sexta-feira, 27 de junho de 2008

Sonhos e devaneios


Eu sempre tive um negócio de sonhar e saber que era um sonho. Me aconteceu diversas vezes.

Só pra avisar antes, este post vai ter a métrica de um sonho, como muitas indas, vindas, informações desconexas e eu como o centro de tudo (sim, porque são os meus sonhos).

Não lembro quando foi a primeira vez, mas acho que começou a ocorrer depois de uma fase traumática que tive com sonhos. Eu acho que tinha coisa de 6, 7 anos. E tinha pesadelos toda santa noite. Sem brincadeira, todas as noites, em sequência. É, a porra do teclado não tem trema. Mas trema é uma coisa meio onírica mesmo, não tem nada a ver com a nossa realidade. E com esses pesadelos todas as noites, adivinha? Eu desenvolvi "medo da noite". Sim, porque quando se aproximava a noite eu sabia que logo chegaria a hora de eu dormir. E de entrar de novo nos pesadelos. Era começar a novela das sete preu começar a gelar.

Daí, uma bela noite (bela pra carai, acordei suando desesperado) eu tentei dar um jeito do jeito que eu sabia.

Quem me conhece sabe que sou católico. Dos clássicos: aqueles que se entregam a todos os prazeres da carne, vêem o corpo como um templo (a ser altamente profanado), adora o sexo antes do casamento e ao mesmo tempo crê na salvação pelas obras, na existência dos santos. Santos é o meu sobrenome que escondo atrás do Wolvie. Aliás, esse é o perfil de grande parte dos Santos. Eles não era carolas tementes a Deus e moralistas. Eles eram bem pessoas da Vila Madalena. Você sabia da história do Santo que, cristão condenado ao coliseu, ofereceu a outra face ao gladiador e, tendo tomado outra porrada, disse "Jesus pediu preu oferecer duas e ponto", daí caceteou o gladiador até nocautear o cara? Os santos eram assim. Os católicos clássicos são assim. Eu sou um católico clássico.

Como católico clássico (com 6, 7 anos, antes de sexodrogas&rockandroll), minha solução foi: comecei a rezar. Católico "reza". Quem "ora" é protestante. Eu comecei a rezar até onde dava. Rezei, rezei e rezei. Rezei até cair no sono. E, depois de muito tempo, tive sonhos. Eu consegui expurgar os pesadelos. Essa é uma das bases do Cristianismo, a fé vence qualquer mal. Eu venci, e naquela noite sonhei, leve como uma criança que saiu dum campo de concentração.

Acho que foi depois disso que eu percebi que podia saber que estava sonhando. Aconteceu várias vezes, e sempre funcionava quando pintava qualquer pesadelo. Mas aconteceu em outros tipos de sonho também. Eu sabia que estava dormindo.

Recebi um e-mail do Davi sobre isso hoje. Lucid Dreaming. Matéria que saiu na Trip. Tinha mais na matéria, falava também sobre LSD. Esse é um assunto de tal importância que acho que não entrará neste post. Acho, nunca sei como eles vão terminar.

Os meus sonhos têm tido uma importância maior nas últimas semanas. Tenho sonhado coisas legais, que fazem diferença na minha vida no dia seguinte. Jogo joguinhos de carta, tipo magic, e ultimamente tenho a iluminação dos baralhos no sonho e depois monto na vida real. E eles funcionam melhor, acredita?

Daí hoje sonhei com minha primeira agência de verdade. Talvez a melhor de todas, pelo fato de que todos, sem excessão, eram amigos e bebiam juntos. Eu sonhei que estava na SitCom com meu mestre da propaganda, o Lesoba. Esse cara é genial daquele jeito que... sabe quando voc~e conhece alguém que é realmente foda mas sempre que tenta explicar pros outros não consegue transmitir o quanto? É ele.

Sonhei que eu tava na SitCom, que era a agência dele e também uma agência dos sonhos, e ele me falava "Wolvie, preciso de uma assistente de atendimento pra começar aqui, conhece alguma?". Acordei de bom humor, mesmo tendo dormido às 3h e acordado às 8h30 por causa de uma concorrência. Mandei uma mensagem pro Lesoba. Achei profético, fazia um tempão que a gente não se falava. Nos encontramos outro dia numa balada, mas balada é um milhão de pessoas, e eu já tava na minha terceira cachaça. Foi ótimo, ele me falou que sentia fala de redatores como eu, eu disse que o mercado sentia falta de "gênios loucos" como ele. Contei meu sonho na mensagem SMS. Ele respondeu que também sonhava, cada vez mais, com a SitCom. Deu pra sacar que não era o sonhar de dormir, mas o de almejar aquilo de volta.


