Um do sertão, um encrenqueiro.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
O cangaceiro Cosme (exercícios de Guimarães Rosa)
Um do sertão, um encrenqueiro.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Despedida em uma noite de luar
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Pequeno vazio
Odeio quando eles se trancam em um forro, em um teto. Quando se exilam no topo de uma árvore.
Hoje aconteceu.
O cão a agarra. Ela escapa. Agarra de novo. Escapa mais uma vez (se eles desistissem algum dia de escapar, tinham sido extintos na Idade Média).
E corre. E pula um muro. E outro. E se esconde em um forro.
Responde com seu miado, mas não aparece.
Uma chuva se aproxima na tarde de hoje.
Uma escada me espera, junto com meu desajeito com alturas.
Hoje à noite eu saio daqui e vou direto para Pinheiros.
Vou tentar, pela milésima vez (quisera eu que o número fosse redondo assim, indicava fechamento de ciclo ou, ao menos, poesia) salvar um gato.
Pode ser que Deus, como já fez muitas vezes, a salve antes.
Pode ser que Ele, como em muitas outras, me use de instrumento para salvá-la.
Eu não aceito nenhuma outra possibilidade.
Nem com a tempestade contra mim.
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Na companhia de um vinho
Teve uma viagem que fiz, ano passado, em que passei os dias a vinho.
Toda refeição era um tinto. Tomei vários - o melhor foi um em um almoço que está entre os melhores da minha vida. Você fica mal-acostumado depois de começar a fazer refeições assim. Todo o resto das bebidas começa a parecer grosseiro, inadequado. Como almoçar com cerveja.
Vinhos são prazeres que, por si, justificam o fato de termos o paladar.
Para começar, um dos primeiros passos de experimentar um vinho é sentir seu aroma. E então defini-lo. Vale tudo, tem de falar a primeira coisa que vier à cabeça.
Pra mim isso é perfeito. Explico: é que eu tenho uma mania de cheirar as coisas que consumo. Sempre. Quando vou comer um prato qualquer, tenho de sentir o cheiro bem de pertinho antes. É um lance mais pra mania do que pra algo consciente. É genético, provavelmente. Reparei outro dia que minha mãe faz o exato mesmo ritual. E eu nunca tinha prestado atenção nisso antes. Com o vinho, esse prazer é dobrado. Sentir o aroma antes de prová-lo é como sentir o perfume da mulher em sua nuca antes de começar os primeiros passos da dança. E, sim, eu também sou fascinado profundamente por perfumes .
Adoro ter esse prazer de pegar minha companhia de dança, seja italiana, portuguesa, francesa, espanhola, argentina, chilena e até mesmo brasileira e sentir aos poucos o seu perfume antes de nos entregarmos à dança.
Eu começo aos poucos. Passo o copo levemente para deixar o aroma no ar.
Uma, duas vezes.
Vou aproximando a taça cada vez mais e fecho os olhos. Nada melhor para apurar um sentido do que bloquear os outros. Eu fecho os olhos e aproximo a taça até ela ser meu único foco, ser todo o cenário do meu olfato. Então eu respiro a primeira vez. Solto o ar. E inspiro mais uma vez. Só esse ritual já é suficiente para valer mais do que me esbaldar com qualquer suco ou cerveja.
O próximo passo é deixar um leve gole bailar pela boca. Um gole pequeno. Você só consegue mensurar um prazer mais apuradamente quando o experimenta em pequenas doses. As grandes doses são só para acabarmos uma história de maneira grandiosa. Uma apoteose-overdose. Mas, para começar, tem de ser um tico. Um teaser. O começo que suspira "quero mais" na hora em que mal acaba. Você vira devagar esse golinho e respira. Sim, ainda de olho fechadinho. Não, não sei se precisa. Mas é assim que eu faço - e, francamente, acho que sou um bon vivant que aproveita 3 vezes mais qualquer prazer que a maioria das pessoas. Então, se quiser ter uma experiência que te tira um tanto os pés do chão, faça desse jeito. Um gole devagar, do jeito que você tem de fazer ao pegar a mão direita da moça com a sua esquerda para chamar para dançar. Vira devagarzinho, com malícia e inocência de um malandro. Com o golinho na boca, faça-o passear. E o ideal, eu vou te falar agora, não é nem mexê-lo com a língua. Ele não pode ser jogado de um lado para o outro com grosseria. Não. Você vai inclinar a cabeça devagar para um lado e para o outro, deixar ele correr pela boca como se a trilha sonora fosse um tango suave.
E aí, tudo lentamente como um despertar, você vai engolir, ao mesmo tempo em que abre os olhos. E nessa hora que você vai voltar ao mundo desperto, com uma nova visão do mesmo. A visão de uma vida alterada pela experimentação do vinho.
quinta-feira, 16 de julho de 2009
Estamos sempre na rua
Às vezes me impressiono lendo blogs de amigos.
terça-feira, 30 de junho de 2009
Palavras livres
Quando, às vezes, chego em casa mais cedo que meu sono (e muito depois da hora de jantar), tudo que ainda me guia é escrever.
quarta-feira, 24 de junho de 2009
Perguntas
segunda-feira, 25 de maio de 2009
Some never awaken - Anaïs Nin
Some never awaken.
“You live like this, sheltered, in a delicate world, and you believe you are living. Then you read a book… or you take a trip… and you discover that you are not living, that you are hibernating. The symptoms of hibernating are easily detectable: first, restlessness. The second symptom (when hibernating becomes dangerous and might degenerate into death): absence of pleasure. That is all. It appears like an innocuous illness. Monotony, boredom, death. Millions live like this (or die like this) without knowing it. They work in offices. They drive a car. They picnic with their families. They raise children. And then some shock treatment takes place: a person, a book, a song, and it awakens them and saves them from death. Some never awaken.”
