tag:blogger.com,1999:blog-45016507992369135912024-03-13T04:05:02.642-07:00Subo Nesse PalcoRoberto Wolviehttp://www.blogger.com/profile/17210031248726149815noreply@blogger.comBlogger40125tag:blogger.com,1999:blog-4501650799236913591.post-23445201350530709932011-03-23T09:36:00.000-07:002011-03-23T11:26:18.438-07:00Você já sabe o refrão?<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://1.bp.blogspot.com/-_mApmVPacoA/TYo5qkGWobI/AAAAAAAAAPM/JSYR7kzgbO8/s1600/snoopy-jazz.jpg"><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px;" src="http://1.bp.blogspot.com/-_mApmVPacoA/TYo5qkGWobI/AAAAAAAAAPM/JSYR7kzgbO8/s320/snoopy-jazz.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5587341691114135986" border="0" /></a><br />Dá pra acreditar?: faz mais ou menos um ano que não escrevo no blog.<br /><br />E motivos para escrever e para não escrever existem.<br />Tenho, claro, repensado um monte de coisas, e não gosto de tentar escrever quando minha cabeça está "embarulhada" (para usar um termo genial do James). Mas, paradoxalmente, alguns dos meus melhores textos vêm quando escrevo assim.<br />Muita gente diria que os melhores, porque eles têm uma pequenas reviravoltas e saliências que deixam tão, tão orgânicos. Confusos, mas envolventes.<br />Isso seria motivo tanto para escrever quanto para não.<br />Anyway, tem os motivos para escrever, e vou citar dois principais.<br />Nesse meio tempo, conheci muita gente. Muita gente que ainda falo ou que não falo mais tanto. Mas, constantemente: gente que me pedia para voltar a escrever.<br />Não sei se as pessoas me pediam isso porque esse blog tem muito do que alegadamente define meu maior talento, ou se a admiração era real.<br /><br />It doesn't matter.<br /><br />Outro motivo é que todo ano eu me prometo que vou "ler mais". Eu ainda me apego ao sonho quixotesco de cumprir a meta que o Carrascoza me passou uma vez, "1 livro por semana". É muito, hoje eu sei. Não na época, eu na faculdade, acreditando que me apaixonaria tanto pelas letras e palavras que passaria o dia envolto por elas. Hoje eu sei que são as pessoas. As palavras são só o que a gente coloca no espaço entre pessoas - tanto que fluem melhor na escrita quando estamos sozinhos. Bom, esse ano eu comecei lendo bem. Estou pegando o que deveria ser o meu "food for thought".<br /><br />Mas não vou fazer deste post mais um explicando por que eu não tinha escrito mais. Tem uns 3 ou quatro com esse tema, todos nos "recentes".<br /><br />Vou falar sobre padrões.<br /><br />Claro, o ponto de partida são os meus padrões. Mas, antes de tudo, uma explicação nada menos que fundamental. Padrão é uma coisa que se repete de tal maneira que algumas pessoas (eu e os gregos da antiguidade, por ex.) acham que o Tempo é cíclico, na verdade. Que as situações na sua vida se repetem de tempos em tempos, como o refrão de uma música. E, mesmo a parte que não é o refrão, ela tem um rítmo que vai se repetindo, muda a letra. A coisa mais normal do mundo, inclusive, é você pegar um pedaço da primeira parte e misturar com um da sergunda, não é mesmo? Sim, tanto quando falo de músicas como quando falo dessa metáfora de R$ 10. A gente revive coisas o tempo todo, e confunde também o que sentiu em uma situação com o que sente na outra.<br /><br />Pra analisar com precisão, precisamos abrir o foco. É como quem trabalha com tratamento de imagens, a pessoa precisa voltar ao tamanho original para ver como está ficando e depois voltar para o zoom do detalhe que está tratando. Tem como fazer isso na vida, nem sempre é fácil.<br />É pra isso que existe terapeuta (que eu nunca fiz, improviso by myself conversando com as pessoas nos mais diversos meios): o terapeuta te "iça" lá pra cima, você olha a situação, pensa um "Pouuuuts, saquei. Tava vendo tudo errado. Pode me descer de novo."<br /><br />E agora, eu escrevendo tudo isso como todas as pessoas escrevem num blog - o conhecido ar de "veja só, iluminei, agora aprenda comigo" - e você pensa "que bom que ele iluminou, gostei disso, vou pensar sobre".<br />Minha resposta é NÃO.<br />Eu não iluminei porra nenhuma.<br /><br />Eu entendi isso, quase como você que lê agora. Mas eu normalmente faço ao CONTRÁRIO.<br />Quem me conhece sabe como eu sou. Eu sou o cara que não virou piloto de motovelocidade, virou dublé que salta de moto sobre 8 caminhões, porque sabe cair muito melhor do que fazer uma curva certo.<br /><br />Eu sempre sei que o lance é você dar o zoom out, olhar lá de cima e o mais importante: não repetir erros.<br />Mas eu repito às vezes. Claro, eu aprendo também e não repito tantos outros.<br /><br />O lance é que, de um jeito ou de outro, eu fico sempre pensando sobre os desdobramentos de tudo. Do que fiz e do que não fiz.<br />Isso é meio que uma sina de pensar sobre os padrões, você começa a comparar suas respostas "atuais" com as que deu na última volta da espiral e fica imaginando como seria o efeito dessa resposta "daquela" vez.<br /><br />Droga, estou odiando o número de aspas que estou usando no texto, elas parecem muito mais necessárias depois dos livros que li esse ano. Os livros são como o gosto residual de café ou pimenta, alteram o gosto de tudo que vem depois. E eu sou viciado nos dois (três?).<br /><br />Esse tem sido até agora um post típico meu: escrito como eu falo, alguma piração com linguística em dado momento, uma metáfora-chave, duas ou trãs divagações e, claro: agora eu tenho a responsabilidade de fazer o final que amarra tudo. (E esse parágrafo foi o meta-texto que também aparece por vezes).<br /><br />Eu estou, finalmente, aprendendo a ver quais são os refrões. Eu estou vendo os meus impulsos de cantar algo errado quando a letra na verdade é outra - e me corrijo nessas horas. Eu estou até mesmo acertando o ritmo do todo, prevendo, mas sei que achar que estou vendo tudo é o maior erro. Mas o meu lance é: eu sempre improviso. Quando sei e quando não sei a música.<br />Eu não vou tentar acertar seguindo a regra. Isso não sou eu. Eu vou continuar improvisar de maneiras diferentes.<br /><br />Porque improvisar da mesma maneira no fim das contas é mesma coisa que repetir um refrão.Roberto Wolviehttp://www.blogger.com/profile/17210031248726149815noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4501650799236913591.post-85738883776935024302010-06-04T12:28:00.001-07:002010-06-04T12:31:49.106-07:00Entre vinhos e amigos<p class="MsoNormal">Eu começo o dia encontrando um grupo de congressistas. Quem lidera o grupo, o cara que organizou toda a coisa, é o Michael (vou chamar de Mike daqui pra frente, acho mais coloquial). Esse Mike se provou um cara muito atencioso, até pelo fato dele ter aquele hábito de levar cada palavra <span style="mso-tab-count:1"> </span>que você fala em consideração. Eu, que costumo falar muito e às vezes só para preencher o espaço entre uma ação e outra, descobri que ele prestava atenção a cada uma delas. Isso a princípio me intimidou um pouco, claro, mas o cara é tão do bem que eu passei a perceber isso mais como atenção e respeito mesmo, não como uma investigação como normalmente acontece quando uma pessoa presta atenção demais em mim. Então fomos. Um passeio para conhecer um banco de comidas (sim, eu também me perguntei que catzo era isso). Um banco de comida é um esquema assim: os caras recebem doações de alimentos, caixas e caixas, e vão repassando para todo tipo de instituições que precisam. Dali fomos pruma fazenda que também estava envolvida no esquema, onde voluntários mantinham uma horta. Bom, resumindo, foram meia dúzia de visitinhas dessas, sempre com um big lado humanitário voltado a ajudar o pessoal americano que tá passando fome – uma coisa muito mais frequente que a gente pode imaginar. A economia dos caras tá o contrário da nossa: a gente crescendo e os caras com números péssimos. E quanto mais desastre, mais os bancos de comida (food banks) crescem seus números de sucesso: pounds de comida distribuída.</p> <p class="MsoNormal">Esses passeios sempre têm um lado de descoberta interessantíssimo. O primeiro de ontem foi o almoço. Fomos prum pequeno prédio, ainda nos detalhes finais de sua construção, e comemos um almoço completo em que só dois ingredientes não eram orgânicos das fazendas envolvidas nessa cadeia toda. É uma coisa muito engraçada comer uma pá de coisinhas diferentes, muitas delas que você nunca viu na vida – talvez só em filmes.</p> <p class="MsoNormal">Claro que para mim a parte mais legal não era descobrir como era esse esquema de banco de comidas ou descobrir alimentos mas sim <b style="mso-bidi-font-weight:normal">conhecer pessoas</b>.</p> <p class="MsoNormal">Foi isso que fiz.</p> <p class="MsoNormal">Vou começar falando de uma dupla de canadenses, ambas ainda na faculdade: Chloe e Louise. Elas eram gente boa demais, conversei bastante com ambas, acabei pegando uns 20 minutos para dar uma pequena aula de história do Brasil e da América Latina quando elas me perguntaram sobre opções legais de viagens no Brasil e se espantaram com o quanto nosso território tem ótimas atrações turísticas.</p> <p class="MsoNormal">Nesse ponto, uma pequena divagação: 80% das pessoas, ao ouvir que sou do Brasil, me respondem “Best place in the whole world”. Mesmo.</p> <p class="MsoNormal">Então eu conversei com essa dupla mais que simpática e contei tudo que elas podem fazer de legal, com ênfase nas cachoeiras. Uma delas, que namora um colombiano, me perguntou o quão longe a Colômbia é das cachoeiras que citei de Minas Gerais. A resposta deixou ela decepcionada, mas acho que ela não vai abrir mão dessas cachoeiras tão fácil. Vou ver se tiro uma foto das duas hoje para colocar nesse post.</p> <p class="MsoNormal">Quando esse passeio todo acabou, o Mike, cara que tá organizando o congresso todo, perguntou se eu tinha me matriculado pro próximo programa: visitação a uma cervejaria e a uma vinícola. Sentiu o drama? Eu nem sabia que teria esse outro passeio, mas ele era 100% mais a ver comigo que o anterior. Perguntei na hora se não tinha como me encaixar nesse esquema e ele foi checar. Voltou com a resposta: sim, você está dentro.</p> <p class="MsoNormal">Uma diferença básica que se podia notar: se no primeiro passeio havia 5 mulheres para cada homem, nesse era 1 pra 1.</p> <p class="MsoNormal">E tudo foi se encaminhando de tal maneira que eu comecei a ter certeza que faria uma das melhores baladas de toda a viagem. Pra começar pelo grupo que compôs a nossa van. Por pura sorte, eu fui só com os figuras que não tinham nada a ver com o ar geral que se pode esperar: a motorista era uma estudante mestiça de 22 anos, vinda do lar dos whiskies Bourbon. Não tinha como ser melhor. O Bourbon favorito dela é o Jim Bean, o mesmo que eu. High-five instantâneo. Ela é tipo uma orientanda do Mike, estava lá para dar uma força dirigindo uma das vans e se revelou uma ótima companhia. </p> <p class="MsoNormal">Tinha também a Erica. Italiana de Piemonte, eu tomei um choque porque achei que ela tinha 35, mas na verdade já está com 43, dois filhos. Italiana desbocadíssima, comemorou quando o cara da cervejaria disse que só poderia nos falar a temperatura em Celsius porque não tinha aprendido em Farenheit. A gente riu demais, a tarde toda. Ela tem opiniões fortíssimas sobre bebidas: não acredita em nenhum vinho que seja doce ou suave. E falou que acha interessante o fato de entender um pouco quando eu falo português, já que em Portugal ela não entende nada que os caras falam. Expliquei minha pseudo-teoria de que nós paulistas falamos um pouco como os italianos, dessa maneira mais cantada. Mas o figura-mór que tava com a gente nessa van era o Jeff. Um professor de filosofia quase sessentão que resolveu estudar food and drinks e acabou se apaixonando pelo assunto. E entenda que no, quesito “paixão”, a especialidade do cara eram as bebidas. Ele manjava tudo sobre o processo de fazer a cerveja, inclusive de coisas como a quantidade de lúpulo e a temperatura do malte e tals. Verdadeiro especialista. Sim, eu estava com as duas pessoas que secaram as amostras de cerveja que trouxeram após a aula teórica.</p> <p class="MsoNormal">Momento mágico: cada um do grupo falando sua cerveja favorita e eu digo a minha, a API Dragonfly. Ele se aproxima de mim, falando quase um segredo.</p> <p class="MsoNormal">“So, Roberto, do you know what they say about peolple who loves API...”</p> <p class="MsoNormal"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language:EN-US">“No, I don’t, Jeff.”<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language:EN-US">“They say they are ‘hop-heads’.”<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language:EN-US">“And what does it means to be a ‘hop-head’, Jeff?”<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language:EN-US">“API attracts hop-heads because they have a specific flavor, of another substance. </span>That’s they are also called ‘pot-heads.”</p> <p class="MsoNormal">Nessa hora eu desabei de rir. O tal professor de filosofia de Utah tinha uma percepção muito jovem e única das coisas. Deus ama os bêbados.</p> <p class="MsoNormal">Então essa trupe única voltou à van para irmos ao vinhedo que faz vinhos entre os mais conhecidos entre todos os dos EUA. Seguimos o caminho inteiro rindo, certos que o negócio só tinha a melhorar dali pra frente. Chegamos à conclusão que éramos as melhores companhias que poderíamos ter naquele passeio – pessoas verdadeiramente (e não só academicamente) apaixonadas por bebida ali.