quinta-feira, 11 de setembro de 2008

O sonho de mil gatos - parte 1: uma despedida


Tive de novo um sonho com gatos.
Eu já tive mais de 100 gatos na vida. De uma vez só, 32.

Sim, sei o nome de quase todos. Se visse qualquer um deles na minha frente agora, te diria o nome sem pensar duas vezes.

Eu fui criado com os gatos e isso, definitivamente, determinou o jeito como lido com as pessoas. Até o modo como faço carinho nas pessoas é como faço carinho em gatos.

O meu humor, as minhas patadas, a vontade de me isolar às vezes, o grude em outras.

E teve um que era muito do bem. Eu amava de verdade, percebo mais claramente hoje. O Ferdinando.
A mãe dele teve os filhotes (sempre 5 por vez, é algum tipo de metáfora dos gatos: sempre nascem 5) no quintal do vizinho e resolveu trazer pra casa. Pegava com a boca no cangotinho de cada um e vinha trazendo.

1, 2, 3, 4. Nisso o tempo fechou daquele jeito que acontece nas chuvas mais fortes.

Começou uma tempestade. Bíblica. Ela acaba que deixa um no meio do caminho. A gente percebeu, correu lá no quintal.

Tá lá o gato, com o nariz da cor do pêlo (branco).
Gelado. De verdade, gelado, mais que qualquer morto.

Pega o gato. Põe pano com água quente em volta. Tudo com aquele Pai Nosso silencioso que sempre embala a mente nessas situações. Esquenta, esquenta e, de repente, o que eu esperava: volta à vida.
"Esse aqui, que voltou da morte, vai chamar Ferdinando".

O Ferdi não miava. É engraçado, Deus gosta dessas figuras de linguagem. O Ferdi não miava, não ficaa bravo, nem muito contente. O gato voltou à vida, mas o coração sempre permaneceu com aquele gelado.

Ele cresceu, sossegado como só ele. Ao contrário dos outros machos, não ficava dias fora e voltava alquebrado como se vindo de um samba sem fim. O Ferdi gostava de estar lá em casa, não fazia questão dessas emoções.


Todo gato um dia se vai. Para a vida ou para algo depois disso.
E um dia o Ferdi foi. Não vi mais, mas eu sabia que não ía mais voltar.

E hoje sonhei com ele. O encontrei e a cara dele era aquela que nunca saiu da minha memória.
Só que... eu não sabia o nome dele. Olhei, conversei como quem encontra algum rosto conhecido e não liga o nome.

Acordei hoje, fiz mil coisas. De repente tô aqui no serviço, ligo o iTunes. Algo no fundo da cabeça me fala "Cartola".
Vou ouvindo e começa essa música.
E minha boca fala na hora a palavra que me faltava durante todo o dia: Ferdinando.

Deixe-me ir preciso andar,
Vou por aí a procurar,
Sorrir pra não chorar
Deixe-me ir preciso andar,
Vou por aí a procurar,
Sorrir pra não chorar

Quero assistir ao sol nascer,
Ver as águas dos rios correr,
Ouvir os pássaros cantar,
Eu quero nascer, quero viver

Deixe-me ir preciso andar,
Vou por aí a procurar,
Sorrir pra não chorar
Se alguém por mim perguntar,
Diga que eu só vou voltar
Depois que me encontrar

http://www.youtube.com/watch?v=WQZF0vjjNhc

Esta é a música que me vinha na cabeça quando imaginava o dia em que ele foi embora. E não só dele, essa é a música que para mim representa a despedida de todo gato.

Porque todo gato um dia se vai.

8 comentários:

Brun~ disse...

Inspirado!
Bela história, falou sobre humanos através do gato. Ainda preciso escrever a história da minha cachorra.
Animal Wolvie, meu post preferido, e olha que eu não gosto de Cartolagem.
Gde abrax.

Anônimo disse...

Não gosto de gatos. Sempre odiei na verdade. Sou uma pessoa totalmente cachorro. Mas depois de conhecer a Glorinha, gatinha do meu ex namorado me apaixonei por gatos. Mentira. Só gostava dela pq ela parecia um cachorro. Queria sempre estar perto da gente e quando não estava, era só chamar que ela vinha. Fim. Sinto falta dela. Não que ela tenha morrido, mas eu terminei o namoro. A vida é assim, cheia de vai e vem. Talvez só de vai. Mas...É a vida né?

Anônimo disse...

Boa noite. Ontem eu estava no msn com a Re(biscoito), e falei pra ela: "Me passa os nomes que vc quer que eu coloque na lista de sábado do studio sp." Foram uns 8 nomes, dos quais eu conhecia uns 5 ou 6...fiquei curiosa pra saber quem eram as pessoas que eu não conhecia e resolvi procurá-las no Google. O primeiro nome (e acabou sendo o último) que resolvi procurar foi Roberto Wolvie. Achei esse blog. Daí vi sua foto e pensei: "Ahhh, conheço! Que legal ele tem um blog!"...e li todos os posts que estavam na primeira página. As pessoas do meu trabalho falavam comigo e eu mal as ouvia (fiz isso enquanto trabalhava), e adorei...tanto que esqueci de procurar quem eram as outras pessoas desconhecidas da lista da balada. Eu nem ia te falar isso, mas agora no msn resolvi contar pra Re, toda essa história que acabei de escrever e ela: "Comenta lá, conta tudo isso pra ele!". E eu achei que seria interessante mesmo...por falar nisso, adoro gatos, pena eu morar em apartamento...

Rafa disse...

Sem viadagem, você se porta como um gato mesmo.

Eu queria ser o Roberto quando eu crescesse, mas eu não gosto muito de gatos.

Abraço, rapaz.

Fabio Ciccone disse...

Fudidasso esse texto, putamerda. Eu que tenho uma dessas em casa sei bem como é (claro, ao menos um trinta-e-dois-avos do que é, mais ainda assim...)

Enfim, passa bem a emoção, consegui visualizar sua cara exatamente na hora que você pronunciou o nome do gato, hehe.

Anônimo disse...

Ferdinando,eu me lembro dele.
Tinha uma carinha super do bem e um ar tranquilo que dava gosto de ficar olhando. Depois da temporada que eu passeia, na sua casa apreendi a compreender os gatos, Ferdinando,gostava de me fazer companhia nos meus momentos introspectivos e solos.
Saudades deste gato.

Anônimo disse...

O meu filhote não tem pra onde ir. Queria muito que ele tivesse uma casa como a
87 da sua mãe pra viver. Deu sorte de ser achado na rua. Azar de vir para apartamento. Talvez por isso seja tão parecido comigo.

Unknown disse...

Seu post me lembrou muito um que escrevi no meu blog ( http://migre.me/3ZPbL )e uau! Você teve mais gatos que eu! E como assim 32 de uma vez? Eu tive 8 e já achava muito. As pessoas que não gostam de gato, na verdade, não sabem o que estão perdendo, hehehe...