-Anaïs Nin
sexta-feira, 22 de maio de 2009
Eu, a cópia
Hoje li uma frase boa. 'Todos nascemos originais. E morremos cópias'.
domingo, 10 de maio de 2009
Whatever Happened to Gus
Não sei se meu primeiro contato com essa música foi acordado ou não.
Sei que não parece ter sentido até você ouvir entendendo a letra. And then...
Sonhei outro dia que conversava com um gato, coisa que motivou uma decisão e uma mudança na minha vida. Acordei com essa música na cabeça.
Ainda não sei se lembro dessas músicas do sonho ou se a manhã seguinte é que faz parte deles.
"It had something to do with Max.
With Max and Bird, Billy Eckstein and Lester Young, back in the day. Them cats, coming out of
You see, it was like this. Yeah, there I was in the basement of this office building, down there around
Than his image kept changing, than he started looking like Billy Eckstein, than back to Lester, than Billy, than Lester, than Billy. And ran up to him and I said "
And I said to him, I said "Say man, who's got the key?", he looked at me and he said "Key, what key?". He said "Gus got the key." I said "Gus, Gus who?" He said, "Don't you know, Gus Johnson got the key."
And that's when I did my research, searched around the jazz scene through the history of the music. Inside out, outside in. Talked to one old timer way back when, and he said, "Yeah, don't you known Gus Johnson, he was a drummer, back out of
terça-feira, 31 de março de 2009
Eu agradeço a todos os Santos
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
O vazio entre dois livros
Como faz tempo que não escrevo por aqui, vou soltar as palavras devagar. Pra não me atropelar, não afobar. Escrever é que nem colocar meia quando a gente é criança: com pressa, enrola tudo e temos de começar de novo.
Bom, para começar, vou citar os dois livros que fizeram companhia para mim neste meio tempo que fiquei sem subir ao palco. Foram eles os ilustres “Grande Sertão: Veredas” e “Tao Te Ching”. Escritos por João Guimarães Rosa e Lao Tse, respectivamente. Duas obras primas. Dois livros e muito mais que mil vidas de sabedoria.
Eles falam, cada qual à sua maneira, do que é a vida quando você abre o foco. Quando a gente olha uma coisa de perto não vê o todo. Tem até aquela teoria que a gente não vê os rostos por completo. A gente vê todos os detalhes e depois monta dentro da cabeça o rosto da pessoa. Só que normalmente ninguém consegue fazer isso com a vida, com o mundo. Nos apegamos aos detalhes, o que foi uma semana, o que foi um dia, o que é um evento. É difícil olhar para tudo que nos acontece e ver mecanismos genéricos que se repetem ao longo de nossa vida. No máximo um “sempre me fodo quando namoro mulheres mais novas” ou “nunca consigo me dar bem em empregos formais demais”.
O Tao é uma religião. E mais. E não só. Este é um livro para se ler com tempo. Sem necessidade de entender cada página de prima. Pelo contrário, eu gosto de tomar bem 40 minutos para ler cada página. Você percebe que os conceitos que estão no Tao são reproduzidos em vários livros, incluindo a própria bíblia. Mas se cada livro é um tipo diferente de pão, como croissant, francês ou italiano, o Tao é a própria massa. Não tem o sabor ou a forma definidos. Só a substância. É algo difícil de explicar como deve ser difícil para você que lê agora entender. Mas um exemplo gostoso:
Una oito raios a um eixo e você terá uma roda.
A utilidade da roda está no vazio.
Monte com o barro uma panela.
A utilidade da panela está no vazio.
Assim, da existência nasce o valor.
Da não-existência, o vazio, nasce a utilidade.
Por isso aconselho você a tentar por si mesmo. Leia uma página qualquer do meio e veja como ele fala de um aspecto da vida sem ser específico demais. No fim das contas, você percebe que ele fala de sua vida, e nenhuma outra, ou todas as outras.
Lendo o Sertão, descobri muitos pedaços do Tao. Porque o Tao está presente em quase todas as histórias por um ponto de vista, e no Sertão ele explica muita coisa. O Sertão é sobre como os conceitos de bem e mal são só a primeira milha andada na viagem de auto-descobrimento. Exemplo: todos são bons e maus. Mas, não sendo ninguém 100% bom, então somos todos maus. Mas se todos somos maus, ninguém é mau, porque você só é algo quando existe um exemplo oposto. Então o que somos é o próprio Sertão, onde não existe o bom e o mau. E o Sertão, infinito, está dentro de nós. E por isso nossa busca na vida nunca termina. Fora isso, o livro é importantíssimo para você entender o que é a língua. João, o autor, falava 14 línguas. Escreveu um livro que todo mundo que fez cursinho conhece pela “complicação”. Mas o livro, eu entendi, revela os mecanismos da linguagem. Leia, mesmo sem entendê-lo a princípio. Você perceberá que usamos a nossa língua de uma maneira muito, muito limitada. Quase não a usamos na verdade. É um livro que me delicia ler. Descobrir os absurdos de sentidos possíveis com as palavras – e suas deturpações intencionais. Tem muito a ver com um dos meus posts anteriores (procura por aí no blog porque eu não manjo muito de ficar fazendo link) quando eu falava sobre ler català.
Foi por essas andanças, mundos sem fim de ideias e palavras, que me perdi. Nesses tempos. Não peço desculpas, estou é grato, encontrei mais de mim. E sei que as palavras podem ser vazias, essa é sua utilidade, então adorarei discutir-explicar melhor ao vivo.
Agora estou de volta, para varrer o chão dando a conta desta casa.
E, como sempre, as visitas são mais que bem-vindas.