</p> <p class="MsoNormal">No vinhedo rimos muito mais. O cara que supervisionava toda a produção era um ex-militar de 50 anos. Um coroa inteirão que nunca perdeu a cara de militar americano. Ele foi explicando vinho por vinho enquanto estávamos na frente daquela casa construída no século 18 no meio de um cenário maravilhoso. Enquanto ele mostrava cada vinho, eu olhava para a cara da Erica e ela ria com a indisfarçável expressão fácil de “isso não é vinho nem a pau, só se for pra esse cara”. O bom é que só eu vi, e essa diversão durou muito tempo. Encontramos também nesse passei o Scott, um novaiorquino negro com longos dreadlocks e um óculos intelectual. O cara fez uma manha ótima: a mina que estava a seu lado deixou a taça dando sopa em cima da mesa e ele sempre a oferecia para ser reabastecida – mas era ele que malandramente tomava as duas. Eu reparei nisso e antes mesmo que eu pudesse soltar uma palavra que fosse a respeito disso, o Jeff disse “Hey, how long that Guy have been with two glasses? I need a second one too!” Ri demais, quase caí.</p> <p class="MsoNormal">Eu com certeza não estava no estado mais sóbrio de todos quando o marine explicou que a fita amarela em volta das parreiras era eletrificada para espantar os cervos e eu perguntei se aquela mancha preta em determinado pedaço era o Rudolph, a rena do nariz vermelho. A Erica e o Jeff riram tudo que conseguiram e ela ainda me falou o que seria o melhor sinal de aprovação “oh boy, you’re mean.” Ali, no meio daquele cenário inesquecível nos campos de Indiana, junto com esse povo, eu tive certeza: havia encontrado na viagem pessoas como eu. Incorrigíveis, e prontos para rir de tudo.</p> <p class="MsoNormal">De lá fomos para um jantar, do qual eu não fazia a mínima ideia do que esperar. No caminho, fiquei contente quando a garota mestiça disse que meu inglês era muito bom. Eu não pratico nunca, estava receoso quando soltei as primeiras palavras por aqui e me senti o Tarzan em Nova York.</p> <p class="MsoNormal">E então chegamos ao tal lugar onde seria o jantar: um imenso rancho, com pelo menos umas 40 pessoas. O dono do lugar, também chamado Jeff, é o cara que nos recebe. Uma camisa branca cheia de folhas de maconha e um chapéu branco de rafting me fizeram ter certeza que tudo era muito mais descontraído do que eu poderia imaginar antes.</p> <p class="MsoNormal">Ele nos cumprimenta e não lembro exatamente o que falamos, mas ficou claro para ele e para nós que estávamos na exata mesma vibe. Ele nos leva à fila para pegarmos o jantar e, surpresa: feijoada. Sim, completa, com coisas que nem nós colocamos, como testículos, miolo e coração do porco – além, claro, do mais que impressionante crânio como decoração. Tudo lá planejado para tirar os americanos do chão gastronômico a que eles estão acostumados. Para beber, dois tipos diferentes de cerveja. Não tive dúvidas, me servi de mais um belo copo de API. Como nós fomos os últimos a chegar, pegamos a mesa que sobrou, uma um pouco mais afastada. Isso, eu fui perceber, foi o acontecimento mais propício de todos. Porque, por sermos os últimos a pegar o prato e sentarmos em uma mesa vazia – mais o fato de termos feito a brincadeira com a camisa de fumeta do cara assim que chegamos, julgo – foi o fato que ‘convidou’ o cozinheiro, um ruivo que estava da mesma cor <span style="mso-tab-count:1"> </span>que seu cabelo raspado a se sentar em nossa mesa, junto com seu suchef e com o Jeff dono do rancho.</p> <p class="MsoNormal">E então tivemos um jantar simplesmente fora de série. Conversamos sobre aquela comida que eu conhecia tanto e a conversa fluiu como as grandes conversas o fazem. Falamos sobre cozinhas, comidas de um dia específico da semana (como a feijoada nos sábados e quartas), peculiaridades comuns entre Itália e Brasil, viagens... enfim, mundo de coisas. Do nada a Erica me saca um pacote de fumo de cachimbo e começa a bolar um cigarro de tabaco americano. Aposto que muita gente ali olhou para nossa mesa e, vendo tudo de longe, pensou “lá vão aqueles estrangeiros loucos fumar maconha agora”. Mas como na minha mesa estava não só ela como o dono do rancho e a equipe da cozinha, me senti à vontade para fumar um cigarro que não parecia mas era só tabaco.</p> <p class="MsoNormal">Saímos todos para uma caminhada no interior do rancho. Nesse momento eu tive oportunidade de conversar melhor com o Scott, o cara de Nova York. Não lembro bem como e puxamos o assunto para comida e religião e falei da Festa de São Cosme e Damião. E não é que o cara manjava tudo de candomblé e Brasil? Mesmo. O cara tinha vindo para o Brasil um tempo e feito um intensivo daqueles, manjava tudo da cultura negra da Bahia e do Brasil. Aprendi muito mais com o cara do que ele comigo.</p> <p class="MsoNormal">Então veio uma parte interessante em que alimentamos búfalos com baggels e ainda vimos uma ninhada de porquinho, acho que uns 15, e sua mãe nervosa. </p> <p class="MsoNormal">Na volta desse evento todo, nós estávamos na van com o Mike dirigindo. E eu tive um daqueles momentos bem portugueses de perceber o todo do momento e ficar se dizendo o quanto tudo era maravilhoso. E daí eu soltei um “oh, man, this is just...”, e o Mike disse “Explain.” E eu, claro, não soube explicar direito, devo ter parecido só um cara meio ébrio, mas disse algo do estilo “esse é uma daquelas situações únicas da vida que você sabe que nunca se repetirão – em nenhum outro lugar, em nenhuma outra época – e por isso são únicas. E essa noite aqui em Bloomington foi exatamente isso.”</p>Roberto Wolviehttp://www.blogger.com/profile/17210031248726149815noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4501650799236913591.post-69052371607881125042010-06-01T17:16:00.000-07:002010-06-01T17:18:19.714-07:00On the Road parte 1<p class="MsoNormal">Aeroporto de Nova York.</p> <p class="MsoNormal">Um lugar comédia, com menos da metade das pessoas sendo americanos. Situação comédia: uma mulher chinesa pede ajuda ao casal de olhos azuis na minha frente. Ela também achou que eram americanos – como eu. Não entenderam um puto do que ela disse – como eu, de novo. Desço o olho rápido pro jornal dobrado na bolsa da senhora do casal e tá lá: russos. Atrás do nosso banco, a imensa família de indianos ri e se diverte com Shiva sabe o quê. É o BRIC presente da maneira mais metafórica e realista de todas ao mesmo tempo.</p> <p class="MsoNormal">Enquanto isso, poucos americanos, quase nenhum. Eles olham em volta e sabem. Eles são os estrangeiros no mundo da nova economia.</p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal">Voo São Paulo – Nova York.</p> <p class="MsoNormal">Ouço a aeromoça americana me perguntando qual bebida eu quero. A sede era tanta, ainda mais eu com essa tosse que tá pegando a garganta, que eu nem pensei: “Coke, please”. A Coca-Cola, em uma latinha a resposta pra tudo que tava me incomodando no bendito voo. Isso tudo pra explicar essa falha que não combina comigo: não perceber que aquela caixinha vulgar com aquele suco de uva que o coxinha pediu era na verdade vinho. Pedi “some wine, please” e ela, uma loira alta e parecendo pouco mais velha do que eu, me fala “are you in age of drinking?” <span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US">Eu, rindo, “Yes, but I thank you for the mistake.” </span>Me pergunta a maioridade alcoólica no Brasil e eu digo. Logo mais passa o outro comissário de bordo, acho que o único brasileiro. Esperto, vê meu copo vazio e pergunta se quero mais. “Sim, mais um vinho, por favor.” E daí vem o insólito: “Quantos anos você tem?” “Trinta, hahaha. Jura que eu pareço ter menos de 18?” E o cara fecha com a pérola, perguntando rápido para me pegar no pulo (como o Doutor Chang fez com o Hurley): “E em que ano você nasceu?”</p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal">Tá certo que tava escuro, era depois da janta, antes do pessoal dormir. E também que eu fiz a barba antes do voo. Mas... menos de 18? Ainda não entendi se foi elogio ou tentativa de humilhação.</p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal">Aeroporto de Nova York</p> <p class="MsoNormal">Atração à parte: os passarinhos que ficam voando e ciscando dentro da área de embarque. Quando vi o primeiro, sozinho, fiquei com dó e pensei “de algum jeito ele vai sair, tomara”. Depois vi mais outro. Agora estou vendo pequenas revoadas. Mas o mais engraçado que se eu pergunto para qualquer um, os americanos são os caras que respiram até oxigênio artificial e nós somos os caras que vivem em harmonia com a mãe natureza, comemos frutas, somos quase o Tarzan. Só que quando tem qualquer pássaro – geralmente pombas – em qualquer lugar no Brasil, as pessoas espantam. Não adianta me dizer que é racional. Lembra mais um tique, dada a velocidade e falta de controle com que as pessoas agem. Aqui no aeroporto americano, ninguém se importa com os pássaros. Eles estão em harmonia com a rotina dos voos.</p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal">Epílogo</p> <p class="MsoNormal">Não dormi direito. Claro. Eu nunca encontro posição quando o assunto é dormir em uma cadeira. Mentira, dessa vez até encontrei. Mas era cada posição de louco que eu acordava de vergonha e tentava algo um pouco mais normal. Conclusão, deu um sono daqueles assim que sentei na área de embarque com a ideia genial de esperar rapidinho as 8 horas sentado. Quase cochilei hora dessas. Cochilei sim, vai. Mas até o cochilo acabou. Só o que não para são os pensamentos. Então resolvi escrever. No Word mesmo. Que Internet também não há – só paga. Bem-vindo à America.</p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal">Anúncios da IBM</p> <p class="MsoNormal"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language:EN-US">Power grids reduce electricity bills for you. Smarter energy for a smarter planet.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language:EN-US">Roads eliminate their own congestion. Smarter traffic for a smarter planet.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language:EN-US">Medical histories alert doctors before patients get sick. Smarter healthcare for a smarter planet.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language:EN-US">Store shelves know exactly what customers want. Smarter retail systems for a smarter planet.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language:EN-US">Let´s build a smarter planet.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language:EN-US"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal">Confere comigo. O planeta mais esperto é o seguinte: não gastar menos energia, mas menos grana com isso; não parar de andar de carro, simplesmente querer que o trânsito seja resolvido; fazer um minority report da saúde e receber remédios do médico clarevidente; e encontrar nas prateleiras o que é indicado para o meu perfil sempre, nunca algo novo (para que mudar?). Será que a IBM quer um mundo mais esperto ou mais americanizado?</p>Roberto Wolviehttp://www.blogger.com/profile/17210031248726149815noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4501650799236913591.post-18124636140732055702010-05-26T06:43:00.000-07:002010-05-26T08:39:20.088-07:00Encontros no caminho<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/_7ABFmcTfCrA/S_06niAsVNI/AAAAAAAAAME/ii_MTPVS2HE/s1600/on-the-road1.jpg"><img style="float: right; margin: 0pt 0pt 10px 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 320px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_7ABFmcTfCrA/S_06niAsVNI/AAAAAAAAAME/ii_MTPVS2HE/s320/on-the-road1.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5475597172771411154" border="0" /></a><br /> Vem acontecendo de novo aquele lance de encontros improváveis.<br />Voltei a acreditar nisso.<br />De encontrar pessoas que a gente jura que nunca mais encontraria e, de repente, sorte pura, você cruza numa rua diagonal de paralelepípedos voltando para casa.<br />Li agora mesmo sobre uma conhecida que encontrou a Cat Power na porta do Ó do Borogodó. A gringa lhe pede um cigarro, ela oferece e tals, comenta "Você me lembra a Cat Power, sabia?" e daí a resposta "Prazer, Cat."<br />Talvez isso tenha a ver também com eu estar começando o caminho de On The Road. Isso vai pedir uma daquelas minhas divagações.