Hoje eu fui lendo no Twitter os posts do BlueBus. Teve uma pegada legal, eles estão fazendo uma bela cobertura de Cannes este ano. Eu tô cagando pra Cannes. Todo ano é aquela mesma lenga-lenga de publicitários. Eu acho uma cretinisse porque sempre acreditei no que falavam, mas na hora H os fodões das agências mandam você fazer tudo do mesmo jeito que tudo sempre foi feito. Então sei que são otários.

Mas tem gente muito foda no meio. Gente jovem, com idéias fodas e a mente muito cheia de oxigênio. Gente que sabe desse glaglaglá e que vai enterrar um dia esses caras consolidados e encalacrados em sua modernidade de butique. Eu tô falando do Tomás Gonzaga. Ele tá aqui do lado nos meus links, sob a alcunha de Pai Tomás. Visita a cabana dele que é muito melhor que esse meu blogzinho.

Eu li uma matéria legal sobre Cannes. A única que passei do título - ainda bem: http://tinyurl.com/3h6ty4 . Matéria boa. Li e na hora lembrei do Tomás. Óbvio, puta motivo pra puxar um papo com o cara.

E não é que esse lance de sonho sempre volta no meio do nosso dia? Quer ver? No meio da conversa, do nada, comparando minha agência atual e a em que ele está (que é minha anterior) eu solto essa para ele:

"
Mas vou te contar uma: o modelo ideal não é nem o daí nem o daqui: é o da SitCom, minha primeira agência de verdade. Tinha 15 pessoas no total, sendo 4 chefes. Mas lá o conceito comia solto. Não tinha prisão de formato, autoridade de cargo, porra nenhuma. O Lesoba - que era o cérebro da agência e foi meu mentor mór - apostava só em idéias. Quanto mais geniais, melhores. Formato, duração, verba, ele pensava nisso (bem) depois. Era por isso que, mesmo pequeninha, a gente ganhava várias concorrências contra médias e, às vezes, contra uma ou outra grande. Você, delegado, ainda vai trampar com ele um dia. Do mesmo jeito que tua visão aberta te colocou aí, um dia junta você com esse cara em algum projeto. E hoje, um Berlim?"

O texto foi longo, espero que confuso. Mas é isso.

Não vou explicar a piada desta vez.
Como nos sonhos, você conclui.

(uma dica: tem a ver com o sonho e o real, o que na primeira vez aprendi graças a meu catolicismo.)

domingo, 22 de junho de 2008

Esse vídeo mudou minha vida

http://youtube.com/watch?v=UypeE3zTwBs

Parliament. George Clinton. Bootsy Collins.

Foi quando entendi para que meus pés foram feitos. E o que era estilo.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Nós somos o herói


Agora que estou ganhando um pouco mais, me dei o luxo de comprar uns quadrinhos. Não fazia isso desde 95, mais ou menos.

O problema de comprar quadrinhos é que você começa a querer comprar mais e mais quadrinhos diferentes, porque todas as revistas de uma editora estão interligadas e você fica com curiosidade de entender a história por todos os pontos de vista. E com todas as fontes de informação. Isto nem vai ser importante neste post, estou me controlando e comprando só um título por mês, Novos Vingadores, e mais um especial qualquer que saia.

Daí hoje peguei na mão a minha fresquinha Novos Vingadores nº 53. Na capa, Might Thor (ele mesmo: Thor, o deus do trovão), em sua versão reformulada. Mudaram quase nada na aparência, tentaram deixar parecido com o clássico. Nisso, também resgataram um negócio clássico, seu alter-ego Doutor Donald Blake.

Só pra explicar pra quem não conhece lhufas - e isso é importante pra entender o post inteiro - o Donald Blake é um médico, manco, que acha o martelo do Thor numa viagem aos países nórdicos. A partir disso ele se torna o vínculo do Thor com nosso mundo. Quando ele batia sua bengala no chão, caía um raio do céu e ele virava o Thor, foderosasso mór que na real era o mais foda dos Vingadores.

Agora, o ponto todo é o seguinte: sacou a brincadeira do "médico manco"?

O Thor é um personagem da editora Marvel, assim como o Hulk, o Homem Aranha, o Capitão América, o Wolverine, o Demolidor e o Homem de Ferro. Eles são muito diferentes dos personagens da editora rival, a DC Comics. Na DC estão o Super-Homem, o Batman, o Lanterna Verde, o Flash, a Mulher Maravilha e outros mais.

Qual a diferença fundamental entre os heróis dessas duas editoras? Os alter-egos. O que eles são quando não estão salvando o mundo como heróis.

