' pela maioria das pessoas, mas daí vem a beleza e poesia: lentes com pequenas falhas sempre geram efeitos únicos nas imagens. Eu realmente amo conviver com essas pessoas, elas me fazem pensar que depender de um firmamento é pra quem Deus não quer que tenha asas.

Outro motivo: aprendi um pouco de falar menos do que penso (é bom e ruim conviver com pessoas que agem assim, mas eu agradeço a elas). Sim, isso é bem engraçado para mim. Eu que sempre coloco tudo o que me passa pela cabeça - passando por pedágios da alma e do coração - neste blog. Aprendi que posso fazer como um Haikai: falo um tico de nada, subjetivo como a própria vida. Andei fazendo muito disso recentemente. Antes eu deixava uma pista clara de tudo que eu pensava, para só quem não devesse ver não entender o todo. Porque eu gosto de um palco, gosto de encenar minhas histórias. E, mesmo assim, muita gente não via. Agora eu coloco quase um nada de tudo. Mas aposto que, por me conhecer, muita gente vê demais (ou seja, mais do que eu queria). Anyway, cada ferramenta a seu propósito. O blog para falar mais do que eu devia. Os demais para falar menos do que eu quero.
Sendo bem sincero, fico com um medo da minha vida ficar só nesses espirros de verdade que twits, buzzes e tumbles me permitem. Eu não sou uma onomatopéia, sou uma ironia. É legal brincar de ser outras figuras de linguagem. Mas nunca deixe de saber como você se conjuga na essência.

Por outro lado, e um lado que eu não queria pensar muito sobre, é que eu tenho percorrido menos os labirintos que me levavam até os padrões que revelam meus insights. Eu estava chegando em pontos em que eu poderia ficar também com um 'defeito na lente'. É legal isso com os outros, mas eu andei beirando ficar 'one card shorter of a full deck', como diria o Freddie. Tava na fila desse bar, mas resolvi não entrar agora. Prefiro pensar que isso pode acontecer em algum momento outro da minha vida. O que eu posso garantir é que eu morro antes de virar um tiozão de pullover por cima da camisa, são e pleno de si mesmo.

O mais importante desse texto, é: eu precisava soltar a mão. Escrever pra ninguém. Nem sei se vou divulgar esse post nas mídias que citei acima, como costumo fazer sempre. Não me importa agora que leiam, mesmo. Comecei a escrever como muitas vezes faço - sem fazer a mínima ideia do que viria pela frente. Mas, logo de cara, senti que os dedos estavam batendo as teclas naquele ritmo que me prenuncia 'lá vem um post'.

Uma coisa no entanto permanece além de tudo: não faço ideia do que vem pela frente, mas vou seguir o Tao. Vou ver onde vai dar.

Nos vemos no caminho, me chame se eu estiver distraído.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Um post de amenidades


Eu tenho uma pressão de sempre escrever coisas que eu julgue "relevantes" nesse blog.
A ideia dele nasceu do fato de muitas vezes eu fazer pequenas dissertações quando conversava bebendo com os amigos. Mais precisamente, quem me aconselhou depois de uma bela conversa dessas foi o Brunão (@brunoip no twitter).

Daí que o negócio é que depois disso eu fiquei meio que com um Comitê Avaliador dentro da minha cabeça. Não consegui fazer aquele lance pro qual os blogs foram criados: falar amenidades, coisas pequenas, sem importância.
Eu sempre tento dar um peso maior, busco sempre uma linha de raciocínio mais intrincada. Nunca rola um "Ah, diazinho bão, daria tudo por um sorvete de limão agora."

Só que, claro, isso reduz demais o número de vezes que posto no blog. Essas linhas maiores de raciocínio vêm justo nos momentos de encontros e devaneios, quando que vou eu parar a balada e falar: "Não, peraê, segura tudo, vou escrever ali no escritório e já volto."?

E, quando estou de frente para o computador, também não rolam grandes diálogos internos que justifiquem um post. Só as amenidades mais chatas, vida de escritório.

Eu escrevi tudo isso até agora pelo simples fato que quis escrever qualquer bobeira. Qualquer coisinha despretenciosa. E lá vem o superego me falando: "Vai escrever sobre qual vai ser o almoço? Vai diluir tudo que você já escreveu aqui agora com uma simples vontade gastronômica? Mas, por outro lado, faz tempo que você não escreve lá, hein? Tô achando que você perdeu o jeito, perdeu a mão. Agora só sabe de escrever a trabalho. Que decepção, hein? Vai almoçar logo e desencana de tentar escrever blog, não é tua praia."

Sim, meu superego é severo. Ele é escorpiano, e de macaco - como eu, claro. Embora todo superego seja também capricorniano, assim como todo id é meio ariano/meio escorpiano.

Logo saiu de dentro da cabeça a meia solução. Uma meia ideia como muitas que renderam ótimos posts aqui. A ideia é só a massa, depois que sai do forno a gente descobre se cresceu ou não. E minha meia ideia aqui foi essa canalha, de escrever como é fogo pra mim simplesmente escrever o seguinte:

"Estou indo almoçar com a ReBiscoito. O último almoço foi demais, rimos muito. Acho que hoje vai ser tão gostoso quanto. São esses momentos de felicidade compacta no meio do dia que me fazem ter saco pra aguentar as horas antes e as horas depois. See ya."

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O cangaceiro Cosme (exercícios de Guimarães Rosa)


O nome dele era Cosme.

Um do sertão, um encrenqueiro.
Um sujeito mais rápido com o rifle que com o perdão.
Com mais vontade do que honestidade. Por assim dizer.
E com o riso de moleque e de demônio, metade igual de cada.

Que sempre teve um muito de sua vida indo muito errada porque, de certo, não se enquadrava naquilo tudo.

E então a guerra. E, antes e por isso mesmo, com a guerra: os confederados.
Confederação. E quem não faz parte dela é contra a tal, e então já um herói.

Assim feito, Cosme era um dos bons, um matreiro, um caçador dos que não são bem como a gente.
Cosme era um herói, um bom homem que esbanjava dos atos de valor "Magina só, comprava cada tantico de sua glória com a alma d'um soldado confederado. E o cinculitr'di-sangue,"

E tiro a tiro, e facada atrás de outra, Cosme se redimiu.
Mas nunca mudou. Ninguém que puxa aquele gatilho com o fura-bolo canhoto é bom. Soube disso desde o primeiro passarinho, lá aos dez, isso mesmo.

Ele nascera para o embuste, pra ficar plantado dia e noite, pelo simples prazer de matar sem nem se ver. E, quando se aperceber, vai ver já foi.

Morte triste, morte emboscada nesse sertão.

Quem não sabe do duro do mundo tem medo dos confederados.
Quem viramundo, tem medo é de Cosme