<br /><br />Tinha aqui no meu trampo um redator muito gente boa (aliás, todos os redatores daqui são gente boa, embora cada um bem a seu modo). Mas esse cara era uma daquelas figuras únicas. Bem um personagem beat, in a certain way. Era um negrão com um sorriso de pitbull que começava em uma orelha e terminava na outra. Acho que um dos caras mais humildes que conheci na minha vida inteira. E eu absolutamente amo a humildade. Gosto tanto que ela me escapa, muitas vezes, como é típico dos amores. Pois esse cara entrou na agência inegavelmente menos experiente que os outros três redatores. Mas ele não só sabia disso como fez disso sua meta: estudava com cada um de nós um tanto, aprendia truques - e a gente sabe que a humildade é a melhor ferramenta para aprender. E vai e faz e o cara se tornou o melhor de nós. Não que ele admitisse isso, mas ficou claro pra mim. Ele se esforçava atrás da grande ideia, enquanto eu a chamo como se chama um gato. Esse redator era muito louco. Mesmo. Ele dava cambalhotas no meio do departamento, fingia que era soldado e saia rastejando com um cartucho de impressora empresarial que parecia uma escopeta, tudo isso sempre declamando uma narração. Para mim, a narração era a malhor parte da história toda. Tinha gente que curtia as caretas, as danças, mas eu ficava atento nas narrações, na oralidade. Porque esse cara tinha um bendito caderno. Caderno de capa mole, espiral, deve custar uns quatro reais na papelaria, inteiro preenchido por uma letra frenética de quem escreve sem muito tempo para pensar em como organizar ou deixar espaços em branco para depois se encontrar no meio daquilo tudo. Ele escrevia feito um louco, mas o conteúdo era genial. Agora vou chutar minha modéstia pra casa do caráter e falar: quase todo mundo lia ou ouvia ele falando aquilo e falava rindo "esse negão é louco, hahahaha". Mas eu ouvia e lia aquilo e sacava: aquilo tinha a pegada de poesia beat. Era isso, poesia marginal, textos de loucura de cara que tá na rua, vem pra agência não pra viver mas pra juntar sua grana. Aquele cara era um fucking beat na essência e eu percebi isso. Não expliquei pra mais ninguém porque acho egocentricamente que só eu entenderia (e talvez mais o diretor de arte que me surpreende por saber de tudo). Mas esse é personagem pra outra história. E esse redator, quando alguém pegava seu caderno e começava a rir das loucuras escritas, tomava uma atitude genial. Em vez do esperado "tomar o caderno e tentar esconder", ele simplesmente pedia o caderno e começava a declamar, só batendo o olho vez ou outra porque, no íntimo, já sabia de cór o texto que o curiosos lera. Ele soltava as palavras de uma maneira teatral e escrachada, mas isto tenho de certo que era pra agradar o povo, dar o pão e circo na linguagem que mais se encaixa. Aposto que ele não as escrevia para ler de maneira jocosa, mas com um ar de visão sã no meio de uma baita loucura. Daí um dia eu estou voltando do almoço e passo numa banca. Vejo, naquele porta livrinho de dez pilas - isso é uma genialidade, mas ninguém repara porque é como se estivesem vendendo originais do Machado de Assis no meio das Contigos e Boa Formas. Eu parei porque vi um amarelinho que me encarou e falou "Não finge que não me viu, porque eu te vi e tô olhando pra tua cara agora." Na capa um Cadillac vermelho e o nome "On The Road". Insight de pedestre absorto, comprei na hora. Escrevi uma dedicatória na capa que não sei se foi pretenciosa ou pedante - eu incorro nos dois erros com a mesma frequência com que tomo café atualmente - e presenteei o cara na volta do almoço. Aquele cara tinha de ler aquilo. Distoa completamente de tudo que a gente vive nessa criação, a busca pela piada sexual mais rasa e a imitação mais folclórica, mas naquele momento eu sabia que aquilo era um resumo do que eu via nele e do que ele via em mim. Ele costumava me falar "Porra, Robert, tu é um cara inteligente, você é muito cerebral, é diferente da pegada geral, curto isso em você." Então pronto, entreguei pra ele um livro que tinha a essência dessa admiração intelectual mútua entre dois caras meio perdidos. Ele recentemente mudou de trampo, acho que ainda vou encontrá-lo muitas vezes, se Deus quiser e a preguiça não impedir.<br /><br />Daí tou eu pssando na frente de uma banca e vejo o mesmo livro. E o livro novamente me olha de frente e me diz "Ok, você já me comprou como presente mas ainda não me teve, não transou comigo." Aceitei o desafio, na exata mesma banca peguei aquele novo On The Road, capinha amarela, e levei comigo. Comecei faz pouco e já vi que é sobre tudo que eu muito pretensamente sempre falei nos quatro cantos que era minha essência. "Eu sou meio beat", "curto os loucos", "Deus ouve jazz" e tudo isso que todo mundo já ouviu quando tento parecer mais profundo ou poético. É sobre isso. E eu sei que vou ter de mergulhar nele e sair outro, é o curso natural. Muita gente que leu On The Road mudou pra sempre. Bob Dylan só virou o Bob Dylan porque leu e depois fugiu de casa. O movimento hippie não teria acontecido se o livro não tivesse sido lançado anos antes. Sinceramente, uma puta importância. Um livro sobre pessoas que têm histórias a contar e ouvir.<br /><br />E mal comecei a ler o livro e percebi nele os encontros espontâneos no meio da rua com pessoas geniais. Dessas que você encontra de repente e sabe que pode começar uma vereda nova na vida. Como o redator que citei e ainda não entendi por que não falei o nome dele até agora: Marcio Graciano. Gênio puro, esse cara é um jazz bebop, coisa que eu adoro ser, mas nem sempre consigo.<br /><br />O personagem principal é um cara que escreve, primeiro passo ideal para eu decidir colocar isso no papel imaginário desse fundo branco de janela de postagem do Subo Nesse Palco. O fato é que eu vou ler esse livro porque uma vez o Brunão falou que eu era o Dean, o personagem fascinante com quem o protagonista compartilha o livro. Here we go, comecei o post só com essa primeira frase que me veio na cabeça. Eu estava no busão vindo para o trabalho. Ele demora um pouco mais, mas isso é uma sorte quando você tem um livro, sobra mais tempo e o caminho tem menos caminhadas do que o caminho do trem. E eu lá, com o livro na mão, o fato de ter encontrado ontem na rua uma pessoa que nem conheço direito mas que achei que nunca mais veria na vida - errei, vi ontem e a pessoa me viu também - e do nada me veio só esse começo de post. Vou ser franco, não sei se reproduzi o começo com as palavras que me pareceram tão geniais quando eu esava sentado naquele último banco, o que balança mais. O Brunão sempre me diz que o legal do fundo do busão é que a viagem fica groovie. Fato tão verdadeiro que depois da citação eu sempre prefiro ir em pé no fundo quando estou sozinho.<br /><br />Logo mais parto para uma viagem. Não sei se vou conhecer muitas pessoas por lá, mas o cenário é o ideal. E, como todas as viagens desse estilo que faço, espero uma transmutação. Na última dessas que fiz, fui querendo um tempo do mundo que estava me deixando kinda nuts e voltei diferente. Não absolutamente outro, como um pode esperar, mas pelo menos com uma visão bem outra - até do jeito como as pessoas andam nas ruas por aqui. Agora vou pra outro lugar em que nunca estive antes, de novo para tomar um tempo para repensar meu mundo. Aquele negócio de tomar um copo de água para apagar o gosto do vinho anterior antes de experimentar o próximo. Vou nessa segunda, volto depois de duas semanas. E quero voltar não completamente diferente, mas com um traço que acho que não tenho exercido há algum tempo: a sensibilidade para encontrar, no meio da multidão, pessoas ímpares. Era isso que eu tinha quando eu era mais modesto. Na época em que eu conheci tantas pessoas geniais - o que culminou em eu aprender tanto e ficar mais certo de mim como sou agora. Vai ver que é um processo daqueles: você é plano mas procura saber, fica mais culto e fica cego, sofre pela limitação e se percebe plano, daí procura saber mais.<br /><br />Talvez eu escreva de lá, durante a viagem. Talvez eu só escreva de novo quando eu terminar On The Road. Foi-se a época em que eu tinha certeza de cumprir promessas (quando eu, inocente e inabalável, falava "minha palavra é maior do que eu mesmo").<br /><br />Só prometo isso: vou continuar me surpreendendo com as pessoas que encontro (e reencontro), e vou caminhar sempre nessa direção.Roberto Wolviehttp://www.blogger.com/profile/17210031248726149815noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4501650799236913591.post-89186102488025536582010-05-06T13:50:00.000-07:002010-05-07T08:31:33.982-07:00Uma explicaçãoDepois que comecei com o wolvie.tumblr e com o Buzz, parei completamente de postar por aqui.<br />Por diversos motivos, não só essas duas novidades.<br /><br />Um deles é que não tenho tido as grandes conversas que motivam os textos que eu colocava aqui. Tenho encontrado pouco (na verdade, quase nunca) o Brunão e outros sujeitos que são sinônimos de reflexões e pensamentos que ascendem e vão embora. Tem uma coisa que tenho certo orgulho que é ter montado um círculo de amizades de pessoas que têm muita 'food for thought'. Alguns desses já são considerados meio 'desparafusados' pela maioria das pessoas, mas daí vem a beleza e poesia: lentes com pequenas falhas sempre geram efeitos únicos nas imagens. Eu realmente amo conviver com essas pessoas, elas me fazem pensar que depender de um firmamento é pra quem Deus não quer que tenha asas.<br /><br />Outro motivo: aprendi um pouco de falar menos do que penso (é bom e ruim conviver com pessoas que agem assim, mas eu agradeço a elas). Sim, isso é bem engraçado para mim. Eu que sempre coloco tudo o que me passa pela cabeça - passando por pedágios da alma e do coração - neste blog. Aprendi que posso fazer como um Haikai: falo um tico de nada, subjetivo como a própria vida. Andei fazendo muito disso recentemente. Antes eu deixava uma pista clara de tudo que eu pensava, para só quem não devesse ver não entender o todo. Porque eu gosto de um palco, gosto de encenar minhas histórias. E, mesmo assim, muita gente não via. Agora eu coloco quase um nada de tudo. Mas aposto que, por me conhecer, muita gente vê demais (ou seja, mais do que eu queria). Anyway, cada ferramenta a seu propósito. O blog para falar mais do que eu devia. Os demais para falar menos do que eu quero.<br />Sendo bem sincero, fico com um medo da minha vida ficar só nesses espirros de verdade que twits, buzzes e tumbles me permitem. Eu não sou uma onomatopéia, sou uma ironia. É legal brincar de ser outras figuras de linguagem. Mas nunca deixe de saber como você se conjuga na essência.<br /><br />Por outro lado, e um lado que eu não queria pensar muito sobre, é que eu tenho percorrido menos os labirintos que me levavam até os padrões que revelam meus insights. Eu estava chegando em pontos em que eu poderia ficar também com um 'defeito na lente'. É legal isso com os outros, mas eu andei beirando ficar 'one card shorter of a full deck', como diria o Freddie. Tava na fila desse bar, mas resolvi não entrar agora. Prefiro pensar que isso pode acontecer em algum momento outro da minha vida. O que eu posso garantir é que eu morro antes de virar um tiozão de pullover por cima da camisa, são e pleno de si mesmo.<br /><br />O mais importante desse texto, é: eu precisava soltar a mão. Escrever pra ninguém. Nem sei se vou divulgar esse post nas mídias que citei acima, como costumo fazer sempre. Não me importa agora que leiam, mesmo. Comecei a escrever como muitas vezes faço - sem fazer a mínima ideia do que viria pela frente. Mas, logo de cara, senti que os dedos estavam batendo as teclas naquele ritmo que me prenuncia 'lá vem um post'.<br /><br />Uma coisa no entanto permanece além de tudo: não faço ideia do que vem pela frente, mas vou seguir o Tao. Vou ver onde vai dar.<br /><br />Nos vemos no caminho, me chame se eu estiver distraído.Roberto Wolviehttp://www.blogger.com/profile/17210031248726149815noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4501650799236913591.post-18199650760526937212010-01-21T06:47:00.000-08:002010-01-21T09:08:51.660-08:00Um post de amenidades<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/_7ABFmcTfCrA/S1hwaqexZlI/AAAAAAAAAKc/4NFSYRWn1BY/s1600-h/rebiscoito.jpg"><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer; width: 176px; height: 244px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_7ABFmcTfCrA/S1hwaqexZlI/AAAAAAAAAKc/4NFSYRWn1BY/s320/rebiscoito.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5429212954177398354" border="0" /></a><br />Eu tenho uma pressão de sempre escrever coisas que eu julgue "relevantes" nesse blog.<br />A ideia dele nasceu do fato de muitas vezes eu fazer pequenas dissertações quando conversava bebendo com os amigos. Mais precisamente, quem me aconselhou depois de uma bela conversa dessas foi o Brunão (@brunoip no twitter).<br /><br />Daí que o negócio é que depois disso eu fiquei meio que com um Comitê Avaliador dentro da minha cabeça. Não consegui fazer aquele lance pro qual os blogs foram criados: falar amenidades, coisas pequenas, sem importância.<br />Eu sempre tento dar um peso maior, busco sempre uma linha de raciocínio mais intrincada. Nunca rola um "Ah, diazinho bão, daria tudo por um sorvete de limão agora."<br /><br />Só que, claro, isso reduz demais o número de vezes que posto no blog. Essas linhas maiores de raciocínio vêm justo nos momentos de encontros e devaneios, quando que vou eu parar a balada e falar: "Não, peraê, segura tudo, vou escrever ali no escritório e já volto."?<br /><br />E, quando estou de frente para o computador, também não rolam grandes diálogos internos que justifiquem um post. Só as amenidades mais chatas, vida de escritório.<br /><br />Eu escrevi tudo isso até agora pelo simples fato que quis escrever qualquer bobeira. Qualquer coisinha despretenciosa. E lá vem o superego me falando: "Vai escrever sobre qual vai ser o almoço? Vai diluir tudo que você já escreveu aqui agora com uma simples vontade gastronômica? Mas, por outro lado, faz tempo que você não escreve lá, hein? Tô achando que você perdeu o jeito, perdeu a mão. Agora só sabe de escrever a trabalho. Que decepção, hein? Vai almoçar logo e desencana de tentar escrever blog, não é tua praia."<br /><br />Sim, meu superego é severo. Ele é escorpiano, e de macaco - como eu, claro. Embora todo superego seja também capricorniano, assim como todo id é meio ariano/meio escorpiano.