Os da DC são sempre bem-sucedidos, altos, fortes, bem barbeados e, na minha opinião, republicanos. Como heróis, são os caras de capa comprida e sorriso no rosto, cores alegres. Óculos, só como disfarce. Cabelos compridos, uma exclusividade e obrigação das mulheres. Sim, o Batman é a excessão de quase tudo isso, não à toa é o mais profundo de todos. Mas ninguém aqui reclamaria se tivesse a grana, as mulheres e o físico do Bruce Wayne.

Já os caras da Marvel são todos uns outsiders na vida pessoal. O Capitão América era um magrelo fracote que se propôs a uma experiência sem muitas perspectivas. O Aranha era o nerd (e, claro, virgem) da sala de aula, zoado por todos. O Bruce Banner era pior ainda, cientista que não comia ninguém, apaixonado pela filha do general, e quando conseguiu seus poderes foi virar logo o Hulk, que perde no teste de QI pra qualquer chimpanzé, tá quase pelado sempre e é caçado pelo sogrão. O Demolidor era um moleque que tentou fazer uma caridade salvando um velhinho dum atropelamento e acabou cego. O melhorzinho é o Tony Stark, que teve um problema com o coração e só sobrevivia usando a armadura do Homem de Ferro. E pra completar é alcólatra. Resumindo, só cara que se fode.

Daí vem a minha opinião. Os heróis da Marvel não são os super-heróis, mas os alter-egos. Eles são mais humanos que tudo, eles são os caras que salvam o mundo dos alienígenas à tarde e tomam um fora da loira tesuda à noite. Eles são como nós.

Nós que somos mancos, míopes, magrelos e gordinhos, feios, mal-barbeados. Nós somos os alter-egos. E, numa tarde de trampo, num fim de semana, nos descobrimos heróis. Sejamos realistas: os fortões, bonitões, os Beckhans, eles nunca estão lá salvando o dia. É chato torcer pra esses caras. Eles são babacas que só fazem parecer menor quem não é como eles.

O Donald Blake foi reeditado recentemente. Você não sabe, mas deve ser apaixonado por ele.
Bem humano, falhas e defeitos que não chegam nem perto de seu heroísmo. Médico manco genial. Afinal, você é ou não é fã de House?

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Uma sexta-feira 13 como todas as outras


Bom, essa semana foi fogo. Pensei em postar antes, mas nunca sobrava tempo.
E veja bem o seguinte: "tempo" não significa "tempo livre", mas sim "tempo sem nenhum pentelho te chamando a cada dois minutos e todo mundo olhando no seu monitor". Vida de escritório, uma das possíveis causas de extinção da humanidade, segundo a NASA e o Nostradamus.

Sexta é definitivamente o melhor dia da semana. Se você acha que é o sábado, desculpa. Te lembro que o dia seguinte do sábado é o domingo. É um filme drama, começa ok e vai muito bem, mas o final é trágico. Tipo "Um Dia de Fúria". A sexta é tesão porque você trampa "teoricamente" mais leve que nos outros dias porque no fim do dia pára no bar pro happy hour, onde você e todo mundo que você não entende no trampo se entendem em torno de uma garrafa de breja. Eu ainda peço uma Germaninha pra dar sabor pra vida. E o melhor é que o meu dia seguinte é o seu melhor dia da semana, o sábado.

Isto posto, sexta é um tesão. Então, como pegar o melhor dia da (minha) semana e transformar num dia cagado? Pensa comigo. A primeira coisa a se falar de uma sexta-feira 13 é que ela tem vários outros dias do terror (sem nomes tão poéticos pra dar medo): segunda 9, terça 10, quarta 11 e quinta 12. O Terror começa muito antes, amigão.

Não vou nem a pau fazer aquela pesquisa histórica falando as origens do dia, etc., "Jesus foi morto numa", etc. de novo. Quer saber disso, liga na Globo que vai ter reportagem do assunto em todos os programas merda.

A sexta-feira 13 nada mais é o final de uma semana estressante. Só que a galerinha, em vez de ver na sexta a salvação, vê o fim do mundo. As pessoas esperam isso de uma sexta 13. Como as pessoas esperam um dia em 1ª marcha na quarta de cinzas. Dane-se que o fim de semana tá chegando, é um show de gente entrando no trampo em tom apocalíptico, dizendo que o job "deu uma merda fenomenal, temos de achar os culpados". A humanidade tem esse lance com a bruxaria, descobrir quem é a bruxa e virar caçador de bruxa. Aqui tá bem assim, apontam o dedo na cara de um, já começam a preparar a fogueira no segundo seguinte.

