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Tive de novo um sonho com gatos.
Eu já tive mais de 100 gatos na vida. De uma vez só, 32.
Sim, sei o nome de quase todos. Se visse qualquer um deles na minha frente agora, te diria o nome sem pensar duas vezes.
Eu fui criado com os gatos e isso, definitivamente, determinou o jeito como lido com as pessoas. Até o modo como faço carinho nas pessoas é como faço carinho em gatos.
O meu humor, as minhas patadas, a vontade de me isolar às vezes, o grude em outras.
E teve um que era muito do bem. Eu amava de verdade, percebo mais claramente hoje. O Ferdinando.
A mãe dele teve os filhotes (sempre 5 por vez, é algum tipo de metáfora dos gatos: sempre nascem 5) no quintal do vizinho e resolveu trazer pra casa. Pegava com a boca no cangotinho de cada um e vinha trazendo.
1, 2, 3, 4. Nisso o tempo fechou daquele jeito que acontece nas chuvas mais fortes.
Começou uma tempestade. Bíblica. Ela acaba que deixa um no meio do caminho. A gente percebeu, correu lá no quintal.
Tá lá o gato, com o nariz da cor do pêlo (branco).
Gelado. De verdade, gelado, mais que qualquer morto.
Pega o gato. Põe pano com água quente em volta. Tudo com aquele Pai Nosso silencioso que sempre embala a mente nessas situações. Esquenta, esquenta e, de repente, o que eu esperava: volta à vida.
"Esse aqui, que voltou da morte, vai chamar Ferdinando".
O Ferdi não miava. É engraçado, Deus gosta dessas figuras de linguagem. O Ferdi não miava, não ficaa bravo, nem muito contente. O gato voltou à vida, mas o coração sempre permaneceu com aquele gelado.
Ele cresceu, sossegado como só ele. Ao contrário dos outros machos, não ficava dias fora e voltava alquebrado como se vindo de um samba sem fim. O Ferdi gostava de estar lá em casa, não fazia questão dessas emoções.
Todo gato um dia se vai. Para a vida ou para algo depois disso.
E um dia o Ferdi foi. Não vi mais, mas eu sabia que não ía mais voltar.
E hoje sonhei com ele. O encontrei e a cara dele era aquela que nunca saiu da minha memória.
Só que... eu não sabia o nome dele. Olhei, conversei como quem encontra algum rosto conhecido e não liga o nome.
Acordei hoje, fiz mil coisas. De repente tô aqui no serviço, ligo o iTunes. Algo no fundo da cabeça me fala "Cartola".
Vou ouvindo e começa essa música.
E minha boca fala na hora a palavra que me faltava durante todo o dia: Ferdinando.
Deixe-me ir preciso andar,
Vou por aí a procurar,
Sorrir pra não chorar
Deixe-me ir preciso andar,
Vou por aí a procurar,
Sorrir pra não chorar
Quero assistir ao sol nascer,
Ver as águas dos rios correr,
Ouvir os pássaros cantar,
Eu quero nascer, quero viver
Deixe-me ir preciso andar,
Vou por aí a procurar,
Sorrir pra não chorar
Se alguém por mim perguntar,
Diga que eu só vou voltar
Depois que me encontrar
http://www.youtube.com/watch?v=WQZF0vjjNhc
Esta é a música que me vinha na cabeça quando imaginava o dia em que ele foi embora. E não só dele, essa é a música que para mim representa a despedida de todo gato.
Porque todo gato um dia se vai.