<br /><br />Logo saiu de dentro da cabeça a meia solução. Uma meia ideia como muitas que renderam ótimos posts aqui. A ideia é só a massa, depois que sai do forno a gente descobre se cresceu ou não. E minha meia ideia aqui foi essa canalha, de escrever como é fogo pra mim simplesmente escrever o seguinte:<br /><br />"Estou indo almoçar com a ReBiscoito. O último almoço foi demais, rimos muito. Acho que hoje vai ser tão gostoso quanto. São esses momentos de felicidade compacta no meio do dia que me fazem ter saco pra aguentar as horas antes e as horas depois. See ya."Roberto Wolviehttp://www.blogger.com/profile/17210031248726149815noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-4501650799236913591.post-87019560123644529552009-12-09T06:29:00.000-08:002009-12-09T06:40:41.692-08:00O cangaceiro Cosme (exercícios de Guimarães Rosa)<div id=":23t" class="ii gt"><span style="font-family: arial,sans-serif; font-size: 15px; border-collapse: collapse; color: rgb(34, 34, 34); white-space: pre;"></span><br /><div><span style="font-family: arial,sans-serif; font-size: 15px; border-collapse: collapse; color: rgb(34, 34, 34); white-space: pre;"></span>O nome dele era Cosme.<br /><br />Um do sertão, um encrenqueiro.<div> Um sujeito mais rápido com o rifle que com o perdão.</div><div>Com mais vontade do que honestidade. Por assim dizer.</div><div>E com o riso de moleque e de demônio, metade igual de cada.</div><div><br /><div>Que sempre teve um muito de sua vida indo muito errada porque, de certo, não se enquadrava naquilo tudo.</div> <div><br /></div><div>E então a guerra. E, antes e por isso mesmo, com a guerra: os confederados.</div><div>Confederação. E quem não faz parte dela é contra a tal, e então já um herói.</div><div><br /></div><div>Assim feito, Cosme era um dos bons, um matreiro, um caçador dos que não são bem como a gente.</div> <div>Cosme era um herói, um bom homem que esbanjava dos atos de valor "Magina só, comprava cada tantico de sua glória com a alma d'um soldado confederado. E o cinculitr'di-sangue,"</div><div><br /></div><div>E tiro a tiro, e facada atrás de outra, Cosme se redimiu.</div> <div>Mas nunca mudou. Ninguém que puxa aquele gatilho com o fura-bolo canhoto é bom. Soube disso desde o primeiro passarinho, lá aos dez, isso mesmo.</div><div><br /></div><div>Ele nascera para o embuste, pra ficar plantado dia e noite, pelo simples prazer de matar sem nem se ver. E, quando se aperceber, vai ver já foi.</div> <div><br /></div><div>Morte triste, morte emboscada nesse sertão.</div><div><br /></div><div>Quem não sabe do duro do mundo tem medo dos confederados.</div><div>Quem viramundo, tem medo é de Cosme</div></div></div> </div>Roberto Wolviehttp://www.blogger.com/profile/17210031248726149815noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4501650799236913591.post-50917328695792237372009-10-21T18:52:00.000-07:002009-10-22T06:11:19.234-07:00Despedida em uma noite de luarE então, quando a noite avançou, o paciente deu um suspiro e disse para a bela mulher a seu lado:<div>- Doutora, eu vou falar uma coisa muito importante. Você é muito bonita. E, me desculpe, você é ainda mais sexy. Eu adoraria ter conhecido você em outra ocasião, em outra situação. Eu queria ter tido você - só que de outra maneira. Eu sei que você me acha louco pelo que eu tentei te convencer hoje. Mas, infelizmente, eu não sou um louco. Infelizmente - muito, muito infelizmente - tudo que eu te contei era verdade. E essa é a última vez que nós - do jeito como estou agora - nos falamos. De um jeito ou de outro. Porque você pode acreditar em tudo que eu disse e sair agora. E ir o mais longe que você conseguir. E se salvar, porque eu vou, depois que acontecer, desaparecer daqui e nunca mais voltar. Ou você pode não acreditar em nada, e ficar aqui comigo preso nessa maca, achando que eu sou só mais um desses caras que inventa um desculpa imensa - e mais ainda absurda - para não ter de ficar aqui. Mais uma pessoa que aparece com um ferimento normal e mente o quanto consegue para fugir desse cheiro de hospital. E então tudo vai acontecer como toda noite como essa. E eu vou atrás de você, porque é você que estou desejando agora, e é você que eu vou buscar assim que ela aparecer todinha. E então eu vou te alcançar, e te agarrar. Em todo caso, amanhã eu não vou mais te ver. E o mais engraçado é que se eu conseguir você para mim, vou sentir o seu gosto na minha boca para sempre.</div><div><br /></div><div>Estas foram as últimas palavras do paciente, enquanto uma lágrima solitária escorria de seu olho que começava a se transformar. Naquele exato momento em que a lua se completava cheia, e ele se metamorfoseava. </div><div><br /></div><div>No fim, ele estava certo, era verdade. Ele era um lobisomem.</div>Roberto Wolviehttp://www.blogger.com/profile/17210031248726149815noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4501650799236913591.post-53133464031798372952009-10-07T12:03:00.000-07:002009-10-07T12:10:16.163-07:00Pequeno vazioEu odeio quando meus gatos somem.<br />Odeio quando eles se trancam em um forro, em um teto. Quando se exilam no topo de uma árvore.<br /><br />Hoje aconteceu.<br />O cão a agarra. Ela escapa. Agarra de novo. Escapa mais uma vez (se eles desistissem algum dia de escapar, tinham sido extintos na Idade Média).<br />E corre. E pula um muro. E outro. E se esconde em um forro.<br /><br />Responde com seu miado, mas não aparece.<br /><br />Uma chuva se aproxima na tarde de hoje.<br />Uma escada me espera, junto com meu desajeito com alturas.<br /><br />Hoje à noite eu saio daqui e vou direto para Pinheiros.<br />Vou tentar, pela milésima vez (quisera eu que o número fosse redondo assim, indicava fechamento de ciclo ou, ao menos, poesia) salvar um gato.<br /><br />Pode ser que Deus, como já fez muitas vezes, a salve antes.<br />Pode ser que Ele, como em muitas outras, me use de instrumento para salvá-la.<br />Eu não aceito nenhuma outra possibilidade.<br />Nem com a tempestade contra mim.Roberto Wolviehttp://www.blogger.com/profile/17210031248726149815noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4501650799236913591.post-48233724302096532762009-08-24T14:09:00.000-07:002009-08-25T07:57:14.551-07:00Na companhia de um vinho<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/_7ABFmcTfCrA/SpMI-mWabfI/AAAAAAAAAEk/VhEVHqkqcdg/s1600-h/tango.JPG"><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer; width: 320px; height: 234px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_7ABFmcTfCrA/SpMI-mWabfI/AAAAAAAAAEk/VhEVHqkqcdg/s320/tango.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5373648651922599410" border="0" /></a><br />Teve uma viagem que fiz, ano passado, em que passei os dias a vinho.<br />Toda refeição era um tinto. Tomei vários - o melhor foi um em um almoço que está entre os melhores da minha vida. Você fica mal-acostumado depois de começar a fazer refeições assim. Todo o resto das bebidas começa a parecer grosseiro, inadequado. Como almoçar com cerveja.<br /><br />Vinhos são prazeres que, por si, justificam o fato de termos o paladar.<br />Para começar, um dos primeiros passos de experimentar um vinho é sentir seu aroma. E então defini-lo. Vale tudo, tem de falar a primeira coisa que vier à cabeça.<br />Pra mim isso é perfeito. Explico: é que eu tenho uma mania de cheirar as coisas que consumo. Sempre. Quando vou comer um prato qualquer, tenho de sentir o cheiro bem de pertinho antes. É um lance mais pra mania do que pra algo consciente. É genético, provavelmente. Reparei outro dia que minha mãe faz o exato mesmo ritual. E eu nunca tinha prestado atenção nisso antes. Com o vinho, esse prazer é dobrado. Sentir o aroma antes de prová-lo é como sentir o perfume da mulher em sua nuca antes de começar os primeiros passos da dança. E, sim, eu também sou fascinado profundamente por perfumes .<br /><br />Adoro ter esse prazer de pegar minha companhia de dança, seja italiana, portuguesa, francesa, espanhola, argentina, chilena e até mesmo brasileira e sentir aos poucos o seu perfume antes de nos entregarmos à dança.<br /><br />Eu começo aos poucos. Passo o copo levemente para deixar o aroma no ar.<br />Uma, duas vezes.<br />Vou aproximando a taça cada vez mais e fecho os olhos. Nada melhor para apurar um sentido do que bloquear os outros. Eu fecho os olhos e aproximo a taça até ela ser meu único foco, ser todo o cenário do meu olfato. Então eu respiro a primeira vez. Solto o ar. E inspiro mais uma vez. Só esse ritual já é suficiente para valer mais do que me esbaldar com qualquer suco ou cerveja.<br /><br />O próximo passo é deixar um leve gole bailar pela boca. Um gole pequeno. Você só consegue mensurar um prazer mais apuradamente quando o experimenta em pequenas doses. As grandes doses são só para acabarmos uma história de maneira grandiosa. Uma apoteose-overdose. Mas, para começar, tem de ser um tico. Um teaser. O começo que suspira "quero mais" na hora em que mal acaba. Você vira devagar esse golinho e respira. Sim, ainda de olho fechadinho. Não, não sei se precisa. Mas é assim que eu faço - e, francamente, acho que sou um bon vivant que aproveita 3 vezes mais qualquer prazer que a maioria das pessoas. Então, se quiser ter uma experiência que te tira um tanto os pés do chão, faça desse jeito. Um gole devagar, do jeito que você tem de fazer ao pegar a mão direita da moça com a sua esquerda para chamar para dançar. Vira devagarzinho, com malícia e inocência de um malandro. Com o golinho na boca, faça-o passear. E o ideal, eu vou te falar agora, não é nem mexê-lo com a língua. Ele não pode ser jogado de um lado para o outro com grosseria. Não. Você vai inclinar a cabeça devagar para um lado e para o outro, deixar ele correr pela boca como se a trilha sonora fosse um tango suave.<br /><br />E aí, tudo lentamente como um despertar, você vai engolir, ao mesmo tempo em que abre os olhos. E nessa hora que você vai voltar ao mundo desperto, com uma nova visão do mesmo. A visão de uma vida alterada pela experimentação do vinho.Roberto Wolviehttp://www.blogger.com/profile/17210031248726149815noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-4501650799236913591.post-11320848044907019282009-07-16T20:54:00.000-07:002009-07-16T21:23:43.585-07:00Estamos sempre na rua<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://4.bp.blogspot.com/_7ABFmcTfCrA/Sl_7CNzqUYI/AAAAAAAAAEc/CsV9OV7x8hI/s1600-h/hlp-rue-servandoni.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 213px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_7ABFmcTfCrA/Sl_7CNzqUYI/AAAAAAAAAEc/CsV9OV7x8hI/s320/hlp-rue-servandoni.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5359278097078833538" /></a><br />Às vezes me impressiono lendo blogs de amigos.<div><div>Penso "Meu Deus... quanto tempo faz que conheço uma pessoa com uma sabedoria dessas e ainda não tinha percebido?"</div><div><br /></div><div>E a sabedoria nem sempre é tão óbvia quanto a primeira imagem que se faz dela quando você lê letra por letra em um texto. Às vezes, é só um emprego de palavras que você nem suspeitava que a pessoa conhecia. Outras é o simples fato de uma pessoa que parece ser pura prosa se revelar em uma poesia.</div><div>A que é plena ação soltar uma história - ainda estou decidindo se vou adotar o recurso de usar a palavra esquecida 'estória' para enfatizar o lado estiloso.</div><div><br /></div><div>E fico até mais surpreso lendo os meus. Aí sim fico pensando "meu, que que eu disse ali? daonde saiu aquilo?" O texto, que não sei se é tridimensional, com certeza é mais profundo.</div><div><br /></div><div>Ou talvez o negócio de ter esse interlocutor olhando pra gente na conversa seja emocional demais. Olho no olho tem esse lance de empatizar, né? Você se emociona, começa um pensamento "brother, esse cara é muito do bem, nem vou começar com viagem com ele que o brother vai me achar meio maluco, para...". "Mano, nem a pau que vou falar presse cara que eu me vejo entrando num mar negro sozinho com as palavras que vai soar muito estranho pruma conversa na hora do almoço." Fora que você geralmente tende a concordar com o interlocutor, que se tiver alguma noção faz o mesmo com você. Então não rolam essas divagações em que você consegue colocar uma opinião plenamente pessoal e muitas vezes não compartilhada por ninguém sóbrio.</div><div><br /></div><div>Sei lá, o blog é um buraquinho na cabeça da pessoa, que olhando com a luz certa e - importante - sem ninguém fazendo barulho alto do lado dá pra ver as coisas que passam lá dentro, ressoando o que tá rolando aqui fora.</div><div><br /></div><div>No dia-a-dia, todo mundo tá na rua. Você só tá na casa da pessoa quando você lê o que ela escreve. "Entra aí, Pereira, a casa é sua, sem cerimônia, sinta-se muito à vontade: Faz de conta que eu nem estou aqui." Daí sim, você vira hóspede dela, assiste a tudo invisível e aconchegado.</div><div><br /></div><div>Eu, sinceramente, espero que você que está nessa linha, agora, esteja se sentindo completamente em casa também. Fique à vontade.</div><div><br /></div><div>E, peço de coração, me perdoa quando nos encontrarmos se eu não conseguir me revelar tanto. É que vamos estar no meio da rua.</div></div>Roberto Wolviehttp://www.blogger.com/profile/17210031248726149815noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-4501650799236913591.post-32762595443824753402009-06-30T19:41:00.000-07:002009-07-01T07:20:40.032-07:00Palavras livres<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/_7ABFmcTfCrA/SkrXO8dePvI/AAAAAAAAAEM/BaO6VwxBbXo/s1600-h/mar_noite.jpg"><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_7ABFmcTfCrA/SkrXO8dePvI/AAAAAAAAAEM/BaO6VwxBbXo/s320/mar_noite.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5353327758831140594" border="0" /></a><br />Quando, às vezes, chego em casa mais cedo que meu sono (e muito depois da hora de jantar), tudo que ainda me guia é escrever.