Eu não tenho medo de sextas. Antes, tenho medo das segundas. É nas segundas que as pessoas descontam as frustrações do fim de semana. Todo mundo espera se dar bem no fim de semana. Daí o sujeio se fode (ou não fode) e resolve foder a sua semana.

Eu espero que meu fim de semana seja muito bom. Mesmo perdendo muito do meu tempo no sábado resolvendo uma pendência sacana (que virará um post um dia), vou aproveitar como se fosse o último fim de semana da minha vida. Como sempre faço.

Uma boa conclusão seria essa. Se você estiver num filme de terror e morrer na sexta 13, relaxe: você vai chegar no paraíso a tempo de aproveitar o fim de semana inteiro.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

12 de junho

O dia dos namorados, na minha humilde opinião, presta serviço aos contrários.
Se é um dia que “pode” fazer alguma diferença para quem namora, tem muito mais efeito para quem não o faz.
Veja.

Quem namora tem a obrigação institucional de comemorar o dia dos namorados. Dane-se se um dos dois (sejamos sinceros: o homem) não estiver com vontade de comemorar coisa que seja no dia. Aliás, uma negativa ou um mero desinteresse de comemora-lo é motivo para uma briga. Poético, um dia do namorado terminando com dois solteiros.

Já quem não namora, esse é o provável felizardo. Também tem uma obrigação: a de se divertir muito em alguma balada (veja bem, qualquer balada, de livre e unicamente sua escolha). Como você eleva isso à potencia de todos os solteiros, e não de um par que pode não compartilhar seu gosto no fatídico dia, é quase certeza que no dia dos namorados você, nobre solteiro(a), entre numa festa só com gente livre, desimpedida (com a ajuda do álcool, também desinibida) e doida pra não lembrar o que é ficar sozinho.

Por isso eu nego a falta de lógica. O dia não é binário (tendendo ao negativo), é múltiplo.
Não fosse o medo da quebra da tradição moral (dos tempos que pra beijar era estar namorando) ou da tradição econômica (porque não se vende presentes para solteiros, raios), o mundo podia se separar da hipocrisia.

Que se institua: 12 de junho, o dia dos solteiros.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Haikai relâmpago

O palhaço, só
Mais um cara sem graça
No meio dos cegos

domingo, 1 de junho de 2008

Darwinismo em São Paulo


São Paulo não é uma cidade futurista. É atemporal.

No sentido que em São Paulo você não encontra uma predominância da modernidade. Ela está presente tanto quanto elementos "medievais".


Do lado daquele metrô lá, que você pega com a carteirinha de integração, tem a feira.

O metrô: transporte "do futuro", tem muito na Europa, ignora a contrução das ruas e o estilo do terreno pra te levar em uma linha reta. É pago com seu dinheiro virtual, já que você não precisa mais das notas. Basta o crédito. Acho que das 5 à meia-noite.

A feira: tá na raiz da nossa cultura desde lá na Europa. Sem entrada USB e códigos de barras. Dinheiro, só o vivo. Foi por causa das feiras que ele foi criado, me atrevo a dizer. Das 3 às 3 da tarde.


Ali naquela avenida passam os últimos modelos de carro, e as últimas carroças. E naquele poste que vai ser tirado logo que aterrarem os fios tem aquele embaraçado, dos fios de uma pipa. Pipa, de antes de ter fio de eletricidade.


É o Darwinismo, sobrevive o que está adaptado na cultura. Nosso mundo de tendências e hábitos trocados entre milhões de pessoas seleciona o que conta uma história, contradizendo literaturas futuristas. Tem coisa moderna que aparece e desaparece em uma estação. Tem coisa que a gente toma um susto quando percebe que ainda não desapareceu, e que a gente ainda acha legal.


E tem coisa que aparece, parece que não vai vingar e só depois ganha o espaço merecido.

Sim, os graffites. Coisa do começo dos 80 em São Paulo, se não me engano, de 7 anos pra cá se tornou a maior expressão artística da cidade. Aliás, já somos a cidade mais graffitada do mundo. Não tem pra que não. Já que tiraram a árvore e ergueram uma parece, pelo menos vamos botar uma cor. Não é capricho não. Quem aqui não pinta as paredes de casa (de uma cor que não o branco)? Quero que pintem a cidade sim, ela também é minha. Que nem fazíamos com os cadernos: encapar com imagens bem locas aquela capa careta que veio da fábrica.


Pintar as paredes é pré-histórico ou futurista? É pintura rupestre com mais tecnologia ou é o mais puro urbanismo avant-gard?

É atual, e enquanto vivemos esse presente, é atemporal. Como o metrô e a feira.