Aeroporto de Nova York.
Um lugar comédia, com menos da metade das pessoas sendo americanos. Situação comédia: uma mulher chinesa pede ajuda ao casal de olhos azuis na minha frente. Ela também achou que eram americanos – como eu. Não entenderam um puto do que ela disse – como eu, de novo. Desço o olho rápido pro jornal dobrado na bolsa da senhora do casal e tá lá: russos. Atrás do nosso banco, a imensa família de indianos ri e se diverte com Shiva sabe o quê. É o BRIC presente da maneira mais metafórica e realista de todas ao mesmo tempo.
Enquanto isso, poucos americanos, quase nenhum. Eles olham em volta e sabem. Eles são os estrangeiros no mundo da nova economia.
Voo São Paulo – Nova York.
Ouço a aeromoça americana me perguntando qual bebida eu quero. A sede era tanta, ainda mais eu com essa tosse que tá pegando a garganta, que eu nem pensei: “Coke, please”. A Coca-Cola, em uma latinha a resposta pra tudo que tava me incomodando no bendito voo. Isso tudo pra explicar essa falha que não combina comigo: não perceber que aquela caixinha vulgar com aquele suco de uva que o coxinha pediu era na verdade vinho. Pedi “some wine, please” e ela, uma loira alta e parecendo pouco mais velha do que eu, me fala “are you in age of drinking?” Eu, rindo, “Yes, but I thank you for the mistake.” Me pergunta a maioridade alcoólica no Brasil e eu digo. Logo mais passa o outro comissário de bordo, acho que o único brasileiro. Esperto, vê meu copo vazio e pergunta se quero mais. “Sim, mais um vinho, por favor.” E daí vem o insólito: “Quantos anos você tem?” “Trinta, hahaha. Jura que eu pareço ter menos de 18?” E o cara fecha com a pérola, perguntando rápido para me pegar no pulo (como o Doutor Chang fez com o Hurley): “E em que ano você nasceu?”
Tá certo que tava escuro, era depois da janta, antes do pessoal dormir. E também que eu fiz a barba antes do voo. Mas... menos de 18? Ainda não entendi se foi elogio ou tentativa de humilhação.
Aeroporto de Nova York
Atração à parte: os passarinhos que ficam voando e ciscando dentro da área de embarque. Quando vi o primeiro, sozinho, fiquei com dó e pensei “de algum jeito ele vai sair, tomara”. Depois vi mais outro. Agora estou vendo pequenas revoadas. Mas o mais engraçado que se eu pergunto para qualquer um, os americanos são os caras que respiram até oxigênio artificial e nós somos os caras que vivem em harmonia com a mãe natureza, comemos frutas, somos quase o Tarzan. Só que quando tem qualquer pássaro – geralmente pombas – em qualquer lugar no Brasil, as pessoas espantam. Não adianta me dizer que é racional. Lembra mais um tique, dada a velocidade e falta de controle com que as pessoas agem. Aqui no aeroporto americano, ninguém se importa com os pássaros. Eles estão em harmonia com a rotina dos voos.
Epílogo
Não dormi direito. Claro. Eu nunca encontro posição quando o assunto é dormir em uma cadeira. Mentira, dessa vez até encontrei. Mas era cada posição de louco que eu acordava de vergonha e tentava algo um pouco mais normal. Conclusão, deu um sono daqueles assim que sentei na área de embarque com a ideia genial de esperar rapidinho as 8 horas sentado. Quase cochilei hora dessas. Cochilei sim, vai. Mas até o cochilo acabou. Só o que não para são os pensamentos. Então resolvi escrever. No Word mesmo. Que Internet também não há – só paga. Bem-vindo à America.
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Power grids reduce electricity bills for you. Smarter energy for a smarter planet.
Roads eliminate their own congestion. Smarter traffic for a smarter planet.
Medical histories alert doctors before patients get sick. Smarter healthcare for a smarter planet.
Store shelves know exactly what customers want. Smarter retail systems for a smarter planet.
Let´s build a smarter planet.
Confere comigo. O planeta mais esperto é o seguinte: não gastar menos energia, mas menos grana com isso; não parar de andar de carro, simplesmente querer que o trânsito seja resolvido; fazer um minority report da saúde e receber remédios do médico clarevidente; e encontrar nas prateleiras o que é indicado para o meu perfil sempre, nunca algo novo (para que mudar?). Será que a IBM quer um mundo mais esperto ou mais americanizado?
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