<div><br /><div>De antemão já peço desculpas. O fato é que não estou tão familiarizado com esse teclado, nem com as ideias que correm como loucas na cabeça - naquele mesmo frenesi que as crianças pela primeira vez sentem no pega-pega na sala da cristaleira.</div><div>Escrevo agora só porque sim, porque cada dedo sente uma vontade doida [e doída] de apertar uma tecla. E cada um, querendo roubar a vez do outro, se insere em uma grosseria que, por final, constitui um texto, como seus pares que estão aqui. E nasceram da mesma maneira.</div><div><br /></div><div>Os textos não são meus. Nunca foram. Se você achava que eram, pode me condenar como um farsante. Eles são tão somente dessa necessidade de apertar esses botões pretos para gastar essa vontade - desviar essa loucura. Para dentro da máquina, para quem quiser ler: eu nunca sei.</div><div><br /></div><div>Nunca sei, quando começo, se esse vai ser o texto dos 20 calorosos ou dos dois secos comentários - sendo um meu, tentando explicar um mal-entendido de uma digitação auto-centrada.</div><div><br /></div><div>Nem sei nunca, aliás, se o texto será escrito até o final. Deus - com D maiúsculo porque esse mundo só faz sentido se houver alguém para me condenar pelos falsos acertos das minhas escolhas - sabe quantos posts não foram começados e nunca acabados. Quantas vozes aflitas se emudeceram perante a inesperada visita do superego que visita repentinamente a cachola (E se não fossem esses programas da Cultura, condenaria com estalares de língua no mais correto português a palavra 'cachola'). Eu admito: muitas vezes já desisti no meio. Abandonei as palavras em alto-mar, quando elas só esperavam de mim um fechamento para sobreviver e construir um conto, uma crítica, crônica, sei-lá-o-quê, pretensa estória. Dos meus filhos, você só vê a metade.</div><div><br /></div><div>Mas quando escrevo, é como comungar com esse mar. À noite, à melhor meia-noite. É aquele entrar sem volta em algo infinito, negro, pleno e sem pressa. É se entregar a tudo que está à frente. Passo por passo, com única certeza que fui mais certo em tudo que no passo anterior. Quando escrevo não ouço mais nada. O mundo começa a argumentar mais baixo. Não se cala de fato, mas para pra me ouvir. Finge que vai falar mas presta mais atenção no que digo do que no que ele mesmo, infinito que só, tem a dizer. É um mar entediado esperando o naufrágo que só se agarra a palavras.</div><div><br /></div><div>E então estou lá. Sozinho como só Deus esteve, dias antes de tentar seu 'Fiat Lux'. Como Jesus em seu maior momento, não os dos milagres mas o da solidão divina no Monte das Oliveiras. E é a mesma sensação que senti no mar, à meia-noite, na praia deserta: eu estou só, mas estou completo. Nada preciso que não as palavras. Afinal, quem rema: eu ou elas?</div><div>Talvez elas só queiram sair de mim, se libertar e encontra um algo-outro infinito. Ir até onde consigam mais agir, só ser.</div><div><br /></div><div>Mas até onde vão, isso nunca mesmo posso saber. É presunção, e é limite. O meu limite, só-escritor.</div><div><br /></div><div>As palavras foram feitas para serem ditas sem compromisso de voltarem a seu porto de partida.</div><div>Eu só as liberto no mar. No mar em que eu escolhi me perder.</div></div>Roberto Wolviehttp://www.blogger.com/profile/17210031248726149815noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-4501650799236913591.post-67017652801917202612009-06-24T18:26:00.000-07:002009-06-24T19:05:44.422-07:00PerguntasDas quais você nunca sabe a resposta.<div>Por mais que ache que sabe.</div><div><br /></div><div>Quantas pessoas hoje viram você pela primeira vez na vida?</div><div><br /></div><div>Qual será seu último melhor amigo?</div><div><br /></div><div>Quantos países você vai conhecer?</div><div><br /></div><div>Quem foi a pessoa que mais te amou?</div><div><br /></div><div>Qual sua maior qualidade?</div><div><br /></div><div>Qual será seu último prato?</div><div><br /></div><div>Quanto você já gastou com esmolas até hoje?</div><div><br /></div><div>E com gorjetas?</div><div><br /></div><div>E com cigarros? </div><div><br /></div><div>Sim, qualquer cigarro</div><div><br /></div><div>Quantas vezes você mastigou do lado esquerdo? </div><div><br /></div><div>Pelo menos: foi mais vezes que do direito?</div><div><br /></div><div>Quantas vezes você já cortou o cabelo?</div><div><br /></div><div>Quantas pessoas moram no seu prédio (ou no da frente da sua casa)?</div><div><br /></div><div>Quantas vezes você já esteve a um passo de morrer?</div><div><br /></div><div>Quantos abraços você ainda vai dar?</div><div><br /></div><div>Qual o melhor abraço que você vai dar?</div><div><br /></div><div>Você já conheceu a personalidade mais interessante de sua vida ou ainda vai conhecer?</div><div><br /></div><div>Quantas linhas você vai escrever?</div><div><br /></div><div>E qual a mais importante delas?</div><div><br /></div><div>O melhor prato que você vai comer na vida? </div><div><br /></div><div>(parece que não, mas esta é uma das mais importantes)</div><div><br /></div><div>Quantas vezes você esteve a um passo de matar?</div><div><br /></div><div>Quantas vezes você abriu uma porta?</div><div><br /></div><div>Quantos melhores poemas de todos você já leu?</div><div><br /></div><div>E quantos vai escrever?</div><div><br /></div><div>Qual será sua última pergunta de todas?</div><div><br /></div><div>E qual será sua última resposta?</div><div><br /></div><div>Qual o motivo de ter mais perguntas do que respostas no mundo?</div><div><br /></div><div>E qual o sentido destas perguntas?</div><div><br /></div><div>Será que, pelo menos para essa, você tem um jeito simples de descobrir a resposta?</div><div><br /></div><div>Não.</div><div>Você não sabe a resposta.</div>Roberto Wolviehttp://www.blogger.com/profile/17210031248726149815noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-4501650799236913591.post-25167114442970895602009-05-25T07:48:00.000-07:002009-05-25T07:53:24.702-07:00Some never awaken - Anaïs Nin<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/_7ABFmcTfCrA/ShqwQngfBAI/AAAAAAAAAEE/7Ya0VEcRM0s/s1600-h/nin_32.jpg"><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer; width: 240px; height: 320px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_7ABFmcTfCrA/ShqwQngfBAI/AAAAAAAAAEE/7Ya0VEcRM0s/s320/nin_32.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5339774107730772994" border="0" /></a>Alguns textos são bons demais para eu não colocar inteiros.<br /><br /><br />Some never awaken.<br /><br />“You live like this, sheltered, in a delicate world, and you believe you are living. Then you read a book… or you take a trip… and you discover that you are not living, that you are hibernating. The symptoms of hibernating are easily detectable: first, restlessness. The second symptom (when hibernating becomes dangerous and might degenerate into death): absence of pleasure. That is all. It appears like an innocuous illness. Monotony, boredom, death. Millions live like this (or die like this) without knowing it. They work in offices. They drive a car. They picnic with their families. They raise children. And then some shock treatment takes place: a person, a book, a song, and it awakens them and saves them from death. Some never awaken.”<br /><br />-Anaïs NinRoberto Wolviehttp://www.blogger.com/profile/17210031248726149815noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4501650799236913591.post-90771902087791223662009-05-22T20:14:00.000-07:002009-05-22T21:06:42.501-07:00Eu, a cópia<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://3.bp.blogspot.com/_7ABFmcTfCrA/Shd2BsnD2GI/AAAAAAAAAD8/WIaRoN_sKPU/s1600-h/Father-%26-Son.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 256px;" src="http://3.bp.blogspot.com/_7ABFmcTfCrA/Shd2BsnD2GI/AAAAAAAAAD8/WIaRoN_sKPU/s320/Father-%26-Son.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5338865654797949026" /></a><br />Hoje li uma frase boa. 'Todos nascemos originais. E morremos cópias'.<div><br /></div><div>Eu até ía perguntar o quanto isso é verdade, mas como diria o Raul seixas, de blog com pergunta retórica o Brasil já está cheio.</div><div><br /></div><div>Sempre que a gente lê uma dessas frasesinhas-provérbio, só abre um sorrisinho se ela faz sentido, se a gente dá aquela conferida mental na hora e decobre que tem os requisitos para se configurar uma miniverdade universal. O que eu, obviamente, fiz com essa frase.</div><div><br /></div><div>Na primeira vez que li, senti isso mais pela sacada tradicional: quando criança todo mundo é criativo, depois começamos a repetir as fórmulas que sabemos que funcionam. O lance é o que veio depois.</div><div><br /></div><div>Depois de um dia todo de trabalho, papo, almoço, risadas, ônibus e caminhadas, eu comecei a ver um outro lado. Dane-se esse lance da criatividade, mania-obsessão de publicitário. (aliás, um adendo: eu deveria antes de escrever cada post reler o primeiro de todos, ele tinha umas regrinhas ótimas preu nunca me perder escrevendo. Como você percebe, 'evitar digressões' não era uma delas.)</div><div><br /></div><div>O que eu comecei a perceber dessa frase é o lance do quanto ela nos fala sobre hereditariedade. A cada dia, ficamos mais parecidos com nossos pais. Eu hoje me reparei com um tanto de cada. Com meu irmão deve rolar a mesma coisa, com outra pegada. Ele grava um disco do Roberto Carlos, compra uma moto e tá tudo de boa. Eu, por outro lado, sou as emoções e ações e erros e acertos de Dona Selma e Renatão. Cada dia mais, sou uma cópia deles. </div><div><br /></div><div>Depois de discutir outro dia sobre o tempo com o James, comecei a ver o tempo como um fenômeno com um corpo completo. Nós só vemos uma fatia tridimensional dele por vez, e entendemos isso como "presente". Maybe it's just the way it should be. Agora, o lance engraçado não é sermos de certa maneira a mesma pessoa do nosso primeiro ao último dia. O negócio é que nossa vida pode - e, seguindo o que eu estou defendendo nesse texto, obrigatoriamente o faz - seguir o mesmo padrão da vida das nossas gerações anteriores. No naipe "cada bola de sinuca faz o caminho que for, simplesmente para cair em uma caçapa do mesmo modo". Talvez meu pai tenha lutado para ser diferente do Renatão primeiro, meu vô, o ajudante que virou legista que virou o descobridor da técnica de consertar corações. Mas o Renatão primeiro antes de tudo era o 'príncipe', apelido por seu charme de cavalheiro. E meu pai foi um monte de coisas que seu pai não fora, mas acabou sendo o mesmo, 30 anos após. E eu, que sou tão diferente, diplomado, branco, 'culto', eu termino sendo como eles. Releituras.</div><div>E eu sou também a Dona Selma, quando ela era só a Neca e saía para as ruas porque toda casa é infinitamente pequena. E que acreditava que toda chance pequena é infinitamente maior que nunca tentar. E ela foi mulher e viveu muito mais do que eu vivi, e mesmo assim eu, o publicitário, e aquela manicurie ainda somos, somehow, a mesma pessoa.</div><div><br /></div><div>Mudou a forma, tentou o destino, mas o padrão se formou o mesmo. Como cada banana é uma diferente, mas sempre formam um cacho.</div><div><br /></div><div>Talvez, antes de saber o mundo (por tudo que aprendi pelas vidas deles), eu ainda fosse um original. Algo que nasceu só da minha cabeça que conhecia tudo do mundo por primeira impressão. Hoje, eu sei: empilhei os originais para juntar o que tinham de bom, e me fiz cópia.</div><div><br /></div><div>Agora a frase, aquela de verdade, a que vem depois que você põe todos os neurônios e pinos da cachola para dançarem o maracatu do raciocínio: saber ao final da vida que você foi parecido com os de antes é fácil. E... e olhar sua vida, ainda no começo, e imaginar que ela pode seguir um caminho que você já sabe o final?</div>Roberto Wolviehttp://www.blogger.com/profile/17210031248726149815noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-4501650799236913591.post-48182975178218993102009-05-10T18:59:00.000-07:002009-05-10T19:19:56.115-07:00Whatever Happened to Gus<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://4.bp.blogspot.com/_7ABFmcTfCrA/SgeLOI_KeBI/AAAAAAAAAD0/mLzav41jE8k/s1600-h/red-cat-jazz-cafe.JPG"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 260px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_7ABFmcTfCrA/SgeLOI_KeBI/AAAAAAAAAD0/mLzav41jE8k/s320/red-cat-jazz-cafe.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5334385358690482194" /></a><br /><p class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-size:medium;">Não sei se meu primeiro contato com essa música foi acordado ou não.</span></p><p class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-size:medium;">Sei que não parece ter sentido até você ouvir entendendo a letra. And then...</span></p><p class="MsoNormal">Sonhei outro dia que conversava com um gato, coisa que motivou uma decisão e uma mudança na minha vida. Acordei com essa música na cabeça.</p><p class="MsoNormal">Ainda não sei se lembro dessas músicas do sonho ou se a manhã seguinte é que faz parte deles.</p><p class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style=" ;font-size:48px;"><embed type="application/x-shockwave-flash" src="http://wolvie.tumblr.com/swf/audio_player_black.swf?audio_file=http://www.tumblr.com/audio_file/106059948/C8Wr2tduxnc2wsfz8RN3TCrV&color=FFFFFF" quality="best" width="207" height="27"></embed></span><br /></p><p class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">"It had something to do with Max. <br /></span></p><p class="MsoNormal"><span class="apple-style-span"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language:EN-US;color:black;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">With Max and Bird, Billy Eckstein and Lester Young, back in the day. Them cats, coming out of </span><st1:city st="on"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">Pittsburgh</span></st1:city><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;"> by way of </span><st1:city st="on"><st1:place st="on"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">Kansas City</span></st1:place></st1:city><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">. Way back when, we were laid on up to win in a souze in that crowd. </span></span></span></p><p class="MsoNormal"><span class="apple-style-span"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language:EN-US;color:black;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">You see, it was like this. Yeah, there I was in the basement of this office building, down there around </span><st1:place st="on"><st1:placename st="on"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">Brooklyn</span></st1:placename><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;"> </span><st1:placetype st="on"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">Bridge</span></st1:placetype></st1:place><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">. Rehearsals, see, and, like, there was Bird, Bird with his arm around Wynton Marsalis' shoulder. Bent me all out of shape, I couldn't figure what the hell Bird was doing with his arm around Wynton Marsalis' shoulder, it didn't seem to change. And than there was all these musicians, all these fantastic jazz musicians hustling and running across </span><st1:place st="on"><st1:placename st="on"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">Brooklyn</span></st1:placename><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;"> </span><st1:placetype st="on"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">Bridge</span></st1:placetype></st1:place><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">, descending into the city, the Big Apple, down there around City Hall. Bright and early one morning, just running. And there was this one cat that looked just like Lester Young. </span></span></span></p><p class="MsoNormal"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language:EN-US;color:black;"><span class="apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">Than his image kept changing, than he started looking like Billy Eckstein, than back to Lester, than Billy, than Lester, than Billy. And ran up to him and I said "</span><st1:place st="on"><st1:city st="on"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">Say</span></st1:city><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;"> </span><st1:state st="on"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">Man.</span></st1:state></st1:place><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">" </span></span></span></p><p class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;"><br /></span></p><p class="MsoNormal"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language:EN-US;color:black;"><span class="apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">And I said to him, I said "Say man, who's got the key?", he looked at me and he said "Key, what key?". He said "</span><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;"><span style="background-image: initial;background-repeat:initial;background-attachment:initial;-webkit-background-clip: initial; -webkit-background-origin: initial;background-position:initial initial"></span></span><span class="il"><span style="background:#FFF2E6"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">Gus</span></span></span></span><span class="apple-converted-space"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;"> </span></span><span class="apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">got the key." I said "</span><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;"><span style="background-image:initial;background-repeat: initial;background-attachment:initial;-webkit-background-clip: initial; -webkit-background-origin: initial;background-position:initial initial"></span></span><span class="il"><span style="background:#FFF2E6"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">Gus</span></span></span></span><span class="apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">,</span></span><span class="apple-converted-space"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;"> </span><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;"><span style="background-image:initial;background-repeat:initial;background-attachment: initial;-webkit-background-clip: initial;-webkit-background-origin: initial; background-position:initial initial"></span></span><span class="il"><span style="background:#FFF2E6"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">Gus</span></span></span></span><span class="apple-converted-space"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;"> </span></span><span class="apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">who?" He said, "Don't you know,</span></span><span class="apple-converted-space"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;"> </span><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;"><span style="background-image:initial;background-repeat:initial;background-attachment: initial;-webkit-background-clip: initial;-webkit-background-origin: initial; background-position:initial initial"></span></span><span class="il"><span style="background:#FFF2E6"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">Gus</span></span></span></span><span class="apple-converted-space"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;"> </span></span><span class="apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">Johnson got the key." </span></span></span></p><p class="MsoNormal"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language:EN-US;color:black;"><span class="apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">And that's when I did my research, searched around the jazz scene through the history of the music. Inside out, outside in. Talked to one old timer way back when, and he said, "Yeah, don't you known</span></span><span class="apple-converted-space"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;"> </span><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;"><span style="background-image:initial; background-repeat:initial;background-attachment:initial;-webkit-background-clip: initial; -webkit-background-origin: initial;background-position:initial initial"></span></span><span class="il"><span style="background:#FFF2E6"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">Gus</span></span></span></span><span class="apple-converted-space"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;"> </span></span><span class="apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">Johnson, he was a drummer, back out of </span><st1:city st="on"><st1:place st="on"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">Kansas City</span></st1:place></st1:city><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">."</span></span></span><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language:EN-US;font-size:18.0pt;"><o:p></o:p></span></p>Roberto Wolviehttp://www.blogger.com/profile/17210031248726149815noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4501650799236913591.post-78605572062863476212009-03-31T19:05:00.000-07:002009-03-31T19:49:30.872-07:00Eu agradeço a todos os SantosA Jorge Ben por mostrar a poesia da vida.<div>A Gil por ser amigo íntimo das palavras</div><div>E a Guimarães por libertá-las.</div><div><br /></div><div>Eu agradeço a Cartola por colocar o mundo na caixa de fósforo,</div><div>A Chico por ser seu confidente</div><div>E a Clarice por ela ser tão mulher.</div><div><br /></div><div>A Simão, Pedro, Paulo, Judas, Tiagos, Mateus, João, André, Tadeu, Felipe e Bartolomeu por serem os primeiros a acreditar no amigo.</div><div><br /></div><div>Por ser maior que as regras da vida, a Silvio.</div><div>Por resistir a cada golpe do pessimismo, a Ali.</div><div>Por carregar o mundo nas costas, ao homem da carroça.</div><div><br /></div><div>Agradeço de todo o coração ao cachorro na estrada no Chile</div><div>Ao chinês que parou a máquina</div><div>E também a quem não perdeu a ternura.</div><div><br /></div><div>Eu agradeço ao primeiro louco e ao último são.</div><div>Eu agradeço aos piscianos por serem puros</div><div>E agradeço aos puros por não dependerem de religião.</div><div><br /></div><div>A Luiz Inacio por ter tido a coragem.</div><div>A Christopher por ter voado de verdade,</div><div>E ao Dalai, por ser.</div><div><br /></div><div>Eu agradeço ao pai pela gentileza e pela força</div><div>E à mãe pela decisão e pelo sacrificar.</div><div><br /></div><div>Agradeço aos que leem, aos que ouvem e aos que querem comentar.</div><div>E agradeço quem se aproxima , pelo tempo que for, e faz parte da minha vida.</div>Roberto Wolviehttp://www.blogger.com/profile/17210031248726149815noreply@blogger.com13tag:blogger.com,1999:blog-4501650799236913591.post-27451632377503591392009-01-23T11:16:00.000-08:002009-01-23T11:26:34.779-08:00O vazio entre dois livros<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://4.bp.blogspot.com/_7ABFmcTfCrA/SXoZsWeOUOI/AAAAAAAAADE/DaUx6Psm6JY/s1600-h/Livros.jpg"><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_7ABFmcTfCrA/SXoZsWeOUOI/AAAAAAAAADE/DaUx6Psm6JY/s320/Livros.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5294572561664725218" border="0" /></a><br />Como faz tempo que não escrevo por aqui, vou soltar as palavras devagar. Pra não me atropelar, não afobar. Escrever é que nem colocar meia quando a gente é criança: com pressa, enrola tudo e temos de começar de novo.<br /><br />Bom, para começar, vou citar os dois livros que fizeram companhia para mim neste meio tempo que fiquei sem subir ao palco. Foram eles os ilustres “Grande Sertão: Veredas” e “Tao Te Ching”. Escritos por João Guimarães Rosa e Lao Tse, respectivamente. Duas obras primas. Dois livros e muito mais que mil vidas de sabedoria.<br /><br />Eles falam, cada qual à sua maneira, do que é a vida quando você abre o foco. Quando a gente olha uma coisa de perto não vê o todo. Tem até aquela teoria que a gente não vê os rostos por completo. A gente vê todos os detalhes e depois monta dentro da cabeça o rosto da pessoa. Só que normalmente ninguém consegue fazer isso com a vida, com o mundo. Nos apegamos aos detalhes, o que foi uma semana, o que foi um dia, o que é um evento. É difícil olhar para tudo que nos acontece e ver mecanismos genéricos que se repetem ao longo de nossa vida. No máximo um “sempre me fodo quando namoro mulheres mais novas” ou “nunca consigo me dar bem em empregos formais demais”.<br /><br />O Tao é uma religião. E mais. E não só. Este é um livro para se ler com tempo. Sem necessidade de entender cada página de prima. Pelo contrário, eu gosto de tomar bem 40 minutos para ler cada página. Você percebe que os conceitos que estão no Tao são reproduzidos em vários livros, incluindo a própria bíblia. Mas se cada livro é um tipo diferente de pão, como croissant, francês ou italiano, o Tao é a própria massa. Não tem o sabor ou a forma definidos. Só a substância. É algo difícil de explicar como deve ser difícil para você que lê agora entender. Mas um exemplo gostoso:<br /><br />Una oito raios a um eixo e você terá uma roda.<br />A utilidade da roda está no vazio.<br />Monte com o barro uma panela.<br />A utilidade da panela está no vazio.<br />Assim, da existência nasce o valor.<br />Da não-existência, o vazio, nasce a utilidade.<br /><br /><br />Por isso aconselho você a tentar por si mesmo. Leia uma página qualquer do meio e veja como ele fala de um aspecto da vida sem ser específico demais. No fim das contas, você percebe que ele fala de sua vida, e nenhuma outra, ou todas as outras.<br /><br />Lendo o Sertão, descobri muitos pedaços do Tao. Porque o Tao está presente em quase todas as histórias por um ponto de vista, e no Sertão ele explica muita coisa. O Sertão é sobre como os conceitos de bem e mal são só a primeira milha andada na viagem de auto-descobrimento. Exemplo: todos são bons e maus. Mas, não sendo ninguém 100% bom, então somos todos maus. Mas se todos somos maus, ninguém é mau, porque você só é algo quando existe um exemplo oposto. Então o que somos é o próprio Sertão, onde não existe o bom e o mau. E o Sertão, infinito, está dentro de nós. E por isso nossa busca na vida nunca termina. Fora isso, o livro é importantíssimo para você entender o que é a língua. João, o autor, falava 14 línguas. Escreveu um livro que todo mundo que fez cursinho conhece pela “complicação”. Mas o livro, eu entendi, revela os mecanismos da linguagem. Leia, mesmo sem entendê-lo a princípio. Você perceberá que usamos a nossa língua de uma maneira muito, muito limitada. Quase não a usamos na verdade. É um livro que me delicia ler. Descobrir os absurdos de sentidos possíveis com as palavras – e suas deturpações intencionais. Tem muito a ver com um dos meus posts anteriores (procura por aí no blog porque eu não manjo muito de ficar fazendo link) quando eu falava sobre ler català.<br /><br />Foi por essas andanças, mundos sem fim de ideias e palavras, que me perdi. Nesses tempos. Não peço desculpas, estou é grato, encontrei mais de mim. E sei que as palavras podem ser vazias, essa é sua utilidade, então adorarei discutir-explicar melhor ao vivo.<br /><br />Agora estou de volta, para varrer o chão dando a conta desta casa.<br />E, como sempre, as visitas são mais que bem-vindas.Roberto Wolviehttp://www.blogger.com/profile/17210031248726149815noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-4501650799236913591.post-45712538108635084742008-11-18T13:04:00.000-08:002008-11-18T13:19:54.505-08:00Infiltrado na OrquestraStudio Sp recebeu visita da Orquestra Imperial. Fui nos dois dias, sem ingresso mesmo, esperei para começar o show e entrei. Sexta e sábado.<br /><br />Valeu demais.<br /><br />http://br.youtube.com/watch?v=U1yXDoRWXdQ<br /><br />Repara na Nina Becker e na Talma de Freitas quebrando tudo.Roberto Wolviehttp://www.blogger.com/profile/17210031248726149815noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4501650799236913591.post-3647532632753902122008-11-03T12:05:00.000-08:002008-11-03T12:41:29.240-08:00Novos amigos imaginários<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://3.bp.blogspot.com/_7ABFmcTfCrA/SQ9gPWuw8nI/AAAAAAAAACI/tyeJ2cYVrjk/s1600-h/hobbes.gif"><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer; width: 320px; height: 206px;" src="http://3.bp.blogspot.com/_7ABFmcTfCrA/SQ9gPWuw8nI/AAAAAAAAACI/tyeJ2cYVrjk/s320/hobbes.gif" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264532306335429234" border="0" /></a><br />Ok, depois de um belo tempo, vambora.<br /><br />Pretendo fazer um curto hoje. Baseado na frase que o Júnior, bluesman e sábio amigo meu, me contou hoje. Ele viu num filme, que era uma merda, e a frase passa despercebida no meio da película.<br /><br />"Deus é o amigo imaginário dos adultos."<br /><br />Minha opinião: muito foda essa.<br />Porque a conceituação de Deus passa justamente por isso. Uma construção individual de cada pessoa, um confidente, um espectador. Um motivo para nunca estar sozinho.<br /><br />Eu acredito que o ser humano, mais do que pavor de ficar sozinho, tem uma dependência fortíssima de ter uma platéia. Esse, aliás, é o tema deste blog. É uma convicção inabalável que tenho: as pessoas dependem de saber que sua vida é uma história que está sendo contada, e que valerá a pena ser ouvida. Seja uma comédia, um drama, aventura, pornozão ou thriller, sempre é uma história (ou estória, como era antes, com mais fantasia e menos compromisso com a veracidade). O pior não é viver uma vida ruim, é viver uma vida não contada. Daí cê me diz, "nem todo mundo quer contar pra alguém." O ponto é esse: na grande maioria das vezes a pessoa conta para si mesma. As pessoas sempre tentam imaginar as melhores cenas que viveram em terceira pessoa. Pode reparar, sempre que você imagina um momento de glória seu, imagina em terceira pessoa. Ao contrário dos de vergonha. Estes você imagina em primeira pessoa, com todas as pessoas te olhando, aquele superego com o olhar de reprovação fixo em você.<br /><br />Só que a gente é moderno; se você está lendo um blog, ou seja, é uma pessoa mais nova e curte o lance de ser "racional", "adão o caralho, foi um big bang", provavelmente tem toda essa vibe de alguém te ver mas não acredita em Deus. Quando eu era adolescente o lance era falar um "eu acredito em Deus, mas não Deus como todo mundo acredita, é um Deus meu, uma energia, blablabla" (imagine-me falando isso com voz imitando uma menina fútil). Tanto faz, dá na mesma. A função na sua mente é a mesma, ser uma pessoa que está lá para te ver como um personagem principal. Que se relaciona primeiramente com você (alguém se imagina como o coadjuvante de uma história? se sim, me avisa, ou a seu terapeuta). O resto do mundo é um assunto. Um amigo imaginário.<br /><br />Com a chegada da Internet as coisas só ficam mais claras se você concorda com meu ponto de vista. A graça de ter um blog é ter mais e mais leitores. Porque aí o seu público fica anônimo, perde uma cara e passa a ser mais como Deus: indefinível. Quando tem poucos leitores - como eu - não está escrevendo para o mundo, está contando uma história de uma só vez para todos os que te conhecem.<br /><br />Taí. Deus é o amigo imaginário dos adultos, e o blog é quase o mesmo. Só que a "oniciência" deste depende da sua popularidade.<br /><br /><br />p.s.: Achei a frase tão boa que o porra do roteirista podia ter feito só a frase e mandado para algum jornal, em vez de fazer um filme merda.Roberto Wolviehttp://www.blogger.com/profile/17210031248726149815noreply@blogger.com13tag:blogger.com,1999:blog-4501650799236913591.post-84215039169038109512008-09-11T13:51:00.000-07:002008-09-11T14:48:26.010-07:00O sonho de mil gatos - parte 1: uma despedida<span style="font-size:100%;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://1.bp.blogspot.com/_7ABFmcTfCrA/SMmRa0UOY2I/AAAAAAAAABw/QZa4brXSaRk/s1600-h/gato.jpg"><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer;" src="http://1.bp.blogspot.com/_7ABFmcTfCrA/SMmRa0UOY2I/AAAAAAAAABw/QZa4brXSaRk/s320/gato.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5244883130955752290" border="0" /></a><br /></span><span style=";font-family:arial,thoma,verdana;font-size:100%;" ><span style="font-family:georgia;">Tive de novo um sonho com gatos.<br />Eu já tive mais de 100 gatos na vida. De uma vez só, 32.<br /><br />Sim, sei o nome de quase todos. Se visse qualquer um deles na minha frente agora, te diria o nome sem pensar duas vezes.<br /><br />Eu fui criado com os gatos e isso, definitivamente, determinou o jeito como lido com as pessoas. Até o modo como faço carinho nas pessoas é como faço carinho em gatos.<br /><br />O meu humor, as minhas patadas, a vontade de me isolar às vezes, o grude em outras.<br /><br />E teve um que era muito do bem. Eu amava de verdade, percebo mais claramente hoje. O Ferdinando.<br />A mãe dele teve os filhotes (sempre 5 por vez, é algum tipo de metáfora dos gatos: sempre nascem 5) no quintal do vizinho e resolveu trazer pra casa. Pegava com a boca no cangotinho de cada um e vinha trazendo.<br /><br />1, 2, 3, 4. Nisso o tempo fechou daquele jeito que acontece nas chuvas mais fortes.<br /><br />Começou uma tempestade. Bíblica. Ela acaba que deixa um no meio do caminho. A gente percebeu, correu lá no quintal.<br /><br />Tá lá o gato, com o nariz da cor do pêlo (branco).<br />Gelado. De verdade, gelado, mais que qualquer morto.<br /><br />Pega o gato. Põe pano com água quente em volta. Tudo com aquele Pai Nosso silencioso que sempre embala a mente nessas situações. Esquenta, esquenta e, de repente, o que eu esperava: volta à vida.<br />"Esse aqui, que voltou da morte, vai chamar Ferdinando".<br /><br />O Ferdi não miava. É engraçado, Deus gosta dessas figuras de linguagem. O Ferdi não miava, não ficaa bravo, nem muito contente. O gato voltou à vida, mas o coração sempre permaneceu com aquele gelado.<br /><br />Ele cresceu, sossegado como só ele. Ao contrário dos outros machos, não ficava dias fora e voltava alquebrado como se vindo de um samba sem fim. O Ferdi gostava de estar lá em casa, não fazia questão dessas emoções.<br /><br /><br />Todo gato um dia se vai. Para a vida ou para algo depois disso.<br />E um dia o Ferdi foi. Não vi mais, mas eu sabia que não ía mais voltar.<br /><br />E hoje sonhei com ele. O encontrei e a cara dele era aquela que nunca saiu da minha memória.<br />Só que... eu não sabia o nome dele. Olhei, conversei como quem encontra algum rosto conhecido e não liga o nome.<br /><br />Acordei hoje, fiz mil coisas. De repente tô aqui no serviço, ligo o iTunes. Algo no fundo da cabeça me fala "Cartola".<br />Vou ouvindo e começa essa música.<br />E minha boca fala na hora a palavra que me faltava durante todo o dia: Ferdinando.<br /><br />Deixe-me ir preciso andar,<br />Vou por aí a procurar,<br />Sorrir pra não chorar<br />Deixe-me ir preciso andar,<br />Vou por aí a procurar,<br />Sorrir pra não chorar<br /><br />Quero assistir ao sol nascer,<br />Ver as águas dos rios correr,<br />Ouvir os pássaros cantar,<br />Eu quero nascer, quero viver<br /><br />Deixe-me ir preciso andar,<br />Vou por aí a procurar,<br />Sorrir pra não chorar<br />Se alguém por mim perguntar,<br />Diga que eu só vou voltar<br />Depois que me encontrar<br /><br />http://www.youtube.com/watch?v=WQZF0vjjNhc<br /><br />Esta é a música que me vinha na cabeça quando imaginava o dia em que ele foi embora. E não só dele, essa é a música que para mim representa a despedida de todo gato.<br /><br />Porque todo gato um dia se vai.</span><br /></span>Roberto Wolviehttp://www.blogger.com/profile/17210031248726149815noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-4501650799236913591.post-27873042442683054762008-09-03T11:20:00.000-07:002008-09-03T13:02:22.406-07:00Dedos, o horóscopo<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://4.bp.blogspot.com/_7ABFmcTfCrA/SL7tP7A8rdI/AAAAAAAAABo/zc_OhShD9V0/s1600-h/hand.jpg"><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer;" src="http://4.bp.blogspot.com/_7ABFmcTfCrA/SL7tP7A8rdI/AAAAAAAAABo/zc_OhShD9V0/s320/hand.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5241887874101325266" border="0" /></a><br />Eu outro dia entrei numa viagem de dois segundos: um horóscopo (ou classificação psicológica, dá no mesmo) em que as pessoas fossem classificadas segundo os dedos da mão. É um pouco mais complicado porque você restringe a pessoas a 5 tipos, em vez dos tradicionais 12. Mas tem o seu charme. Quer ver? Vamos lá:<br /><br />Polegar: você é definitivamente uma pessoa positiva, e geralmente oposta a todos os demais. Os outros fazem o volume, mas você é aquela minoria fundamental pra qualquer projeto ter uma boa "pegada". Problema, você também é levemente menos articulado que os outros.<br /><br />Indicador: se acha o mais útil porque sempre assume a liderança. Claro, você é a primeira escolha quando um serviço precisa ser feito. Seu problema é o perfil acusatório. Ao mesmo tempo em que é bom para apontar caminhos, também é dado a acusar.<br /><br />Pai-de-todos: em algum tempo pode ter tido outro papel, mas hoje seu lance mesmo é falar aquilo que os outros não podem, aquele sonoro "Aqui pra você, ó!". Você é a válvula que libera os sentimentos negativos. Curiosamente, é também o que tem o maior alcance de todos. Ah, detalhe importante: vida sexual intensa e 'profunda'.<br /><br />Anular: você é o outsider. Misterioso, as pessoas não sabem qual é a sua geralmente. Mas o fato é que se tem alguém que tem a ver com um compromisso é você. O mais ligado a relacionamentos, parece até que foram feitos para você.<br /><br />Mindinho: o menorzinho, subestimado e querido. Carismático que só, é fundamental quando o assunto é ajudar pessoas a fazerem as pazes. O que o chateia é que a maioria das pessoas não o levam a sério.<br /><br />É engraçado esse lance de estereótipos. Há uma chance de você se identificar com um deles, nem que seja só em determinados momentos de seu dia.<br />Depois vou fazer horóscopos de outras coisas mais inteligentes, prometo.<br />Agora me diz: qual dedo é você?Roberto Wolviehttp://www.blogger.com/profile/17210031248726149815noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-4501650799236913591.post-13937274572574807652008-08-13T13:38:00.000-07:002008-08-13T14:42:12.612-07:00O carnaval e o acaso dentro de mim.<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/_7ABFmcTfCrA/SKNSpzFN6HI/AAAAAAAAABg/_1eQbcfk3xo/s1600-h/einstein.jpg"><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer;" src="http://2.bp.blogspot.com/_7ABFmcTfCrA/SKNSpzFN6HI/AAAAAAAAABg/_1eQbcfk3xo/s320/einstein.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5234118069974853746" border="0" /></a><br />Estava conversando hoje sobre "filhos planejados" com a Bia. Comçamos a falar sobre o conceito, e sobre o que as pessoas dizem dele.<br /><br />Já reparou que as pessoas falam esse tipo de coisa, "meu irmão não foi planejado", "eu fui planejado pelos meus pais", etc.?<br /><br />Se fosse só o falar, sem nenhum julgamento, não teria problema. O foda é que percebi que o "planejado" tem conotação positiva, e o "acidental" é negativo. São os filhos de "camisinha furada", de "pílula de farinha", do carnaval e até da Copa.<br /><br />Daí, só hoje me dei conta de uma coisa: eu sou um não-planejado e adoro isso. Não só porque eu sou um, fui descobrir mais tarde isso. Mas eu sempre achei que filho de verdade é o que vem não por plano, mas porque sim. É ter seu momento único, independente de como ía a vida dos pais.<br /><br />Imagina isso: você é um plano dos seus pais. Primeiro eles planejaram a casa, depois escolheram um carro, depois encomendaram você. How dumby. Meu, como você vai ter qualquer perspectiva se nem começou fazendo sua sorte, é só um plano? Você achou que tinha uma vida quando nasceu, mas está só seguindo um papel. Sim, eles poderiam escolher que você não valia a pena, podiam escolher mudar de carro, mas mediram prós e contras e te fizeram. Nossa, isso sim seria um trauma para mim.<br /><br />Bom, como bom escorpiano, sou filho do carnaval. Não tem escorpiano que não tenha essa vibe de ser algo fora dos planos. Elemento imprevisível, não regrinha cagada. Escorpiano nasce do momento do ano que mais lembra o sexo, a festa, o coração acelerado. Eu fico fazendo esse cálculo às vezes, vendo se o signo tem a ver com o momento do ano que aconece 9 meses antes.<br /><br />Meu irmão, por exemplo. Meu glorioso irmão. Ele é filho da Copa de 70. Que do caralho isso! O Brasil vive o momento mais glorioso de sua história até então, se consagra não ao vivo mas a cores a maior nação do futebol e, desse momento, dessa catarse, dessa festa, o resumo é uma pessoa. Não tinha como não ser do bem, não tinha como não ser um cara excepcional, que se destaca na multidão.<br /><br />Tem mais. Vale lembrar que eu acredito em alma. A gente pode encomendar um monte de coisas, mas nunca achei que encomendar uma alma pra chegar num corpo fosse algo minimamente condizente com todo o lance espiritual. Um corpo é o resultado da soma de genes de duas pessoas, mas a alma é única, não uma mistura de dois. É algo maior, que vem de Deus (ou qualquer nome que você queira dar, se é que acredita nisso; eu não sou nem um pouco grilado com ateus e afins, me grilo mais com quem acha que sua visão é a única válida), e que eu saiba o cara até atende pedidos, mas não com hora marcada.<br /><br />Um filho planejado não tem essa mistura de caos em sua essência, essa entropia. Não tem a imprevisibilidade que é a matéria-prima de pessoas como Einsten, Pelé ou Ali. É uma receita de bolo que está crescendo bem, obrigado, tudo dentro dos planos. Estará pronto às cinco, se você quiser um pedaço.<br /><br />O resumo é: você não precisa ser um filho do acaso para ser especial. Mas nunca se sinta superior por ser planejado. E nunca, e agora eu digo nunca mesmo, considere alguém inferior por ser acidental.<br /><br /><br />O acaso é o que muda o mundo. A norma é o que o torna o mesmo de sempre.Roberto Wolviehttp://www.blogger.com/profile/17210031248726149815noreply@blogger.com15tag:blogger.com,1999:blog-4501650799236913591.post-34556437319504710412008-07-31T06:52:00.001-07:002008-07-31T08:42:27.635-07:00Jazz e genialidade<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://bp3.blogger.com/_7ABFmcTfCrA/SJHdVguug2I/AAAAAAAAABQ/4iUsz4XJLwQ/s1600-h/Jazz.jpg"><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer;" src="http://bp3.blogger.com/_7ABFmcTfCrA/SJHdVguug2I/AAAAAAAAABQ/4iUsz4XJLwQ/s320/Jazz.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5229204003986768738" border="0" /></a><br />Arrisco a dizer que não há, para a mente do criativo, música melhor que o jazz.<br /><br />É sobre o ritmo, sobre sempre ter uma nota a mais. Que se encaixa melhor que todas que foram colocadas até agora. É sobre continuar, seguir sem saber onde a novidade vai parar.<br /><br />Eu sou suspeito para falar (ou, segundo alguns, suspeito em todas as ocasiões) mas acho que isso é mais verdade quando a gente fala do jazz bebop. Não tem trilha sonora melhor pras grandes idéias que uma batida acelerada do Bird e do Dizzy.<br /><br />O swing também tem suas maravilhas - e muitas. Acabei de ouvir Sing, sing,sing, com a orquestra do Benny Goodman. Música fenomenal. Escrevendo isso com o pé a 127 bpm, acompanhando a pegada. Só o clarinete nos compreende, gritando e avisando "estamos loucos".<br /><br />É engraçado como o cérebro parece um carro que, depois de muito tempo, recebe gasolina não-adulterada e começa a correr que é uma maravilha. Se jazz fosse mais disseminado, acabava o uso de cocaína nesse mundo.<br /><br />E eu sento aqui, pra ter 127 idéias por dia, e quase nunca isso acontece. Daí chego hoje. Coloco no musicovery, jazz década 50 e anteriores. Pronto. Conceito do institucional da empresa, materiais de cross de um relançamento, fazendo cotação de preços de fotos pra minha cunhada, lendo a entrevista do Mutarelli na M&M, lendo e postando twitter, tudo ao mesmo tempo e ainda me sobra espaço pra sorrir e contar piadas. Escrevendo este post ao mesmo tempo, é claro.<br /><br />O engraçado é que acho que comecei a gostar de jazz mais ou menos na mesma época em que decidi que a publicidade ía ser a minha obrigação diária pelo resto da vida. Pra quem não sabe a história: eu era um moleque inteligente na escola, e não esforçado. Eu não precissava estudar para ficar entre os melhores da sala. Se eu, por falta do que fazer, estudava, era o melhor.<br /><br />Mas minha pegada era outra, diferente dos cdf's: eu era o clássico "crânio do fundão". Aquele cara que toca o puteiro com todos os marginais das últimas cadeiras de cada fileira, e na hora da prova garante que todos os caras que tavam lá pela zoeira iam tiram uma nota no mínimo aceitável. Chegava a fazer 4, 5 provas ao mesmo tempo pra garantir a galera. Era minha verdadeira realização acadêmica fazer o pixador repetente tirar uma nota melhor que a menininha caxias que olhava pra gente com nojinho. Isso pra mim foi o prenúncio da pegada jazzística: um talento que recusa a academia e prefere a boemia.<br /><br />O lance é que eu não queria escolher profissão nenhuma na vida. Tudo parecia um saco. Engenharia, camisa sempre dentro da calça e calculadora na mão, puta coisa que eu me mataria de tédio na primeira semana. Direito então, nem com muito filme de tribunal pra achar que aqueles semi-coveiros tinham emoção na vida. Medicina... desculpa, mas o Doutor Sara-Tudo perdeu a graça em 15 minutos. Não tinha nada, absolutamente nada que eu quisesse fazer. Eu não queria ter a obrigação de ser sério. Daí veio minha primeira grande idéia, e justo ela me abriu as portas desse mundo: eu poderia arranjar um emprego em que eu passasse o dia inteiro fazendo piadas, pensamentos completamente estúpidos/geniais que tirassem as pessoas do mesmo de todos os dias. Só isso poderia me fazer trabalhar. Todo o resto me parecia tão emocionante quanto trabalhar em um cartório (meu Deus, quantas vezes usei isso como comparação do que é o trabalho menos emocionante de todos?).<br /><br />Escolhi a publicidade, como quem encontra a única mulher que serve. A diferente de todas.<br /><br />Daí o jazz. Comecei a gostar quando vi um desenho Tom&Jerry. O Jerry lá, naquele salão com um monte de ratinhos, tocando tudo e mais um pouco naquela bateria. Bebop puro, na veia. Eu senti que aquilo era quase familiar. Aquela festa, o caos, a genialidade - pensando hoje, era um reflexo do que eu via na minha vida. Mas, naquela hora, era simplesmente bom demais, e melhor que qualquer outra coisa. Não havia prisão das letras, que tornavam os rocks e pops algo marcado e sem mística. Havia só o jazz e a sensação de que não havia limites.<br /><br /><br />Acho que o jazz e a criação se combinaram na minha vida e eu, meio sem saber, encontrei o meu caminho na vida. Bem, trago os dois comigo até hoje. Assim como esse post, que começou só porque eu ouvia uma música muito boa e que eu nem sabia onde e como iria terminar, acabou me resgatando na cabeça quem eu fui e sou. E também onde posso e devo chegar.<br /><br />Estou no ritmo do jazz. Não podem me segurar.Roberto Wolviehttp://www.blogger.com/profile/17210031248726149815noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-4501650799236913591.post-91988690488263149472008-07-07T13:29:00.000-07:002008-07-07T15:26:43.995-07:00A outra língua<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://bp1.blogger.com/_7ABFmcTfCrA/SHKXKt2bhiI/AAAAAAAAABI/Fr0k9rK3qMQ/s1600-h/catala_0.jpg"><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer;" src="http://bp1.blogger.com/_7ABFmcTfCrA/SHKXKt2bhiI/AAAAAAAAABI/Fr0k9rK3qMQ/s320/catala_0.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5220401128438203938" border="0" /></a><br />Começo desse ano fiz uma viagem.<br />Minhas primeiras férias desde que comecei a trampar.<br />Quer dizer, meu primeiro emprego mesmo foi em uma videolocadora, tinha um fliperama no andar de cima. Eu tava no segundo ou terceiro colegial, ía pro trampo depois da aula e ficava até fechar. Era divertido, jantando pizza, ganhando do traficante maninho no Street Fighter, rindo das situações mais insólitas. Lembro duma mulher ligando, meia-hora depois do marido ter passado na locadora, perguntando se el tinha alugado um filme pornô. Voz de preocupada, disse que era uma pergunta muito importante, que da minha resposta dependia o casamento dos dois. Ainda bem que não era aqueles pornozões de traveco, daí o cara tava ferrado de verdade. Eu fiz o que era certo, menti que eu tinha entrado fazia 15 minutos (eu que tinha feito a locação).<br />Anyway, depois que entrei na facul só trampei com publicidade e adjacências. Comecei a estagiar no primeiro ano, dentro da própria facul. ECA Jr., um tesão de agência (a gente criou esse slogan numas férias). O lance foi que depois que comecei a estagiar lá eu meio que fui emendando uma coisa na outra, um estágio atrás do outro, depois fui pra Tostex, estúdio de design pequeno e responsa, faz o SambaPhoto. Dali pra SitCom e assim foi. Sempre saindo de um trampo para emendar em outro.<br />Daí esse começo de ano eu bati meu recorde de permanência em um lugar, a Moti, e fui obrigado (provável que legalmente) a tirar férias.<br />Por coincidência, eu tava com a herança do meu pai, tinha acabado de chegar na minha conta.<br />Foi minha chance de conhecer a europa. Ou melhor, algo fora do Brasil. Até então, o mais longe que eu tinha ido do Brasil foi uma vez que nadei uns 100 metros pra frente no mar. A viagem começou por Portugal, lugar maravilhoso. Depois peguei um avião da Iberia para Barcelona.<br /><br />Acredite se quiser, esse é o ponto em que começa o assunto do post.<br /><br />Barcelona é um lugar legal. Demais, pra falar a verdade. A Cidade tem uma pegada jovem que você já conhece a sensação, mas não sabe de onde. Sair de noite pelas ruas é como andar numa cidade em que estão rolando jogos universitários. é gente jovem pra caramba na rua de madrugada, todo mundo no naipe da balada, todo mundo pronto pro que der e vier. Nessa hora, poucos carros e muitas bicicletas e pedestres. O mais importa, uma cidade com duas línguas: o espanhol e o català. E o català é fantástico. é quase um ramo esquecido da evolução das espécies. Tem gente que fala simplificando (como eu, por exemplo) que é uma mistura de espanhol com francês e um pouco de português. Parece que essas línguas todas têm origem comum e que todas as outras cresceram demais, e o català ficou restrito à região da Catalunya. O mais legal desse mundo internético é que se você quiser, abre agora uma janela do Wikipedia e descobre que eu devo tá falando um monte de bobagens. Mas, entre ser um caxias que pesquisa pra não dar foras e um cara que conta histórias que ouviu das pessoas, eu sou o segundo, graças.<br />No vôo pra Barna (essa foi outra que aprendi - Barça é o time, Barna é a cidade), peguei uma resvista da companhia e comecei a ler. Redator teoricamente tem dessas, lê tudo quanto é coisa que aparece pra aumentar o conteúdo da cabeça. Tava lá o mesmo texto em 3 línguas: inglês, espanhol e català. Não tive dúvidas. Peguei o texto catalão e comecei a mandar ver. Foi assim que eu aprendi inglês, no ginásio. Pegava livros e livros e ía traduzindo as palavras uma a uma. E lá estava eu no avião, fazendo o mesmo com uma língua que eu nem sabia a sonoridade. Quando chegava alguma palavra que eu não fazia a mínima idéia, comparava com os outros pra sacar. Acredita que depois de um tantinho o texto começou a fluir legal?<br />Tinha nas histórias dos X-Men um moleque cujo poder era entender, verbalmente ou escrita, qualquer língua. Putsa poder fraco comparado com os outros X-Man, mas a idéia era maravilhosa: o cérebro dele refazia os caminhos de formação das línguas automaticamente.<br />A brincadeira é essa: isso não é um poder, é uma capacidade nossa. Claro que não nesse nível super-herói. Não dá pra assinar um contrato em russo, com aquelas letras do zangief, e achar que se deu bem. Mas com um pouco de esforço e mente focada você começa a intuir significados.<br />Isso tanto é verdade que sempre tem aquela palavra em inglês que você não encontra nenhuma tradução exata em português.<br /><br />Gostei tanto dessa vibe diferente de ler o català que comecei a ler, na cidade, tudo que me aparecia pela frente. Até trouxe umas folhetarias pra cá na volta. A cidade tem uma loja de chocolates imbecil de boa. Um dos folhetinhos que trouxe foi um portfólio de chocolates misturados com diversas coisa. Como ele está nas 3 línguas, vou brincando de aprender. Me dou até ao trabalho, de quando em quando, em procurar um assunto qualquer na Wikipedia e ler em català.<br /><br />Daí saiu na Vida Simples, se não me engano, uma notinha aconselhando as pessoas a fazerem isso que eu sempre fiz. Pegar textos em uma língua que você não domina e ler o original pra sacar a sonoridade do autor, intuir o significado. Enfim, fazer esse jogo de mímica com a língua estrangeira que tá lá, esperando pra te conhecer. Que nem um estudante de intercâmbio que ama o Brasil mas não conhece uma palavra de português que seja. Fazendo isso, você começa a descobrir os mecanismos de linguagem, entende a relação entre as palavras sem precisar do significado. Você começa a entender o primórdio das línguas, aquele jeito de pensar que já existia no cérebro humano mesmo antes de um homem inventar a primeira palavra.<br /><br />Já sei o inglês e comecei o francês. Pretendo ainda aprender, no mínimo, o espanhol, o mandarim (sim, eles vão virar potência e pólo cultural, people) e sei lá mais qual.<br /><br />Mas, independente de qualquer objetivo, nunca vou fugir de nenhum desafio criptografado. Esse é um dos meus hobbies: entender o mundo.Roberto Wolviehttp://www.blogger.com/profile/17210031248726149815noreply@blogger.com3